SÉRIE: 4 DESCOBERTAS QUE MUDARAM MINHA VIDA

Ler testemunhos pessoais sobre a graça de Deus sempre foi algo que me impactou muito. Lembro-me com muito carinho de livros biográficos e autobiográficos que marcaram minha caminhada cristã. O que acho mais incrível sobre todas essas histórias não são simplesmente os feitos de homens e mulheres, mas os feitos de Deus. É maravilhoso poder ver que essas histórias não foram escritas por eles e, ao contrário do que muita gente pensa, eles não são os verdadeiros protagonistas. Deus é o autor e o personagem principal, abrindo cada ato, cada cena com Sua vontade soberana e amor gentil. E as lágrimas que muitas vezes rolaram do meu rosto enquanto eu lia essas histórias não eram simplesmente fruto de compaixão, ou de envolvimento pela narrativa, não. Deus estava me ensinando ali, me mostrando princípios de soberania, amor, perseverança, esperança, confiança, e acima de tudo, mostrando mais de Seu caráter infalível. Me fazendo amá-lo mais e confiar mais nEle. 

Bom, esse é o meu objetivo com essa série. Estou chegando aos 30 e olhando para trás consigo perceber que essa história, que aos olhos da eternidade é um piscar de olhos, tem sido escrita em detalhes pelo Deus Criador de todas as coisas. Espero que ao ler aquilo que vou compartilhar você possa ser encorajada também, a conhecer mais a Deus, amá-lo mais e confiar mais nEle. Boa leitura!

 

  • MINHA IDENTIDADE

 

PRECISO SER BOAZINHA

Deus me fez nascer em uma família religiosa. Quando bebê fui batizada e conforme cresci aprendi muito sobre a igreja católica. Sabia as rezas, o terço, as partes da missa, tudo. Achava muito interessante o padre e todo aquele ritual da missa e até uns 11 anos não perdia um domingo sequer. Mas acho engraçado hoje pensar como nunca entendi o sacrifício de Cristo. Eu via Jesus na cruz, pendurado na parede da igreja. Entendia que ele tinha sofrido muito, mas pra mim a lição que ficava era que todos nós tínhamos que sofrer também. Tínhamos que nos esforçar, para alcançar a boa vontade de Deus, tínhamos que dar o melhor para fazer o que agradaria a Deus e quem sabe, ir para o céu. Digo “quem sabe” porque lá realmente ninguém sabe quem vai e quem não vai. A única certeza que temos é que os “santos” estão lá. Então devíamos tentar ser como eles.

PRECISO APROVEITAR A VIDA

Essa falta de sentido em relação ao sacrifício de Cristo e essa visão de um Deus distante, como vocês podem imaginar, não me prendeu à igreja durante muito tempo. A adolescência foi chegando e eu fui percebendo que seguir bons exemplos e me esforçar para ser boa não satisfaria minha ânsia por viver a vida. Os “bonzinhos” não se divertiam, não aproveitavam a vida. E eu sabia que não queria desperdiçar minha juventude tentando agradar alguém que a essa altura eu nem sabia se estava se importando comigo. Decidi então que precisava viver com intensidade, aproveitar todas as experiências que eu pudesse e, principalmente, precisava encontrar alguém. Precisava de um romance, um garoto que se importasse comigo e com o qual eu pudesse encher meu coração. Foi mais ou menos nesse tempo que comecei a namorar pela primeira vez.

Namorar um garoto mais velho pareceu elevar meu status na escola e perante as outras meninas. Comecei a andar com as meninas mais “populares” da escola e comecei a confundir a ideia de maturidade e de ser adulta com “o quanto da sua sexualidade você já experimentou”. É interessante como isso normalmente acontece na adolescência. Maturidade não parece ser tomar boas decisões, pensar no futuro, ter responsabilidade ou até mesmo saber ouvir conselhos. Passamos a separar as pessoas. Primeiro, fazemos a separação entre “aqueles que já ficaram com alguém” e “aqueles que ainda estão na infância”. Depois, entre “aqueles que já namoram” e aqueles que “ainda não conseguiram atrair alguém”. Mais tarde vêm a perda da virgindade, depois as experiências mais diversas na cama e, para alguns, quando tudo isso perde o sentido, ainda avançam um pouco mais rumo a experiências com o mesmo sexo. Falávamos disso o tempo todo, eu e minhas amigas. Eu me sentia adulta agora, e tentava ao máximo me parecer adulta. Minhas roupas mudaram, agora eram saias curtas, blusas decotadas e justas, maquiagem pesada e salto. Eu não queria apenas me sentir adulta, eu tinha que parecer adulta. E eu só estava no começo da adolescência.

