Há dez meses eu dei um último abraço em minha mãe e meu pai, no saguão de embarque do aeroporto de Guarulhos, sabendo que o próximo seria apenas em vários meses. Que aventuras e aprendizados incríveis virão todo mundo sabe, mas como lidar com a saudade e com o simples fato de passar todos esses dias longe de pessoas que você mais ama no mundo inteiro?

Essas eram as perguntas que rodeavam a minha mente quanto estava indo para o aeroporto dia 5 de setembro de 2014, embarcando para o Instituto Bíblico Palavra da Vida na Hungria sem passagem de volta comprada. Decidir dedicar mais um ano de minha vida para aprender mais de Deus e me preparar para seja lá o que Ele está preparando para mim foi uma das decisões mais chocantes para mim. E, para a minha surpresa, meus pais me apoiaram em tudo, apesar da distância. Quando é da vontade de Deus não há o que questionar, temos apenas que confiar nEle.

As primeiras dores

No começo, tudo são flores, como sempre diz meu sábio pai. Ao chegar aqui conheci gente de mais de 15 países diferentes, com diversas línguas e culturas, e isso para mim foi fantástico! Conseguir me comunicar e entender as aulas foi um sentimento único de realização de vários anos de investimento. Viver em um dormitório daqueles que eu sempre vi em filmes com pessoas de três países diferentes é incrível. A sopa ruím do almoço e o pão com manteiga na janta nem me incomodava muito. Para quem nunca comia arroz e feijão nem em casa, pão era o paraíso. Até que…

O pão começou a parecer muito duro. A sopa, muito oleosa. Ouvir húngaro e inglês passou a ser cansativo. Não ter o Netflix no fim de semana pareceu horrível. Todos da minha família só podiam conversar quando estava indo dormir. Uma grande amiga se casou. Passei metade do meu aniversário perdida na cidade e outra metade rastelando. E o que eu daria por um açaí…

Tudo parecia conspirar contra mim, me dando vontade de largar tudo e sair correndo. Será que foi um erro me submeter a tudo isso e vir para cá? Será que eu realmente estava certa com relação à vontade de Deus? Valia a pena sentir tanta saudade dos meus pais para ficar aqui?

Mães, pais e irmãs do coração

Foi quando em minha Hora Silenciosa, li esse versículo:

“Respondeu Jesus: “Digo-lhes a verdade:Ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes mais já no tempo presente casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, e com eles perseguição; e na era futura, a vida eterna.” Marcos 10.29,30

Esse versículo me atingiu fortemente. Tinha vindo para cá porque queria me dedicar mais a Deus, não é? Sabia desde o começo que aquela era a vontade de Deus para mim. E o que estava fazendo com isso? Sendo ingrata!

Foi então que comecei a reparar tudo o que Deus estava providenciando para mim. Nada estava me faltando. Vi novos irmãos e irmãs que estavam me ajudando em tudo o que precisava, desde ir comigo ao médico até com um carinho simples como uma flor em um copo d’água e um bilhetinho. Durante minhas férias de dezembro, duas casas abriram as portas, me receberam e me fizeram sentir parte da família com todo amor de um pai e uma mãe.

Deus estava sendo tão bondoso para comigo, me mostrando o quanto se importa comigo e como não se esqueceu de mim, sempre colocando pessoas incríveis no meu caminho, e eu não estava enxergando isso. Devemos aprender a não ficar centradas em nós mesmas, mas sim, sermos gratas a Deus pelos pequenos detalhes que Ele coloca em nossa vida.

Estabelecendo meus objetivos

Quando percebi tudo isso, tive uma conversa séria com Deus, em que agradeci por me sustentar em todas as maneiras possíveis, e me ajudar a cumprir o plano dEle para mim. Se Deus em colocou nessa situação, é porque Ele vai me dar força suficiente para que eu consiga seguir em frente.

Decidi sempre me lembrar do motivo de eu estar aqui, e de quanto estava aprendendo e vivenciando. Decidi ser grata a Deus, mesmo quando o dia não estivava bom, e mesmo quando batia a saudade, pois era uma lembrança de que eu tinha uma família que me amava e apoiava em meus sonhos.

Com isso, percebi que a minha vontade de obedecer a Deus é maior do que qualquer outra coisa. E muitas vezes, para que isso aconteça, é necessário fazermos alguns sacrifícios.

Diminuindo a distância

Devo dizer que tecnologia é uma benção! SkypeFacetimeooVooWhatsApp e tantas outras ferramentas têm me ajudado a diminuir a distância e passar um tempo de qualidade com meus pais e amigos. Como dois devoradores de livro, eu e meu pai decidimos fazer uma tarde de Pai & Filha, em que ligamos o Skype e ficamos reorganizando meus livros nas estantes. Conseguimos conversar, brincar, e ter um tempo juntos como não tínhamos há um bom tempo.

Vivendo o hoje

Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus”. Efésios 5.15,16

Se Deus te deu a oportunidade de fazer um intercâmbio, viajar, ou até mesmo morar sozinha, aproveite ao máximo! Faça amigos, conheça lugares, procure igrejas por perto e participe dos eventos, tente comidas novas, aumente suas habilidades, conte as estrelas de noite!

A saudade vai sempre estar ali, mas se dermos abertura para ela, nossos dias serão tomados de nostalgia e tristeza, vamos viver no passado e quando menos percebemos, chegou a hora de ir embora. E o que você vai se lembrar desse período? Que passávamos o dia inteiro pensando em coisas que davam saudade? Aproveite o que está disponível para você hoje, pois em breve se tornará passado.

Portanto, não perca a oportunidade que está tendo hoje. Aproveite o dia de hoje, deixando as preocupações de amanhã para amanhã. E mesmo que, como eu tive, você tenha alguns poucos meses ou mais para diminuir 10271 km de distância, lembre-se de ser grata em tudo, pois você está exatamente onde Deus te colocou. E não há lugar melhor para estar do que dentro da vontade de Deus.

P.S.: E, finalmente, depois de todos esses meses de espera, o dia finalmente chegou: O dia em que eu agradeci a Deus por ter me ensinado tanto durante esse um ano enquanto eu dava o primeiro abraço em meus pais no saguão de desembarque do Aeroporto de Guarulhos.

Por Camila Rezende Bastos