Quantas horas por dia passamos no Instagram vendo a vida das pessoas e imaginando como tudo aquilo é extraordinário e incrível, e no mesmo instante olhamos para a nossa vida e percebemos o quanto ela é diferente daquilo que vemos.

 

Infelizmente, as mídias sociais cultivam em nós um sentimento de querer ter tudo extraordinário. Nós nos comparamos o tempo todo com aqueles que são mais afortunados, que esbanjam bons restaurantes e viagens incríveis, nos comparamos com aqueles que treinam sem parar e tem 4 filhos, ou até mesmo com aqueles que são mais inteligentes que nós. Simplesmente achamos a vida deles E.X.T.R.A.O.R.D.I.N.Á.R.I.A e ficamos encantados.

 

Diante dessa situação começamos a nos autossabotar, desejando ter uma vida que não nos pertence e ficamos insatisfeitas com tudo aquilo que possuímos. Achamos que o nosso emprego já não é tão legal assim, afinal, ele não oferece nada de novo quando começamos o dia. Pensamos nosso casamento sem graça, afinal, meu marido não me dá flores ou nutella toda semana. Concluimos que se não fizermos aquela viagem dos sonhos, com aquelas roupas da moda e com aquelas fotos incríveis, não será uma viagem extraordinária, pelo contrário, será mais uma viagem normal.

 

Desejar incansavelmente o extraordinário em todas as coisas pode criar um coração ingrato, invejoso e insatisfeitos. Essas são as características de alguém que tem buscado viver somente para os próprios prazeres ao invés de buscar agradar a Deus (Filipenses 2:21). Mas, por que desejar o extraordinário poderá desenvolver em esses sentimentos nós? 

 

Um coração ingrato

Ingratidão é não reconhecer aquilo que temos, é o sentimento de alguém ingrato. Muitas vezes esse sentimento de ingratidão aparece quando focamos somente naquilo que julgamos extraordinário. 

 

As redes sociais contribuem para que esse sentimento se desenvolva em nossos corações, afinal, todos querem mostrar somente o lado bom da vida e está tudo bem por isso. O problema é quando nós achamos que todas as pessoas vivem o extraordinário e nós não! Nós nos esquecemos que no dia a dia essas pessoas também vivem o comum, o normal e com esse esquecimento passamos a reclamar de tudo: trabalho, filhos, limpeza, não conseguimos parar para ver as bençãos que Deus nos dá diariamente.

 

Um coração invejoso

Ficar desejando compulsivamente a vida de outra pessoa não só revela em nós um coração ingrato, como revela em nós um coração invejoso. Em seu livro Pecados Intocáveis, Jerry Brides fala “Inveja é a percepção dolorosa, e muitas vezes cheia de ressentimento, de que alguém está usufruindo de algum privilégio.” [1]

 

Em Provérbios 14:30 lemos “O coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos”. Um coração invejoso tem o poder de destruir nossas vidas seja ela financeira, emocional ou até mesmo relacionamento entre amigos e família.

 

Um coração insatisfeito

Tem como estar satisfeito com um coração ingrato e invejoso? Impossível! A insatisfação nos impede de ver tantas bênçãos que recebemos diariamente do Senhor. Jerry Brides descreve “com o auxílio do Espírito Santo, deixemos de lado toda e qualquer atitude de insatisfação ilegítima e adotemos um comportamento positivo. Assim, seremos bons administradores das circunstâncias difíceis e decepcionantes que Deus tem nos permitido atravessar para que, de alguma forma, possamos glorificá-lo em todas as áreas da vida.” [2]

 

Será que nossa insatisfação quando comparamos nossa vida com outra pessoa é legítima?

 

Nosso coração se enche de sentimentos e emoções ruins quando ficamos viciados em beber da água das redes sociais. Algumas vezes, pude ver pessoas ao meu redor saindo e voltando das redes sociais e quando perguntei o porquê, a resposta sempre foi: “estava me fazendo mal!”, “me fazia sentir mal em relação ao meu corpo ou a minha vida!” ou então “sentia como se minha vida fosse muito normal, enquanto todos os que eu sigo esbanjam coisas boas”.

 

Será mesmo que o problema das próprias  pessoas ou das redes sociais?
Nosso coração é responsável por criar em nós o desejo compulsivo de ter uma vida extraordinária igual a famosos ou blogueiros. Nosso coração é cheio de engano.

 

E para combater esses sentimentos, precisamos reconhecer que, o que acontece longe das redes sociais é o que de fato importa para Deus. Nossa vida diária longe do alcance dos olhos de outras pessoas é o que revela de fato quem nós somos e onde está o nosso coração.

 

Que tal fazermos um exercício? Durante essa semana trocaremos a ingratidão, inveja e insatisfação pela gratidão, satisfação e louvor? A cada momento que percebermos que nosso coração está cheio de emoções que nos afastam de Deus, iremos orar por isso e anotar um motivo de gratidão. Quando reconhecermos que tudo o que possuímos, fazemos e vivemos é porque Ele permitiu, nós passamos a aproveitar cada momento da nossa vida e a encontrar satisfação em nossa vida normal. 

 

No dia a dia, quando tudo é normal é que podemos desfrutar de uma intimidade com Deus. Quando a festa de casamento espetacular acabar e a vida cheia de rotinas começar, teremos a oportunidade de desfrutar da presença do nosso marido e do silêncio de um dia cansativo. Ou quando ansiamos por aquele namorado que entregará flores em todas as datas comemorativas e na realidade ele esquece do dia do aniversário de namoro é que temos a chance de amá-lo como ele é, esquecido (e amar isso nele)!

 

A vida é cheia de momentos normais, o Instagram é cheio de momentos incríveis. Não se iluda cobrando de si mesma, do seu namorado ou do seu casamento momentos DIÁRIOS extraordinários somente para postar! Isso é fake! Faça do comum momentos inesquecíveis. Faça da rotina diária momentos de eternas lembranças.

 

E que possamos lembrar de aceitar a vida como ela é:

 “Aceitação significa que recebemos as circunstâncias das mãos de Deus, confiando que ele sabe de verdade o que é melhor para nós e que, em amor, ele planeja só o que é bom. Quando alcançamos esse estado de aceitação, estamos prontos a pedir que Deus use as circunstâncias difíceis para sua glória e honra. Passamos de vítimas a administradores. A pergunta será sempre: “Senhor, de que modo usarei minha deficiência (ou seja qual for a dificuldade) para servi-lo e glorificá-lo?”. [3]

 

Será que precisamos mesmo ter uma vida extraordinária para servir a Deus?

 

[1] Pecados Intocáveis – Jerry Brides – Pág 145

[2] Pecados Intocáveis – Jerry Brides – Pág. 75

[3] Pecados Intocáveis – Jerry Brides – Pág. 73