Abriu os olhos. Mais um dia estava prestes a começar e ela estava entusiasmada com os seus afazeres. Era sábado e ela precisou levantar mais cedo, “infelizmente” pensou ela. Vagarosamente se levantou, espreguiçou-se e andou em direção ao banheiro. Lavou seu rosto e escovou os dentes. A luz a estava incomodando. Seguiu até o guarda-roupa, pegou uma muda de roupa e olhou-se no espelho, mas não ficou feliz. Pensou que seu corpo poderia estar mais em forma e modelado, além de ter um nariz mais afinado. Idealizou em sua mente como seria com o corpo perfeito e respirou fundo. Precisava voltar a realidade.

Pegou sua bolsa e saiu de casa pensando nas novas roupas que iria comprar. Havia juntado por alguns meses para comprar uma nova calça e outras peças básicas. Saiu de casa de carro, sentia-se liberta quando o guiava sozinha. Bem que poderia ter tirado a carteira de habilitação mais cedo, demorou demais. Seguiu pelas avenidas em direção ao centro. Era cedo, mas o sol estava brilhando forte e o calor a incomodou. Da perspectiva dela o carro podia ter ar condicionado. Se não fosse o horário, nunca conseguiria uma vaga onde o estacionou. Se bem que achou que a vaga encontrava-se muito distante da loja em que iria.

Caminhou olhando para os pés, balançando a chave nas mãos e entrou na loja. Deu uma olhadela geral nela e montou looks em sua mente das peças que lhe chamaram a atenção. Sem saber qual peça buscava primeiro, caminhou até as araras de calças jeans. Por que será que os modelos modernos e bonitos do seu tamanho sempre se esgotavam? Escolheu outros modelos, camisetas e os experimentou. As horas passaram como os segundos. Ela trocou várias vezes de roupa até encontrar a melhor com o melhor preço. E todas as vezes que passou pelo provador quis brigar com a balança, seu corpo não estava como gostaria. Embora estivesse muito empolgada com as novas roupas que estava comprando, estava triste porque queria comprar outras, que também eram essenciais, aquelas que ficaram maravilhosas em seus looks imaginários, mas não tinha dinheiro. Nesses momentos, ela sempre sonhava com um sorteio no banco que quadriplicasse sua conta. Saiu da loja com o estômago roncando e os pés doendo de tanto andar procurando roupas.

Não muito longe da calçada havia um restaurante. Seguiu em sua direção e entrou no estabelecimento. Sentiu sua face queimando e desejou que o dono do local instalasse um ar condicionado. Aproximou-se da bancada com alimentos, escolheu uma maionese, tomates, um peito de frango e alguns pedaços de queijo. Quando ia sentar-se, encontrou uma colega de trabalho almoçando sozinha e resolveu fazer-lhe companhia. Pediu um suco natural de laranja ao garçom que rodeava as mesas próximas a dela. O bate papo se deu em torno de algumas pessoas da faculdade e de algumas matérias. As duas estudavam jornalismo e tinham algumas opiniões em comum, mas ela preferia ter encontrado com sua melhor amiga, gostaria de conversar sobre algo mais pessoal, como sobre seu futuro namorado. Estava bom, mas podia estar melhor. Depois de comer, despediu-se da colega e foi ao caixa pagar a conta. Ficou chocada com o valor da refeição, e o estabelecimento nem tinha ar condicionado! Pagou um pouco inconformada e andou até o carro.

Nele, ligou o som, estava ouvindo um dos cd’s que fizeram sucesso no ano passado, precisava comprar uns mais modernos. Logo, fez uma lista em sua mente dos cd’s. Quando conseguisse, iria comprar os primeiros. Andou pelas avenidas, naquele calor do verão, desejando algo bem gelado. Chegou em sua casa, entrou e foi direto até a cozinha, abriu a geladeira e encontrou um suco artificial de uva, mas não era o suficiente. Abriu o freezer e estava vazio. Bem que achava que naquela casa deveria ter um sorvete. Acabou tomando o suco, mas desejando o sorvete. Pegou a sacola de compras e guardou as novas peças. Em sua mente, já pegou algumas antigas, que usava até comprar as novas e colocou dentro de uma sacola de doação. Essas já não ficavam mais tão bem nela. Seu guarda roupas ficou meio vazio de novo, depois que tirou suas peças antigas e ela logo teve a ideia de juntar mais dinheiro para comprar novas roupas. Escovou seus dentes olhando para seu reflexo no espelho. A pontinha de seu nariz a incomodava muito.

Saiu do banheiro e foi tirar um cochilo no quarto. Pareceram cinco minutos, mas já havia passado trinta e o despertador tocou. “Ai se eu pudesse dormir a tarde toda!”, pensou ela. Mas precisava pesquisar sobre o tema de um artigo que iria entregar segunda-feira. Ela bem que achava que os professores deviam dar menos leituras e aumentar o prazo dos trabalhos, não conseguia passar mais nem um dia sem estudar. Pegou seu notebook e começou a pesquisa. Passou a tarde coletando dados e brigando com seu computador. Por que ele estava tão lento? Comprar um novo não seria nada mau. Escreveu alguns parágrafos e quando seu corpo já estava ficando meio dolorido e sua mente confusa, decidiu sair para correr. Trocou de roupa, comeu uma banana, se aqueceu e foi correr.

Gostaria que sua casa fosse próxima a um lago para poder admirar a paisagem, pena que não era. Correu em volta da pracinha mesmo e depois voltou para casa. Tomou banho, comeu e assistiu o noticiário. Quando ia voltar a escrever, lembrou de que durante aquele dia, não havia conversado com Deus. Relutante, pegou sua Bíblia, seu livro de devocionais e sentou-se em sua cama. O versículo chave da devocional lhe chamou a atenção e rapidamente começou a ler o texto de reflexão.

Sentiu-se envergonhada e constrangida. Deus era muito bom com ela e ela não estava feliz. Havia conseguido pagar antecipadamente todas as mensalidades da faculdade, ganhou todos os livros dos quais precisava. Tinha uma saúde ótima. Seu corpo era bonito. Tinha uma família estruturada. Possuía roupas suficientes em seu armário. Mas ela nunca percebia isso. Pediu perdão a Deus e gastou um bom tempo orando. De uma coisa ela podia ficar insatisfeita: seu relacionamento com Deus era bom, mas podia estar melhor. Sua podridão interior a fez lembrar daquela placa com um smile escrito “Sorria você está sendo filmado”. Ela precisava sentir prazer e ter alegria com o que possuía. Precisava sorrir, não porque havia uma câmera a filmando, mas porque haviam pessoas para quem servia de testemunho e um Deus que deve ser glorificado. Ela entendeu bem que mesmo se tivesse tudo o que quisesse ainda não acharia suficiente. Somente Deus pode satisfazê-la e aqueles versículos ficaram gravados em sua memória: “Alegrem-se sempre. Orem continuamente. Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.” 1 Ts 5.16-18. Durante o tempo em que orava foi deitando na cama. Refletiu um bom tempo sobre sua insatisfação. Olhou para o teto do quarto e percebeu como estava cansada. Pensou em várias maneiras de se agir com satisfação e ficou determinada a mudar, no dia seguinte agiria diferente. E naquela noite, pronta para acordar diferente, com uma nova perspectiva, ela fechou os olhos.