Foi o filósofo alemão Emanuel Kant¹ quem disse que pessoas devem ser tratadas com um fim em si mesmas e não como meios para um fim. Qualquer atividade sexual que não envolva a total entrega de si mesmo e o receber total da outra pessoa divorcia o sexo da humanidade inerente dela. O único lugar onde isto acontece é no casamento. Satisfação mútua, dois solteiros concordantes, não é suficiente, o sexo deve estar conectado com amar, dar e receber, e cuidar dentro do mais alto nível de compromisso. Assim, Kant argumenta, “o casamento é a única expressão moral da sexualidade”. 

Qualquer outra expressão da sexualidade não valoriza a humanidade inerente da outra pessoa, tratando-a, ao invés disso como um objeto de satisfação pessoal. Como podemos ver, até mesmo os ímpios podem chegar a essa conclusão apenas por raciocínio lógico. Kant também afirma ser imoral o desfrutar de outra pessoa fora do contrato do casamento, seja em pensamento, ação, imaginação, etc. A nossa moral é derivada do próprio Deus, de modo que até os ímpios a reconhecem, mas temos acesso a toda a informação sobre a sexualidade de seu próprio Autor. Assim, há traços distintivos de sexualidade encontrados nas Escrituras, mais definidos do que aquilo que o homem, pela razão, pode conceber.

Sexualidade Cristã é ‘sexualidade sob o senhorio de Cristo Jesus’.

Nós somos seres sexuais. Adão e Eva eram seres sexuais antes do pecado, Deus os fez assim. Nosso dever não é negar nossa sexualidade, isto seria negar a boa criação de Deus, mas sim trazê-la para debaixo do senhorio de Cristo. Mas como fazemos isso? Como submetemos nossa sexualidade ao senhorio de Cristo? Porque Ele é Senhor da história, reconheçamos ou não sua soberania. O que preciso é responder à pergunta que Cristo fez a Pedro – “Quem você diz que eu sou?”.

Antes de reconhecemos a Cristo como Salvador, de O seguirmos quando Ele chama, estamos escravizados ao pecado. Paulo diz em Romanos 6:6,7:  “Pois sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não mais sejamos escravos do pecado; pois quem morreu, foi justificado do pecado.” E então prossegue com uma ordem: Da mesma forma, considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos.” (Romanos 6:11,12). Então há duas verdades funcionando juntas: éramos escravos do pecado, mas Cristo venceu o pecado por nós e nos permite, hoje, escolher não pecar. E nós, em obediência e em gratidão a seu sacrifício, devemos considerar-nos mortas para o pecado, não permitindo que o pecado domine nossos corpos. Assim, a vitória de Cristo sobre o pecado nos empodera para vencer o pecado. Falaremos mais sobre este empoderamento no final.

10 Definições Bíblicas sobre Sexualidade

Quais são as marcas específicas, então, desta sexualidade cristã? Há muitas mentiras ditas por aí sobre o que isso significa e, por isso, vamos nos debruçar apenas nas Escrituras para compreender o que ela, de fato, é.

