Se você fosse premiada hoje com uma quantia de um milhão de reais, o que faria com esse dinheiro? É engraçado que, por mais hipotética que seja essa situação, sempre temos uma resposta para dar a essa pergunta! Quais são seus sonhos de consumo? Qual é a motivação que lhe faz estudar para ter uma carreira profissional satisfatória? Ou, se você já ingressou no mercado de trabalho, o que a motiva a trabalhar e passar mais tempo fora do que dentro de casa? Por que razão você juntaria dinheiro? Ou, ainda, quanto dinheiro seria necessário para realizar todos os seus sonhos? Responda sinceramente a essas perguntas…

Sobre esse assunto, é muito interessante refletir sobre algo que Nelson Rockefeller disse. Ele foi governador do estado de Nova York, vice-presidente dos EUA e membro de uma das famílias mais ricas do mundo. Todo esse currículo lhe permitiu ter uma percepção interessante quando lhe perguntaram quanto dinheiro seria necessário para fazer alguém feliz – “só um pouco mais”, ele respondeu. Em outras palavras, o homem bilionário estava dizendo que não importa quanto dinheiro se tenha, sempre haverá o desejo de ter mais.

Essa resposta icônica descreve a alma humana. Parece que, se depender do nosso coração, nós sempre desejaremos ter mais: mais um par de sapatos, mais uma roupa, um celular mais moderno, um carro melhor, uma casa maior, uma viagem a mais… Sempre um pouquinho mais – isso, na verdade, é simplesmente uma triste expressão do nosso coração descontente.

Essa insatisfação alastrada na humanidade se manifesta de várias formas. Outra que podemos citar é o “Efeito Pugliese”, fenômeno social filho do nosso tempo. É a frustração decorrente da saga das postagens em redes sociais, nas quais apenas é exposto o que é bonito e desejável – na verdade, invejável: corpo perfeito, namoro perfeito, cenários perfeitos, vidas perfeitas. Imagens que levam as pessoas a julgarem suas próprias vidas como chatas, entediantes, cansativas e depressivas. Estereótipos que aprisionam e condicionam as pessoas a buscar uma vida perfeita, que, na verdade, não existe.

O resultado é insatisfação, frustração, descontentamento. Um coração submerso nessas emoções é uma fábrica de ídolos e não descansa no controle soberano de Deus. Os ídolos não são apenas estátuas de madeira e porcelana, mas também tudo o que deste mundo escolhemos como o objeto de nossa felicidade: dinheiro, casamento, vida profissional, corpo perfeito, viagens, atenção e afeto de alguém… Ambições que, por si só, não são erradas, mas quando são transformadas em donas da nossa alegria, tornam-se profundamente pecaminosas e escravizadoras. Muitas vezes, só percebemos o quanto construímos ídolos quando chega a frustração por não conseguirmos alcançar o que planejamos.

Não é errado sonhar, planejar, guardar dinheiro, desejar relacionamentos e investir neles, desde que essas coisas não consumam nosso coração e não se tornem nosso objetivo de vida. As coisas que não acontecerem conforme você planejou ou de acordo com sua expectativa, não podem ser frustrações que a derrubam. Quando nos decepcionamos ou ficamos insatisfeitas, estamos dizendo a Deus que o nosso plano era melhor que o dEle, e que a vontade dEle para nós não é boa o suficiente.

Mas graças ao nosso Deus, que não nos abandona à deriva de nossos pecados. Sua Palavra tem a resposta de que precisamos quando encontramos em nós um coração descontente. O texto de Hebreus 13.5 nos ensina que devemos nos contentar com o que temos, pois o Senhor conhece a inclinação natural da nossa carne por sempre querer “só um pouco mais” do que não podemos ou não nos cabe ter. Já a primeira carta de Timóteo 6.6-8 traz a certeza de que grande riqueza é a devoção a Deus acompanhada pelo contentamento. Será que, como esse mesmo trecho menciona, seríamos satisfeitas só em ter o que comer ou vestir? Infelizmente, deixando de lado toda a “imagem de crente” que tantas vezes assumimos, creio que a resposta a esse questionamento é não.

O Evangelho torna as coisas tão simples; é o pecado em nós que atrapalha tudo. O Evangelho ensina: “tem que perdoar, perdoe”; “tem que se humilhar, humilhe-se”; “tem que estar satisfeito, esteja”. E a nossa resposta é sempre: “não posso perdoar, olha o que ele fez”; “não posso me humilhar, o que vão pensar de mim?”; “não posso estar satisfeita só com isso, preciso de mais”… Não é fácil! Jesus conheceu a fraqueza humana, se compadeceu dela e prometeu que, na dependência delE, poderíamos vencer. Mas é simples; nós é que complicamos.

Felizmente, a Graça nos “descomplica”, ensinando o caminho prático a ser trilhado na busca por contentamento. Por isso, a partir daqui veremos cinco maneiras pelas quais podemos buscar a satisfação em Deus com base em Filipenses 4.11-13.

“Alegro-me grandemente no Senhor, porque finalmente vocês renovaram o seu interesse por mim. De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para demonstrá-lo. Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece.”

