No início da minha vida cristã (não venho de um lar evangélico) sempre ouvia falar muito sobre batalha espiritual. Eu imaginava anjos e demônios lutando invisivelmente ao redor de nós, cruzando suas espadas celestiais e juntando forças para derrotar o mal. Enquanto orava pela batalha espiritual e imaginava as tropas de anjos e demônios, não entendia muito bem como eu mesma, agora filha de Deus, me envolvia nesse processo.

Após mais de 8 anos de convertida, finalmente parei para observar o texto de Paulo aos Coríntios durante uma pregação expositiva. O texto diz assim:

“Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo.” (2 Co 10:3-5)

Isso abriu minha mente para perceber algo precioso: a batalha espiritual está acontecendo em todo tempo, na minha mente e no meu coração. Claro que existem anjos e demônios batalhando (se duvida disso, leia Daniel 10 e veja o que o anjo fala sobre o motivo de ter demorado tanto para chegar até Daniel), mas eles não são nossa responsabilidade. A nossa batalha é outra, e Deus nos deu muitas armas para lutarmos e vencermos.

NOSSO INIMIGO

O que buscamos destruir na batalha espiritual que acontece dentro de nós? Buscamos destruir “fortalezas […] argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus”. Isso não significa que temos que passar o dia discutindo nas redes sociais contra o movimento abortista ou debatendo com ateus a existência de Deus. Pressupõe que dentro de nós, no mais  do nosso ser existem “fortalezas”, pensamentos enganosos que tomamos como verdade. São aqueles argumentos que usamos para nos convencer a fazer o que queremos fazer, mesmo sabendo que é errado. Existe uma certa soberba que desde o Éden diz, pretensiosamente que não precisamos de Deus, que podemos viver à parte dEle. Deixe-me dar um exemplo prático e corriqueiro.

Você acorda de manhã, ainda sonolenta porque foi dormir tarde no dia seguinte. Passa pela sala e olha pela sua Bíblia que está te esperando no sofá para aquele momento devocional com Deus que você tinha decidido ter todas as manhãs antes de começar as atividades do dia. Então começam os pensamentos “estou com muito sono para fazer devocional agora, se for ler a Bíblia assim é melhor nem ler”, então o Espírito dentro de você “mas se você não ler agora, vai se envolver nas atividades do dia e vai se esquecer depois, faça agora, vai ser melhor!”, e os argumentos vão se formando “mas tenho tanta coisa pra fazer! Já acordei um pouco atrasada, se parar 30min pra fazer devocional vou me atrasar toda”, e o Espírito “mas se não fizer vai passar o dia sem perceber o que Deus quer te ensinar e não vai ter um dia produtivo”, e você “mas teve vários dias que eu já fiquei sem fazer devocional e fui produtiva, Deus é gracioso, não preciso ter medo pois Ele é fiel mesmo quando eu não sou”, e aí você sabe que, ironicamente, essa conversa interna pode durar muito mais do que demoraria uma devocional (rs).

Bom, vamos pensar na relação que essa pequena situação (que é totalmente hipotética e nunca aconteceu comigo ou com você, rs) tem com o texto que mencionávamos antes. Existem dois pensamentos batalhando aqui, percebe? Um, é: “Tempo diário com Deus é necessário” e outro é “Tempo diário com Deus é perda de tempo e muito tedioso”. Claro que você não ousaria dizer em voz alta o segundo pensamento, porque sabe o quão absurdo é biblicamente falando. Mas, no fundo, é o que você pensa. É uma fortaleza dentro de você, algo que você acredita no seu íntimo e que precisa ser destruído. Mas antes de entendermos como vai ocorrer esse processo de destruição, deixe-me dar um outro exemplo.

