Por bastante tempo, eu era da seguinte opinião: “Se um dia, no futuro, o próprio Jesus Cristo virá à Terra para punir os maus e reinar sobre todos, para que eu vou me envolver com política agora? Se nesse dia Jesus restaurará todas as coisas, que tudo vá às favas agora.” Eu assumo. Às vezes, ainda penso nessas linhas em meus momentos de revolta. E não são poucos.

Por um lado, é um enorme consolo saber que (1) todo esse mal que nos assola e todos esses maus que o provocam serão finalmente derrotados e punidos justamente e que (2) essa responsabilidade não está sobre nossos ombros, mas sobre os ombros dAquele que é poderoso e justo mais que suficiente para fazê-lo. No tempo certo, que não nos cabe saber, Deus dará ordem para que os eventos finais da história humana comecem a desenrolar passo a passo rumo à instalação do Seu reino, e aguardamos esse dia ansiosamente.

Por outro lado, essa esperança deve nos motivar a tornar conhecidos os valores do reino, para que mais e mais pessoas queiram e passem a ser cidadãs dele. Afinal, Jesus não é desses reis humanos que conquistam a terra primeiro e exigem (ou compram) lealdade depois. Antes, Ele conquista corações e lealdade, oferecendo-lhes perdão e liberdade e paz que nenhum outro poder humano pode oferecer, enquanto aguardamos o dia em que Ele “conquistará” a terra.

O que precisamos entender, especialmente nestes dias, é que o reino de Deus não é obra nossa, embora sejamos operantes nele. Nós não o instauraremos por coisa nenhuma que façamos, da mesma forma em que não conquistamos a salvação por qualquer coisa que façamos.

Por isso, não podemos esperar que humano algum seja capaz ou tenha recurso algum para trazer o tipo de paz e prosperidade social que costumamos associar com o reino. Sabemos que o mundo jaz no Maligno (1Jo 5.19). Portanto, precisamos reconhecer que toda forma de liderança política, econômica, ou o que for vira alvo, às vezes até instrumento, do mal. (Este é um dos motivos pelos quais Deus ordena que oremos pelos governantes. Minha mãe sempre diz que se fizéssemos oração toda vez que quiséssemos reclamar ou fazer piada do governo, o país seria outro.)

Xi! Divaguei.

Deixe-me resumir de uma vez. Embora saibamos que um dia Jesus reinará sobre a terra, que os maus serão punidos e que um dia todos esses males que vemos serão apenas memórias da ação de Deus no mundo, não podemos nos esquivar de buscar e revelar uma realidade melhor para nós, para nossos irmãos em Cristo, por nossos filhos e nossos concidadãos. O reino de Deus está próximo porque Jesus pode voltar a qualquer momento (para resgatar Sua Igreja, executar juízo e estabelecer Seu reino milenar, dependendo da sua posição escatológica). Mas o reino também está próximo porque nós, cidadãos do reino, vivemos aqui e somos a vitrine daquilo que um dia será realidade na terra.

Tudo que nós fazemos, da faxina em casa à adoração na igreja ao trabalho e ao voto, deve revelar a realidade interna do nosso coração e a realidade que um dia vivenciaremos. Não podemos, em sã consciência, ficar na lateral esperando a situação ficar desesperadora pedindo para Jesus voltar. Devemos, sim, pedir que Jesus volte, mas não ficar sentados nas mãos como se não fosse nossa responsabilidade pregar e viver o evangelho em toda a esfera da vida.

(Eu divagaria de novo sobre a falácia das “esferas” da vida, mas basta uma vez por artigo, né?)

É hora de votar. Será o que Deus quiser. Cabe a nós buscar o que Deus quer e agir.

Por Tirzah Fernandes Pinto