  1. Sexo não é mal. No entanto, nossas próprias experiências de erro (seja nosso ou de outras pessoas contra nós) podem nos levar a pensar assim, mas Deus o criou belo e puro e deu a ele um propósito e um lugar protegido para ser desfrutado: o casamento (Gn 1.28, 2.24-25). Por vezes, nossa constante falha em vencer a tentação nos desencoraja e nos desespera de tal forma que começamos a dizer a Deus que o que Ele criou não é bom. Mas isto não é verdade. É o nosso pecado, e não Deus, que deturpa o propósito do sexo. O sexo não é mal. Deus também ordena que, dentro do casamento, o homem e a mulher não devem deixar de fazer sexo nunca, salvo por um curto período e para o propósito da oração, porque o corpo do marido é de sua esposa, e o corpo da esposa é de seu marido (I Coríntios 7.2-6) e eles devem fugir da tentação e não dar espaço para Satanás agir.
  2. O sexo no casamento entre um homem e uma mulher é a única atividade sexual abençoada por Deus (Mc 10.6). Esta afirmação cobre a maioria das verdades escriturais sobre sexualidade (1 Coríntios 6:9-11,18; 7:2; Gálatas 5:19). Deus criou Eva para Adão, ela lhe era idônea – sua correspondente em meio a toda a criação (Gn 2.18-24). Deus a fez para ser uma só carne com Adão, para se desfrutarem mutuamente e se multiplicar (Gn 1.27-30). (Você pode encontrar uma descrição mais detalhada deste tópico neste post.)
  3. O adultério é maligno.  “O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros.” (Hb 13.4Esta afirmação é tão óbvia que até os não cristãos concordam com ela. Nas Escrituras, Deus repetidamente usa a imagem do adultério para se referir ao modo como seu povo, Israel, o rejeitava ao adorar outros deuses (Jr 3). O adultério é a maior expressão de rejeição no casamento. O adultério diz ao cônjuge que ele não é suficiente. Ele é disruptivo e devastador para o relacionamento do casamento assim como a idolatria o é para nosso relacionamento com Deus.
  4. Sexo entre pessoas do mesmo gênero é pecado (Rm 1.18-28, I Co 6.9). A sexualidade expressa fora de um casamento heterossexual monogâmico se posiciona completamente fora da vontade perfeita de Deus. É, na verdade, uma rebelião ao plano criativo de Deus, ao seu propósito na criação. Mas é importante lembrar que esta não é a pior rebelião, mas uma das formas possíveis de rebelião. Deixe-me fazer um alerta aqui: não vou poder me debruçar sobre este tópico e há multo mais que devemos e podemos dizer sobre este aspecto além do fato de a expressão homossexual da sexualidade ser pecaminosa (Já falamos sobre isso aqui). Mas devemos tratar deste assunto inteligentemente e com humildade. Não podemos nos colocar na posição de Deus como juízes do pecado alheio de modo que em nosso orgulho e em falta de amor tornamo-nos pedras de tropeço. Sejamos cuidadosas.
  5. O adultério começa no coração. Jesus deixou claro no Sermão da Montanha que antes de o homem adulterar fisicamente ele olha cobiçosamente para outra mulher, adulterando no coração (Mt 5.27-30). O objetivo da sexualidade sadia não é uma obediência externa a regras, mas um coração conformado a verdadeira pureza bíblica, que flui da adoração a Deus. O padrão bíblico é de um coração puro que não deseja imoralidade sexual alguma.  Já falamos sobre isso aqui e aqui.
  6. O desejo é dominado por Cristo pelo Espírito através do domínio próprio. “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria.” (Colossenses 3:5). Força de vontade é suficiente para alcançar mudanças de comportamento. Mas apenas o Espírito de Deus pode transformar um coração avesso a Deus em um coração de adorador a Deus e levar uma pessoa a enaltecer a Cristo em sua sexualidade. Apenas força de vontade não pode levar uma pessoa a obedecer a Cristo, porque o objetivo da santificação não é mudança externa de comportamento, mas mudança interna de adoração. E se esta mudança externa é o seu único objetivo, então o Espírito de Deus não irá ajudá-lo nesta mudança. Esta é a marca distintiva da sexualidade cristã sadia.
  7. Moças solteiras devem tratar todos os rapazes como a irmãos. Paulo ensinou Timóteo a tratar as moças “como a irmãs, com toda a pureza.”(1 Timóteo 5:2). Podemos aplicar o mesmo princípio a nós, garotas. Pense no seu irmão (ou imagine um, caso você não tenha), você flerta com ele? Você se veste de modo revelador esperando que ele note o seu corpo? Você troca carícias com seu irmão? Você fala sensualmente com o seu irmão? Não? (Eu espero que não). Então é assim que você deve tratar cada rapaz que você conhece.  Você pode ler mais sobre isso neste post.
  8. Vista-se de acordo com suas convicções morais. (I Pe 3). Este conceito está um pouco relacionado ao ponto anterior. Muito tem sido escrito sobre este aspecto e nós já falamos sobre isso aqui. Meu objetivo não é apontar os dedos e ditar regras, mas encoraja-lá a pensar distintamente sobre isso. O mundo à nossa volta, especialmente a mídia, quer moldar a nossa mente a um padrão deturpado de beleza. Isso se aplica especialmente a nós, meninas, e ao modo de nós vestir e lidar com nosso corpo. Provérbios 4:26 pode lhe ajudar aqui. Você já definiu padrões claros sobre o seu modo de vestir? Se nosso padrão bíblico envolve tratar os rapazes como irmãos (e sermos tratadas por eles da mesma maneira), isto fica muito mais fácil se aquilo que Deus fez com o propósito de intoxicar o seu marido estiver coberto. Esta é a implicação de Provérbios 5:19: que o corpo da mulher é para ser desfrutado e pelo seu marido. E nenhum outro homem casado ou solteiro deve ter prazer nele. Novamente, meu objetivo aqui é fazer você pensar sobre isto, e não condená-la. Se isto te incomoda ou irrita, converse comigo, faça perguntas, mas não deixe de ponderar sobre este aspecto. 
  9. Não faça nem piadas sobre pecado sexual. “Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual nem de qualquer espécie de impureza nem de cobiça; pois estas coisas não são próprias para os santos. Não haja obscenidade nem conversas tolas nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas, ao invés disso, ação de graças.” (Efésios 5:2-4) Nós estamos acostumadas a isso. Às vezes acontece no trabalho, às vezes na escola, às vezes na nossa série de TV favorita, às vezes sai da nossa própria boca. E se queremos amar o que Deus ama e odiar o que Ele odeia, então não queremos fazer piada com pecado sexual porque Ele o odeia, pois é uma distorção de sua bela criação e rebelião contra seus propósitos perfeitos, ao ponto de Ele enviar seu Filho para fazer expiação por eles. E nós não queremos brincar com aquilo que entristece Seu coração. (Leia mais sobre isso aqui.)
  10. Desobediência ao padrão divino traz destruição e juízo. Esta última definição nós faz lembrar do resultado de transgredir a lei de Deus. Devemos seguir as orientações bíblicas amorosas do nosso Pai quanto à nossa sexualidade pois desobedecer a Ele é doloroso. Eis aqui alguns avisos bíblicos quanto a isso: Pv 6:27-29, Ap 21.8; Pv 5:6-7. Sejamos pessoas que não abusam da graça divina (Rm 6), mas vivem à luz de seu amor, que nos ensina as consequências do uso errado de Sua criação. (Falamos sobre como nos proteger disso aqui.)