Você está há muitos anos esperando a pessoa certa para namorar e casar e tudo mais. Seu aniversário se aproxima e você começa a conversa interna “mais um ano e nada…será que um dia vou encontrar alguém? E se eu não encontrar? E se eu virar a tia dos gatos? E se eu tiver que passar o resto da vida vendo todas as minhas amigas casando e tendo filhos e eu sozinha em uma casa e toda solitária e infeliz?”. Claro que nesse momento o Espírito responde algo como “não precisa se preocupar com isso, se for para você casar, Deus vai mandar o homem certo na hora certa”, mas os argumentos vão se formando “como não vou me preocupar? Se eu não fizer nada nunca vou casar mesmo. Preciso aparecer mais, chamar mais atenção, preciso conversar mais com os meninos, para que eles saibam que eu existo. Não posso ficar simplesmente esperando Deus agir, Ele não agiu até agora…” e começam as mil elucubrações sobre quem poderia ser seu marido. Novamente vemos aqui dois pensamentos em batalha: “Deus cuida de você e sabe tudo o que você precisa” ou “Deus não cuida de mim, preciso cuidar de mim mesma”. Você sabe discernir qual é o verdadeiro e qual é o falso?

NOSSAS ARMAS

Para nossa batalha, Deus nos deu armas. Não armas de brinquedo que soltam água quando apertamos o gatilho. Armas de verdade, armas poderosas. “As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas”. O que seriam as armas humanas? Bom, se vamos tratar, por exemplo da questão da espera pelo casamento, podemos pensar que as armas humanas são: começar a chamar atenção dos meninos, usar roupas mais sensuais, tentar arranjar alguém por conta própria, etc. Ou seja, mecanismos ou estratégias que você faz para resolver seu problema. Está ansiosa? Vai pedalar um pouco, para refrescar a mente. Está insegura? Olhe no espelho e afirme que você pode. E os psicólogos e coachs são especialistas nos passos para vencer.

Mas essas armas humanas são como um esguicho de água na cara de uma fera faminta. O máximo que fazem é ganhar alguns segundos de distração. São incapazes de derrotar o inimigo. As armas que temos, pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir as fortalezas. 

O que faz você pecar e se desesperar na solteirice, por exemplo, é justamente o pensamento “Deus não cuida de mim, preciso cuidar de mim mesma”. Esse pensamento leva a outros, por exemplo “É perda de tempo esperar, vou aceitar a primeira chance que tiver”, ou “Não existe um cara crente, vou ficar com esse mesmo que é descrente, porque ele é um bom rapaz e vai me tratar bem”. E assim você vai se afundando no pecado.

Mas o que Deus mandou você fazer em relação a isso? Consigo pensar em vários versículos nos quais o próprio Jesus nos orienta a pedirmos a Deus o que está em nosso coração (Mt 7:7, Lc 11:9, Jo 16:27) e confiar em Deus. Paulo também fala em Filipenses 4:6-7 para pedirmos e desfrutarmos de paz. Ou seja, peça e descanse! Mas o que fazemos? Não pedimos e, ao invés de esperar, tentamos resolver tudo, afinal “Deus não cuida de mim, preciso cuidar de mim mesma”.

Então, conheça as suas armas: a Palavra do próprio Deus na Bíblia e a oração! Pode soar um clichê pra você, mas, infelizmente, se soa clichê, é porque tem outra fortaleza dentro de você que diz que “Bíblia e oração não resolvem as coisas”, o que na Bíblia tem o nome de incredulidade. Se você não deixar essa raíz ser arrancada agora mesmo e essa fortaleza ser derrubada, vai perder a batalha espiritual.

NOSSA VITÓRIA

A vitória na batalha espiritual, então, vem quando “levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo”. Levar cativo significa tornar escravo, levar um pensamento a obedecer ao que Cristo fala. Isso não é natural, pois nosso natural é pecar. Isso é antinatural, é espiritual e só acontece pela ação do Espírito Santo. Em Efésios, Paulo descreve essa batalha usando outra metáfora, dessa vez com vestimentas. 

“Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.” Ef 4:22-24

Despir-se do velho homem, é justamente identificar os pensamentos falsos, as fortalezas que estão lá dentro de você, e decidir abandoná-las.

Renovar o modo de pensar, é estudar a Palavra de Deus para compreender qual pensamento deve substituir aquele antigo e mentiroso.

Revestir-se do novo homem, é aplicar esse pensamento na prática, vivendo pela fé, e não pela incredulidade. É crer e viver, obedecendo os padrões que Deus ensinou da boa vida cristã.

Por isso, minhas queridas, lutem! Lutem contra si mesmas, contra seu coração que ama o pecado e tudo que é mau neste mundo. Usem as armas de Deus, derrubem as fortalezas que estão no seu coração, leve-o cativo à obediência de Cristo e viva uma vida plena, com vitória na batalha espiritual!