UMA LIBERDADE APRISIONADORA

Aos poucos a liberdade e maturidade que eu parecia estar desfrutando foram tomando um gosto amargo. Comecei a perceber que meu namorado me decepcionava com frequência, que eu não podia esperar dele tudo aquilo que eu queria. Comecei a desconfiar das minhas “amigas”, que muitas vezes falavam mal de mim por trás. Comecei a andar com uma menina bem promíscua, que alimentava uns dois ou três relacionamentos ao mesmo tempo, tinha relações sexuais com todos e gostava muito de bebidas alcoólicas. Foi durante esse tempo que Deus me fez enxergar meu próprio coração. A palavra de Deus fala “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos” (Jr 17:9-10). E eu fui me afundando nos enganos do meu coração até me deparar com a realidade.

Fiz uma viagem com essa menina, fomos para o litoral passar alguns dias nas férias. A família dela, diferente da minha, era completamente liberal e não tinha problema nenhum que passássemos os dias ou as noites fora. Conhecemos uns caras bem mais velhos na praia, e eles nos levaram para o apartamento deles para jogarmos um jogo chamado “sueca”. No jogo, cada carta que você tirava, tinha que pagar uma prenda. Beber um gole de vodca, beijar a pessoa ao lado (fosse homem ou mulher), tirar uma peça de roupa…e daí pra pior. Beijei outro cara (que não era meu namorado, ele nem estava lá) e fiz muitas outras coisas das quais me arrependi. Ao fim daquela noite, me senti mal, como se estivesse suja. Na verdade, eu já estava suja há muito tempo, mas só agora conseguia perceber.

O ALTO PREÇO DO PECADO

Voltar daquela viagem e tentar viver como se nada tivesse acontecido foi muito difícil. Decidi me afastar daquela amizade que não me fazia bem, mas ao mesmo tempo toda vez que via meu namorado me sentia culpada por tê-lo enganado. E eu estava tentando enganar a mim mesma, fingindo que eu não tinha feito nada. Meses se passaram e eu passei a me perguntar se algum dia eu me sentiria “limpa”. Me perguntava se ia conseguir levar esse namoro mais muito tempo, ou mesmo se ia viver aquela vida feliz e livre que eu tinha buscado no começo disso tudo. Nada parecia fazer sentido.

Foi assim que Deus chegou ao ponto que Ele queria comigo. Ele sabia que eu só entenderia a graça maravilhosa depois de ver a podridão do meu pecado. Ele sabia que eu só entenderia o tamanho do sacrifício se entendesse o tamanho da dívida que eu tinha com Ele. Ele fala em Sua palavra que “A lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas onde aumentou o pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor.” (Rm 5:20-21)

A SALVAÇÃO EM CRISTO

Minha escola, providencialmente, entrou em processo de falência e meus pais decidiram me mudar para uma escola menor. Nessa escola menor, tinha uma outra aluna nova, recém chegada dos Estados Unidos e filha de missionários. Ela começou a convidar eu e nossos outros amigos para irmos na casa dela. E lá tinha uma coisa incrível acontecendo: uma missão cristã protestante chamada Joy Brasil que trabalha com adolescentes estava pregando a palavra de Deus.

Claro que a essa altura eu não sabia o que eram “missionários”, nem o que era uma “missão cristã protestante”. Mas como a maioria dos adolescentes, eu estava em busca de algo diferente pra fazer, queria fazer novos amigos e estava bem curiosa para conhecer a cultura norte americana. E assim começaram os encontros semanais. Eram “festas”, mas só tinham jogos normais do tipo UNO, BLITZ, ou tênis de mesa (nada de sueca e nem bebidas rsrs). Tinha músicas e competições engraçadas, que envolviam coisas nojentas do tipo balas e farinha, mas sem promiscuidades. Todo mundo pulava e cantava junto, mas tinha também o momento em que a gente sentava e todo mundo ficava em silêncio por uns 20 minutos ouvindo alguma história incrível sobre Jesus. Um Jesus diferente daquele pregado na cruz que eu conheci na infância.

Um Jesus que acalmava a tempestade, e depois perguntavam: “Será que não seria Jesus que acalmaria a tempestade no seu coração?”. Um Jesus que tocava o leproso para curá-lo, e depois perguntavam: “Será que não é esse Jesus que vai tocar naquelas partes feias da sua vida, que você não deixa ninguém ver, e vai purificar você?”. Um Jesus que sempre tinha um tempo para ouvir as pessoas, que estava realmente interessado em mim, e que parecia bem vivo ainda hoje.

