Toda semana leio um novo artigo de algum site ou blog cristão sobre coisas que devemos fazer. Como perdoar, como amar, como servir, como não cair em tentação, como não guardar rancor, como (escolha seu verbo). Não estou dizendo que isso é errado, até porque escrevemos sobre como desenvolver nossa santidade de várias maneiras diferentes aqui no blog. 

Mas, de maneira geral, esses artigos são mais comuns nos blogs para mulheres. Já reparou? A mesma coisa acontece com os livros. Dê uma olhadinha na seção “mulher” de qualquer livraria. Minha preocupação é que estejamos aprendendo muito mais sobre como nos comportar do que sobre a motivação por trás de tudo isso, a razão do nosso modo de viver contracultural. 

“Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.” João 1:17

Me pego pela manhã, durante a minha devocional, enquanto leio um capítulo de algum livro das Escrituras, procurando aquele versículo com uma ordem explícita ou uma palavra de consolo ou encorajamento nítida, ao invés de focar nas verdades sobre quem Deus é ou sobre quem sou.

Já faz uns oito anos que parei de usar livros devocionais simplesmente por achar que pré-selecionavam textos (principalmente do Novo Testamento) fáceis de aplicar. Se você tem acompanhado nossas devocionais, vai ver que os últimos livros que estudamos foram Levíticos e Números, normalmente ausentes em devocionais, mas tão essenciais e preciosos em sua mensagem para nós. Pergunto então, a Verdade importa? 

“Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” João 17:17

Se a verdade importa, então nosso foco deveria ser aprender a verdade, estudá-la, discuti-la, compartilhá-la. A verdade sobre quem Deus é, o que Ele faz, o que Ele fez por nós, quem nós somos em Cristo. A verdade histórica sobre os judeus e como Deus orquestrou tão precisamente o tempo, lugar e espaço em que Jesus viria. Acima de tudo, Jesus, A Verdade. E então, crer.

Mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.” João 5:33

O apóstolo João usa a palavra verdade mais vezes do que qualquer outro autor do Novo Testamento. São 52 vezes, ou um terço, das aparições da palavra aletheia, ou verdade. Aletheia, no grego, significa não apenas a verdade falada, a verdade de ideia, mas também a realidade, a verdade na esfera moral, a verdade divina revelada ao homem; ou seja, a verdade em qualquer situação. Na cultura grega antiga, aletheia era sinônimo de realidade, o oposto de ilusão, ou seja, FATO. Repetidamente nas Escrituras vemos o termo “Em verdade, em verdade vos digo”, o que significa que as palavras que vem a seguir são um fato, são reais.

Jesus disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida.” (João 14.6). Se esta afirmação é verdadeira, aqueles que estão dispostos a encontrar a verdade, encontrarão a Cristo. Você já foi desafiada a encontrar a Verdade?

Um dos personagens do livro que estou lendo faz a seguinte afirmação sobre a verdade:

“Existe apenas uma razão para sermos cristãos – porque o Cristianismo é verdadeiro. Se ele for, a Verdade lhe compelirá a apegar-se a ela e seguir Jesus Cristo até o fim, em todos os aspectos da vida. Se, por outro lado, ele não for, nada mais sobre o Cristianismo importa.” (1)

Certas pessoas buscam a Deus porque precisam de conforto, consolo ou direção. Outras pessoas não sentem que precisam de Deus. No entanto, se Deus de fato existe, se Jesus é a verdade, nossa percepção de nossa necessidade dele não importa. Importa que Ele é a verdade e, sendo verdade, demanda nossa fé.

Uma das coisas que mais me incomoda no Cristianismo atual (especialmente no Brasil) é como as pessoas baseiam seu relacionamento com Deus em experiências ou revelações, ou até mesmo naquilo que obtém de Deus – respostas de oração, sensações de felicidade ou prazer. Ainda que estas coisas possam ser resultantes da fé, elas não têm força suficiente para ser a base dela. Se forem desafiadas por qualquer circunstância, cairão. 

Veja quantos adolescentes e jovens saem entusiasmados das noites da fogueira dos acampamentos e retiros ou das vigílias de oração da faculdade, mas alguns dias ou semanas depois estão atribulados com problemas na família, questões de identidade sexual, relacionamentos com o sexo oposto, filosofias e questionamentos na faculdade e acabam se deixando levar por seus sentimentos e sensações, da mesma maneira que foram na experiência anterior “com Deus”. A experiência não é suficiente para guiá-los por meio das trincheiras das batalhas diárias da vida.

Nossa jornada com Deus por essa vida não pode estar fundamentada em nada que não seja a Verdade. As nossas experiências e revelações importam na medida em que estão fundamentadas em nosso conhecimento de Deus, de Jesus Cristo, a Verdade. É por isto que dois jovens diferentes terão experiências semelhantes no tal culto da fogueira e um seguirá a vida profissional completamente inalterado, correndo atrás de realizações e sucesso financeiro, enquanto o outro abandonará todas as suas pretensões por amor a Jesus e transformará a vida de muitas pessoas ao empregar seus dons e talentos, em sua formação profissional, para viver por Jesus, arraigado a Verdade. 

Você deve lembrar que tudo começou com uma mentira. Uma mentira sutil, quase imperceptível. A serpente disse a Eva uma mentira fácil de perceber “Deus não mandou você não comer de qualquer árvore do jardim.” Oras, Eva sabia que não era verdade, “Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.” (Gn 3:2-3) Então a serpente responde “Certamente não morrereis.” Lá no Éden, Eva acreditou em uma mentira, e em seguida contou-a a seu marido, e isto levou à morte não apenas deles, mas de toda a raça humana, hoje presa ao pecado.

“Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira. Mas eu digo a verdade.” João 8:44

Em seu livro “Mentiras que as Mulheres Acreditam e a Verdade que as Liberta”, Nancy deMoss diz que “as ‘melhores’ mentiras são aquelas que mais se parecem com a Verdade.”(2) Por isso, creio que nós, moças cristãs, se não estivermos diariamente na Palavra, meditando na Verdade, teremos muito mais chances de sermos confundidas e acreditarmos nas mentiras de Satanás. Eva, que não tinha em si ainda as inclinações do pecado, caiu. Eu e você podemos cair também.

A verdade dói. Ela não é popular. Não dá dinheiro ou fama. Mas ela é transformadora. Sugiro o livro que acabei de mencionar como uma maneira maravilhosa de transformar seu modo de pensar sobre santificação. Não é sobre usar mais força de vontade, ter mais controle sobre si e assim evitar o pecado, mas sobre aprender a crer na Verdade, e permitir que ela transforme a sua vida. A santificação acontece quando estamos na verdade. (João 17:19).

“Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8:32

A ordem aqui é “permanecer na Palavra.” Foi assim que Jesus combateu as mentiras de Satanás em Mateus 4, e é assim que devemos fazê-lo diariamente. 

“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” João 4:23,24

Como adoraremos em verdade se não estamos encontrando a Verdade na Palavra e sendo libertas por ela? Volte-se para a Palavra de Deus, deleite-se na Palavra de Deus. Deixe que o Espírito da Verdade (João 15:26, 16:13) lhe guie enquanto você se deleita na Palavra, e que não sejamos as mulheres tolas de 2 TImóteo 3:6-7, que “estão sempre aprendendo, mas não conseguem nunca de chegar ao conhecimento da verdade.” 

 

  1. Michael Phillips. A Rose Remembered. Tyndale House Publishers, 1994, p. 136.
  2. Nancy Leigh DeMoss. Mentiras que as Mulheres Acreditam e a Verdade que as Liberta. Editora Vida Nova, 2013.