Quando você brinca de “adedanha”, ou “stop” para as paulistas, na coluna “minha sogra é” qual tipo de característica você costuma pensar? Boa ou ruim? Ou já tentou pesquisar no Google como lidar com a sogra? As sugestões que o site de busca oferece são sempre negativas.

Cresci vendo minha mãe viver um relacionamento difícil com a minha avó, sogra dela. Por isso, incontáveis vezes ela me aconselhou a orar pelo relacionamento que teria com a minha futura sogra. Como eu não sou boba nem nada, guardei no coração o conselho de minha sábia mãe e orei muitas vezes pelo relacionamento que um dia eu viveria. 

E você, querida leitora, conhece alguém que tenha um relacionamento difícil com a sogra? Já ouviu alguma história trágica/cômica a respeito? Ou você mesma vive pisando em ovos sem saber o que fazer?

A Psicologia provavelmente explica o porquê desse relacionamento ser costumeiramente tão complicado. Esse, contudo, não é objetivo deste simples artigo. Ao invés de tentar entender todos os cenários e justificá-los, vamos olhar para nós mesmas como noras (ou noras em potencial) e entender como podemos fazer diferente.

Possivelmente, quando você pensa em nora/sogra e olha para o que as Escrituras dizem, você pensa em Rute e Noemi. E quem foram elas? O que fizeram de tão extraordinário para nos serem referência hoje?

Em brevíssimo resumo, Noemi era casada com Elimeleque e tinha dois filhos, Malom e Quilom. Quando a terra de Belém de Judá passou a ter fome, Elimeleque levou sua família para morar em Moabe. Lá, seus dois filhos se casaram com moabitas, Rute e Orfa. Em Moabe, Noemi fica viúva e sem filhos ou netos. Quando Noemi decide retornar para sua terra natal, despede-se de duas noras, que também haviam ficado viúvas. Para sua surpresa, Rute decide acompanhá-la e fazer do Deus de Noemi o seu Deus. Entre as dificuldades que enfrentaram como viúvas, as duas desenvolveram uma relação de cuidado e honra.

O livro descreve uma história redentora e de graça sobre a vida de uma gentia, apontando para a maravilhosa obra de redenção na Cruz. Para a nossa conversa de hoje, vamos focar num simples e maravilhoso vislumbre da história, a relação de Rute e Noemi. Considerando o contexto da época, a viuvez implicava na ausência de proteção física e financeira. Rute decide honrar Noemi, mesmo após o falecimento de seu marido, e seguir com a sogra para Belém de Judá.

Gary Chapman¹ descreve honra como demonstração de respeito, tratar os outros com gentileza e dignidade. As Escrituras descrevem que Rute serviu Noemi, não só a acompanhou de volta a uma terra na qual ela seria estrangeira, abandonando a terra de seus pais, como também trabalhou e providenciou comida para Noemi, honrando-a. 

A mudança de paradigma de um relacionamento começa com a honra. E como podemos tratar com reverência nossas sogras, ou família em geral, no contexto que estamos inseridas? Como podemos tratá-las com gentileza e dignidade? 

Chapman tem algumas dicas preciosas sobre desenvolver o relacionamento com os “in-laws” no livro “Como lidar com a sogra: E sogros, cunhados, genros e noras” (já pega a dica de leitura). Uma das sugestões sábias que o autor aconselha é “ouvir antes de falar”. Gostamos muito de falar sobre nós mesmas, nossos próprios interesses e preocupações. Mas, qual foi a última vez que você emprestou seu tempo a ouvir atentamente o outro? Quanto a ouvir me refiro a realmente se importar e prestar atenção com cuidado e não simplesmente escutar sem se interessar.

“O propósito de ouvir é descobrir o que se passa na mente e no coração das pessoas. Se entendermos o motivo que leva as pessoas a fazer o que fazem, nossas reações poderão ser mais adequadas. (…) Trata-se de um princípio psicológico fundamental: não podemos ler o pensamento dos outros. Observamos como eles se comportam, mas não sabemos o que os motiva a agir daquele modo, a não ser quando temos a oportunidade de ouvir o que têm a dizer.”²

A consequência da sugestão de Chapman é entendermos melhor o que eventualmente estaria por trás dos comportamentos, produzindo empatia em nós mesmas. O objetivo de aprender a ouvir é melhorar o relacionamento, compreendendo melhor o outro, demonstrando interesse genuíno nas intenções do outro. Evidente que um relacionamento depende do comprometimento de mais de uma pessoa. Contudo, temos ingerência apenas sobre nós mesmas. 

Investir de forma intencional, ouvindo com atenção e simplesmente amando são formas de honrar a sua sogra. O objetivo último é glorificar ao Senhor com nossos relacionamentos e fazer Cristo conhecido através deles.

Assim como a minha mãe teve dificuldades com a minha avó, a minha sogra viveu um relacionamento difícil com a sogra dela, avó do meu marido. As mulheres da minha família viveram histórias ruins de relacionamentos com as sogras. Esse ciclo poderia se repetir, mas decidimos todas viver de modo diferente. Quando me casei, mudei de estado. Deixei toda a minha família e fui viver perto da família do meu marido. Minha sogra me recebeu como filha e temos vivido e desenvolvido uma relação de amizade e honra, ainda que imperfeita.

Eu sei que relacionamentos não são como fórmulas matemáticas, nas quais os resultados são previsíveis e certos. Mas te encorajo, querida leitora, a viver um caminho mais excelente de amor, honra, gentileza e dignidade ainda que as circunstâncias sejam adversas ou que as respostas demorem a chegar ou eventualmente nunca cheguem efetivamente.

Escrito por Ana Luise Sabatier

 

 ¹ ² – CHAPMAN, Gary. Como lidar com a sogra: E sogro, cunhados, genros, noras… São Paulo: Mundo Cristão, 2012 (E-Book)