Há pouco mais de um ano tenho experimentado a realidade da vida adulta – morar sozinha, trabalhar, pagar contas (e, para não ter dívidas, planejar o orçamento), planejar a semana, o ano e até os imprevistos! Ao contrário de todas as expectativas que criei durante a adolescência, a vida adulta é dura, pois expõe profundamente algo que o ser humano não gosta: a vulnerabilidade. Para nós, seres humanas e pecadoras, a vulnerabilidade é sinônimo de algo ruim, pois ela evidencia o quanto somos fracas, desprotegidas, indefesas, destrutíveis, magoáveis, etc. No entanto, no texto de hoje, quero compartilhar com vocês que existe beleza na vulnerabilidade. Para isso, mostrarei por meio da história de Davi fatores externos e internos a nós que comprovam nossa vulnerabilidade e, ao final, quero compartilhar que beleza é essa.

FATORES EXTERNOS

Nossa vulnerabilidade é evidenciada por situações externas a nós, como desemprego ou problemas no emprego, imprevistos (o famoso pneu furado, as visitas inesperadas, etc), doenças, brigas na família, confusão na igreja, discussões no trabalho, difamação entre os amigos, etc. Em todas essas situações podemos ver o quanto somos pequenas, frágeis e incapazes de controlar nossa vida, não é mesmo?

Davi também pode experimentar situações assim. O Salmo 13 nos mostra isso:

“Até quando, Senhor? Para sempre te esquecerás de mim? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando terei inquietações e tristeza no coração dia após dia? Até quando o meu inimigo triunfará sobre mim? Olha para mim e responde, Senhor meu Deus. Ilumina os meus olhos, do contrário dormirei o sono da morte; os meus inimigos dirão: “Eu o venci”, e os meus adversários festejarão o meu fracasso”. Salmo 13.1-4

Não sabemos ao certo o que estava acontecendo, mas, provavelmente, Davi estava fugindo de alguém para salvar sua própria vida e há grandes chances de este alguém ser o rei Saul. Como Charles R. Swindoll comentou:

“[…] ele [Davi] havia acabado de matar Golias de Gate. Os filisteus, portanto, tinham se tornado um inimigo derrotado de Israel, e Davi (embora ainda jovem) tornou-se o mais famoso herói da história na terra. Como resultado, o povo cantava em sua homenagem, o que, com o passar do tempo, provocou o ciúme do rei Saul. Como ele odiava a popularidade de Davi! Como resultado, Saul teve tamanho ataque de hostilidade que ficou obcecado por matar Davi […] A partir daquele momento, Davi tornou-se o objeto do plano diabólico de Saul. Embora inocente diante de Deus e leal ao rei Saul, Davi literalmente teve que correr para salvar a sua vida” [1].

Que situação! Em um momento homenageado pelo povo (1 Sm 18.7) e, em outro, um fugitivo. Mesmo sendo um homem de Deus, inocente e querido por seu povo, sua vulnerabilidade foi evidenciada por situações externas, que nem mesmo sua fama como grande guerreiro foi capaz de protegê-lo ou dar-lhe uma vida bem-sucedida, pelo contrário, foi por causa dela que Davi foi afligido.

FATORES INTERNOS

Além das evidências externas, existem as internas, que são aquelas que nem todo mundo consegue ver a não ser nós mesmos: nossos desejos e atos pecaminosos.
Na vida de Davi também vemos um momento que ilustra isso:

“Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me” Salmo 51.4

Ao contrário do Salmo 13, sabemos exatamente porque Davi disse o que disse no verso acima: ele adulterou com Bate-Seba e matou o marido dela, Urias. Após ser confrontado pelo profeta Natã, ele não só reconheceu seu pecado, como entendeu que o havia cometido contra o próprio Deus. Consigo imaginar os conflitos que se passaram no coração de Davi consequentes de seu pecado. Davi teve sua vulnerabilidade exposta por seu próprio pecado!

Nossa vida isso não é muito diferente, nossa vulnerabilidade é evidenciada pelos conflitos que se passam em nosso coração: a vontade de agradar nosso próprio ego versus o desejo de agradar a Deus. Essa tensão acontece todos os dias: Dormir mais um pouco ou cumprir as responsabilidades? Orar ou jogar tempo fora na internet? Falar a verdade ou mentir? Assumir o erro ou procurar algo/alguém/situação para transferir a culpa? Enfim… Somos frágeis porque o nosso coração é (Jr 17.9, Rm 3.23).

A BELEZA DA VULNERABILIDADE

Fatores externos e internos a nós evidenciam nossa vulnerabilidade, não é mesmo? Não há como mudar isso! No entanto, sabe o que Davi, nas duas situações acima, nos ensinou? Que tais evidências nos impulsionam para Deus!

No Salmo 13, Davi começa com “até quando?” e termina com: “Eu, porém, confio em teu amor; o meu coração exulta em tua salvação. Quero cantar ao Senhor pelo bem que me tem feito” (v. 5, 6). E no salmo 51, Davi reconhece seu pecado e pede perdão ao Senhor. Tanto no momento em que fugia de Saul quanto quando foi confrontado por seus pecados, Davi reconheceu para quem ele deveria correr, refugiando-se, descansando, humilhando-se, adorando…

Não é uma bênção? Nossa vulnerabilidade nos leva ao único capaz de garantir o que esse mundo não pode: salvação (At 4.12), transformação (Rm 8.28-29) e cuidado (Mt 6.25-34)!

Querida, quais situações externas tem interferido em sua vida neste exato momento? Algum problema financeiro? Algo no trabalho? Em sua saúde? Algum relacionamento rompido? E internamente? Com qual pecado você tem lutado?

Há alguns anos, após uma notícia ruim e em lágrimas com meu irmão ao telefone, ele me disse algo que tem feito toda a diferença em minha vida: “Marília, você está diante de uma belíssima oportunidade  de dobrar seus joelhos diante do Altíssimo e aprender a depender dEle. Abrace essa oportunidade!” O que ele me disse naquele dia, eu digo para você, mas em outras palavras: desfrute do privilégio que é ser vulnerável! Olhe para Deus e dependa dEle em todas as situações, sejam elas de origem externa ou interna!

A beleza da vulnerabilidade é a dependência de Deus! E pensando nisso, termino com as palavras de Paulo:

“Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte”. (2 Coríntios 12.9,10)

 


[1] Charles R. Swindoll em “Vivendo Salmos: Motivação para os Desafios da Vida Moderna”, pg. 49. Casa Publicadora das Assembleias de Deus.