Submetendo nossa Sexualidade ao Senhorio de Cristo

Sim, Deus é gracioso, misericordioso, perdoador. Mas nada disso diminui o seu padrão distintivo para nosso viver, incluindo nossa sexualidade. Jesus nos dá poder para viver uma sexualidade sadia. Fora dele nunca seremos capazes de viver de acordo com o padrão bíblico. É apenas em Cristo que encontramos poder para vencer a tentação e honrar a Deus com nossa sexualidade. Eles nos deixou quatro ferramentas pelas quais podemos crescer em santidade. A Bíblia nos fornece toda a orientação, correção e exortação necessária (II Tm 3.16-17). A oração é a ferramenta pela qual nos submetemos a Deus (Fp 4:4-7). O Espírito Santo é o nosso exortador interno (Jo 14.26, 16.7-11) . E por fim, a igreja, que é a comunidade criada por Deus para que tenhamos apoio nessa jornada de nos tornarmos maduras (I Co 12). Temos uma descrição mais detalhada destas quatro ferramentas aqui.

Em Hebreus 4.14-16 vemos que Cristo fez mais do que dar exemplo. Alguns podem argumentar que Jesus era tentado mas, por ser Deus, nunca pecaria. No entanto, mais do que dar o exemplo, Jesus Cristo nos oferece unidade com Ele. “Não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” (Gl 2.20) Então a vida de Cristo nos empodera para viver como ele viveu, não apenas para seguir seu exemplo. Por isso, podemos nos aproximar dele em tempos de necessidade: porque nossa vida está conjugada a dEle, podemos escolher obedecer ao invés de ceder a tentação. A mesma graça que recebemos no perdão de pecados está disponível para vencermos a tentação. 

Somos mais ensinados que a graça de Cristo nos perdoa do que a graça de Cristo nos empodera. Precisamos repensar nossa teologia da santificação para uma visão poderosa de resistência e não apenas uma visão bondosa de perdão de pecados. E viver a luz do padrão distintivo de santidade significa viver a luz dessa verdade.

Minha oração é que o Deus de toda a misericórdia traga clareza a vocês para não entenderem estas verdades como condenação, mas como um convite a que se submetam ao Senhorio de Cristo, e vivam uma vida de santidade dependente do Espírito e apoiada na comunidade cristã, de modo que vocês glorifiquem a Deus em todas as áreas da sua vida.

  1. Duties Toward the Body in Respect of Sexual Impulse [Deveres para com o Corpo em Relação ao Impulso Sexual]. Palestra de Immanuel Kant. Disponível em: http://everything2.com/title/Duties+towards+the+body+in+respect+of+sexual+impulse
  2. What is Cristian Sexuality? [O que é sexualidade cristã?] – Sermão de Braden Greer, Christian Sexuality Conference, Covenant Life Church, 2010.