Foi no fim daquela temporada de encontros que participei do acampamento de férias. Lá, em cinco dias, eu finalmente entendi tudo. Entendi que o meu pecado era real, mas não era só eu que tinha pecado. Toda a humanidade também, incluindo a mulher que estava falando naquele dia. Entendi que esse pecado ofendia a Deus, e que tinha um preço muito maior do que eu imaginava “Pois o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23a). Morte espiritual, separação eterna de Deus. Era isso que eu iria desfrutar, e na verdade já estava desfrutando. Esse era o vazio que eu sempre senti e nunca soube como preencher. Essa era a peça que eu não sabia que estava faltando. 

E o resto do versículo dizia: “mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Gratuito. O preço era tão alto, mas estava sendo oferecido para mim DE GRAÇA! “Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1:12). Era só receber. Era só crer, ou seja, confiar que Deus estava garantindo a minha salvação eterna. Ele iria me limpar e cuidar de mim, assim como Oséias fez com a prostituta Gômer. Ele iria me receber em Seus braços, me dar um anel novo e roupas novas, assim como o pai fez com o filho pródigo. Ele me buscou, uma ovelha perdida no meio de tantas outras, assim como o bom pastor busca sua ovelha perdida. Ele estava me chamando para voltar. Dessa vez, sem merecimento, só graça e vida plena.

A VIDA NOVA EM CRISTO

É difícil descrever como meu coração mudou a partir daí. Mas posso dizer que comecei a entender beeem aos poucos a grandiosidade do Deus que tinha entregado sua própria vida no meu lugar (e ainda estou descobrindo, mais de 15 anos depois). Entendi mais sobre Sua santidade, e percebi que eu não tinha que ser perfeita por mim mesma, mas eu agora sim tinha liberdade em Cristo para ser refeita perfeita. Agora, pouco a pouco Ele estava me transformando em alguém digno pelo poder dEle. Pela salvação em Cristo, agora Ele colocava em mim o poder para obedecer e fazer a coisa certa “pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Fp 2:13). 

Começou com minha identidade, que passou de “inimiga de Deus”, ou “garota promíscua”, para “filha amada”. Depois, Ele me deu novas amizades, amizades verdadeiras que me ensinaram muito mais sobre amor do que eu jamais podia imaginar. Ele me deu uma discipuladora, que caminhava comigo semanalmente, me aconselhava, encorajava, orava comigo e ensinava a palavra de Deus. Fui aprendendo aos poucos como era maravilhoso viver dentro da família de Deus e eventualmente fui batizada em uma igreja protestante.

Mas não se engane. Minha vida não ficou livre de desafios. As coisas não se resolveram todas de uma vez, e na verdade eu estava só engatinhando, como um bebê que acabou de nascer. Cristo me fez nova criatura “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2 Co 5:17), mas agora muitas coisas ainda iam acontecer. Meu namoro ainda durou alguns meses, até que eu percebesse que não dava mais certo namorar um cara que não tinha nada a ver com meu Pai e decidisse terminar. Eu até tentei falar pra Ele sobre Jesus, mas infelizmente a jornada dEle ainda não tinha chegado ao ponto da minha. Foi sofrido pra mim, porque tinha entregado meu coração demais àquele garoto, mas decidi que dali em diante só queria um garoto se ele fosse filho do mesmo Pai que eu tinha.

Na família, eu fiquei tão animada com aquilo que eu tinha descoberto, que acabei incomodando algumas pessoas. Foi um tempo difícil, fui muito questionada e desacreditada “esse negócio vai passar”, muitos deles diziam. Outros faziam piadinhas e zombavam por eu estar indo à igreja e fazendo coisas “evangélicas”. Outros se entristeciam porque achavam que eu estava sendo enganada por algum tipo de seita. Mas foi interessante ver o tempo passando e a consistência com que Deus foi trabalhando neles. Muitas coisas mudaram nesses 15 anos e sei que algumas eu nem tenho dimensão total ainda. Mas vamos esperar Deus agir, afinal, Ele é o melhor autor de histórias e conhece os corações melhor do que ninguém.

Espero que a história de como Deus veio ao meu encontro tenha trazido esperança e seja benção na sua vida. Semana que vem vou compartilhar um pouco sobre a segunda descoberta que mudou minha vida, minha VOCAÇÃO. Até lá!