Quem nunca pensou que ser cristão é chato? Que só serve para ter alguém nos dizendo aquilo que devemos ou não fazer? Que nos faz entrar em uma bolha enquanto o mundo lá fora está curtindo a vida loucamente? Que não tem muita diferença, se comparado à vida dos outros, a única coisa é que somos mais “religiosos” e acreditamos em Jesus? Que o cristianismo é o padrão -—modelo, ideologia opressora — da nossa sociedade?

Com certeza, em algum momento da sua vida, alguma dessas frases passou por sua mente.

Pensar sobre isso me fez perceber muitas coisas, e uma delas foi que percebi que muitas vezes a nossa vida cristã não passa do cumprimento de uma rotina: domingos no culto, sábados em programação dos jovens, adolescentes e juniores, ou até as nossas devocionais diárias — feitas muitas vezes sem esmero nenhum, por um simples desencargo de consciência, só para falarmos aos nossos líderes que fizemos a devocional todos os dias. “Nossa! Que crente que sou!” Mas, pensando bem, ainda está melhor do que aqueles que não fazem ou se quer sabem o que isso significa!

E assim, nosso dia a dia muito se assemelha com o daqueles que não conhecem a Cristo, aquela que nos tira das trevas e nos leva para a maravilhosa luz (1 Jo 1), nem a verdade poderosa e salvadora que conhecemos. Então me pergunto: Qual o intuito e a relevância da vida cristã em meio aos muitos desafios contemporâneos?

Podemos encontrar a resposta em alguns privilégios da vida cristã que nos ficam obscurecidos diante dos desafios diários, privilégios estes nos afetam e demonstram o começo da plenitude da salvação aqui na terra e, portanto, devemos respingá-los no mundo.

  • Temos paz com Deus – não há mais inimizade entre nós e Deus. (Ef 2:14)
  • Temos vida eterna – nossa esperança não está apenas nesta vida. (2Co 4:8-9)
  • Somos libertas do pecado – hoje temos condição de lutar contra o pecado (Ef 1:7, Rm 3:24, Tt 2:14), por meio do sangue de Cristo (1Pe 1:18,19). Podemos ser diferentes e dizer não para o que o mundo propõe a nós como sinônimo de liberdade, alegria e independência, como por exemplo drogas, pornografia, o uso indevido do nosso corpo antes do casamento, promiscuidade, fofoca, maledicência, inveja e orgulho.
  • Temos um propósito – não vivemos uma vida sem sentido (1 Co 10:31). Nosso propósito é fazer com que a imagem de Deus nas coisas criadas, perdida com a Queda (a entrada do pecado no mundo), seja novamente restaurada através da confiança em Cristo e de uma vida ressignificada pela perspectiva dEle.
  • Temos a incomparável grandeza do seu poder para conosco – A mesma extraordinária força divina que ressuscitou a Cristo opera em nós cristãos e por meio de nós (Ef 1:19). Essa força nos capacita a viver uma vida centrada em Cristo enquanto a maioria vive a vida centrada em seu eu.
  • Não temos as aflições como um fim em si – Como foi dito pelo próprio Jesus, passaremos por aflições neste mundo caído, porém Ele é capaz de nos dar capacidade para passarmos por elas (2Co 4:17), dando-nos consolo, força, alegria, e o entendimento de que nossa vida não se resume no aqui e agora. Ele nos ajuda a saber que nosso tempo aqui e todas as coisas que passamos não fogem da sustentação e cuidado de Deus, mas que, infelizmente, por estarmos em mundo contaminado pelo pecado em todos os âmbitos (espiritual, físico, emocional, a natureza, etc), muitas vezes esse mal pode de alguma forma nos atingir, mas nunca nos vencer quando compreendemos qual é o prêmio.
  • Temos verdadeira alegria e satisfação – nossa alegria não está em nossos bens ou em tantas outras coisas que buscamos, mas é uma satisfação nEle que só o Senhor pode nos dar (Ec 12:9-14; 1Tm 6:8). Essa satisfação em Cristo é suficiente, enquanto a felicidade ou alegria mundana nos torna prisioneiros, pois nunca será o bastante, sempre estaremos sedentos por algo mais.
  • Temos dons para servir no corpo de Cristo – não vivemos a vida de forma egocêntrica, mas de forma cristocêntrica e outrocêntrica (Ef 4)
  • Somos coparticipantes das heranças divinas – antes estávamos condenadas e afastadas dEle, porém agora somos herdeiras do céu (Ef 1:18, 3:6)
  • Somos justificadas, Cristo levou sobre si a nossa culpa e por isso somos justificados diante de Deus. Não por nós, mas pelo sacrifício de Cristo (Rm 5:9). Por isso as boas obras são apenas consequência de uma vida entregue a Cristo e não a causa da salvação.
  • Temos acesso ao Pai – podemos nos relacionar com Deus a qualquer momento, não precisamos de outras pessoas para sermos ouvidas por Deus (Ef 2:18, 3:12). Não somos apenas criaturas, nos tornamos filhas de Deus e a partir disso temos livre e total acesso a Ele, portanto podemos confiar que temos nosso Deus a quem colocamos toda nossa alegria, necessidade, arrependimento, medo, etc.
  • Temos uma igreja – por mais que não precisemos de outros para sermos ouvidas pelo Senhor, Ele nos deu o grande privilégio de viver em comunidade e ser abençoados uns pelos outros, crescendo juntos para a edificação desse corpo que está firmado em Cristo Jesus – nossa grande Família (Gl 6:2)
  • Temos tudo para vida e para a piedade – o Senhor nos deu tudo para vivermos a vida e vivermos da forma certa (2Pe1:3) – tendo uma perspectiva e uma vivência correta sobre trabalho, igreja, satisfação, felicidade, quem eu sou, quem é o meu próximo, família, casamento, educação de filhos, estudos. Tudo isso converge para a restauração da perfeita criação de Deus que foi manchada pelo pecado.

CONCLUSÃO

Precisamos entender e perceber o quão maravilhoso é fazer parte do grupo dos chamados “cristãos”, aqueles que, assim como você, entendem que o cristianismo abrange toda a nossa vida; que o Cristianismo não é apenas um padrão ou um modelo a ser seguido, mas o novo significado de nossas vidas.

Tal consciência irá tirar dos nossos pensamentos as falsas ideias de que não há contentamento na vida cristã. E, assim, usufruiremos daquilo que a salvação em Cristo nos agracia HOJE. Este é o nosso grande privilégio.

Não deixe que a vida cristã medíocre, a grande culpada, nos faça deixar de viver a vida que maravilhosamente temos em Cristo e de fazer a diferença em um mundo decaído, em todas as suas esferas.

“(…) Na verdade, dar-lhe-ei a mim mesmo: o que é meu se tornará seu.” C.S. Lewis em “Cristianismo puro e Simples”