  1. Confiar no cuidado de Deus

“Alegro-me grandemente no Senhor”

Paulo estava falando de uma situação corriqueira, mas sua alegria estava no Senhor. Essa é a primeira perspectiva que nos falta quando nos abatemos por nossas circunstâncias aqui, e a primeira que deve ser retomada quando estamos desejosas de retornar aos braços do Pai. Nossa satisfação está nEle, e em mais ninguém; nEle, e não em qualquer circunstância ou bem material. C.S. Lewis dá um bom conselho: “Não deixe que sua alegria dependa de nada que você possa perder”. Tudo neste mundo passará, tudo será perdido, menos nossa comunhão com Deus, da qual desfrutaremos por toda a eternidade.

  1. Superar as circunstâncias

“Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância”

O apóstolo está compartilhando com seus irmãos de Filipos que já passou por situações de pobreza e riqueza, de sofrimento e alegria, de açoites e banquetes, mas aprendeu a adaptar-se a todas elas. É preciso, pela capacitação divina, focar no propósito de nossa existência aqui, que é glorificar ao Senhor, mesmo em meio à dor, enquanto somos moldados por Ele para a eternidade.

  1. Estar satisfeita com pouco

“Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação”

A palavra segredo traz a ideia de algo que estava escondido e foi trazido à tona. Talvez para muitos ainda esteja encoberto e, por isso, tantos estão tateando em meio às suas vidas frustradas. Mas, aqui, Paulo está compartilhando com seus leitores a riqueza de seu aprendizado. Um coração satisfeito em Deus submete-se à Sua vontade em temor e reverência, e deixa-se tomar por gratidão – não murmuração.  Toda insatisfação é contra Deus; é a criatura voltando-se contra o seu Criador – expressão disso são as reclamações do dia a dia. O contentamento anda de mãos dadas com a gratidão, pois um coração grato não dá espaço para murmurações e reivindicações insensatas.

  1. Estar disposta a ser sustentada por Deus

“Tudo posso naquele que me fortalece”

Esse verso é tão precioso, mas muito mal aplicado por aí. A ideia profunda que ele revela é que em Cristo podemos suportar todas as circunstâncias: fome, dor, doença, desemprego, luto, pobreza… Esse é o segredo que o apóstolo está contando para nós. Na dependência de Cristo e na capacitação que Ele provê, podemos estar satisfeitas em qualquer situação! A alegria de estar em Cristo e ser fortalecida nEle para enfrentar as adversidades desse mundo, não tem preço!

  1. Preocupar-se com os outros

Se você vive para si mesma, nunca estará contente. Muitos deixam de experimentar o contentamento porque desejam que seu mundo seja exatamente do jeito que querem. Desejamos que tudo se encaixe exatamente no lugar que determinamos. No capítulo um, Paulo orou para que os filipenses tivessem uma perspectiva diferente. Ele começou essa epístola com uma oração para que o amor deles uns pelos outros fosse abundante (Fp 1.9); e prosseguiu dando este prático conselho: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Fp 2.3). Ele desejou que, em vez de viverem centrados em si mesmos, os filipenses se preocupassem com o bem-estar dos outros. Quando deixamos de olhar apenas para nosso mundo, nossas necessidades, nossos direitos, conquistamos uma visão mais sensata da vida aqui, e descobrimos, na comunhão com irmãos, um grande auxílio para uma atitude de contentamento.

Para terminar, gostaria de compartilhar um breve testemunho pessoal. Eu sempre quis morar fora, muito mesmo. Mas percebi que esse desejo começou a consumir de tal forma meu coração que passei a sentir muita raiva do Brasil, da corrupção, dos preços altos, dos impostos altos, da falta de estrutura social… E todos os tantos problemas que bem conhecemos. Eu comecei a idolatrar a vida lá fora e ficar amargurada e insatisfeita com a vida aqui. Estava traçando meu próprio plano, almejando o conforto da vida de lá e olhando apenas para meu umbigo, sem me preocupar com as pessoas com quem me relacionava. Até que fui constrangida a confessar esse pecado e entregar esse desejo a Deus. Como já mencionei antes, o desejo em si não era pecaminoso, mas estava me consumindo de tal forma que me levava a pecar. Aprendi a orar pelo meu país, a amá-lo e a ser grata por Deus ter me permitido nascer aqui. Ele nunca perdeu o controle e aprouve ao Criador, em Sua infinita sabedoria, colocar-me aqui. Se vou morar fora, eu não sei, quem sabe um dia. Mas entrego esse sonho ao Senhor de maneira leve, na certeza de que ainda que ele jamais se concretize, estarei satisfeita em Sua vontade para mim.

Não é errado sonhar, planejar, viajar, comprar, guardar dinheiro… Mas essas coisas não podem consumir nosso coração, não podem se tornar ansiedades ou o nosso objetivo de vida. Vivemos por algo maior. Nossa salvação em Cristo deve ser o maior motivo do nosso contentamento. E pela Graça, ainda recebemos dEle tudo de que de fato necessitamos para a vida aqui – nem sempre isso significa tudo o que queremos. Sonhe, planeje, viva, mas entregue todos os seus dias a Deus, a ponto de que, se as coisas não acontecerem conforme você planejou ou de acordo com sua expectativa, sua oração possa ser: Deus, ajuda-me a compreender a Tua vontade perfeita para mim e estar satisfeita com ela, quebrando todos os ídolos que meu coração possa construir; e que a Tua salvação seja a alegria que me consome todos os dias.

Que o Senhor nos guarde de corações insatisfeitos. Amém!