Se você é cristã já ouviu falar de missões em algum momento, talvez participado de conferências, quem sabe têm amigos ou parentes que são missionários ou ainda já pensou em ser uma missionária. Eu por exemplo, desde os meus 12 anos de idade decidi que trilharia esse caminho de missões, dentro do que minha cosmovisão me permitia entender por ser missionária. Por muitos anos tinha em mente que ser missionária era abandonar meu meio de convívio e viver em um local afastado falando de Jesus, basicamente em outra língua, com roupas diferentes, totalmente outra cultura. O que será que a bíblia fala disso?

Engraçado que essa palavra missões é um conceito extraído dos princípios bíblicos, mas não uma palavra exata de um texto bíblico específico. Um dos textos que é muito usado para missões é o de Mateus 28.18-20, também conhecido como a Grande Comissão, já escutou esse termo antes né? Possivelmente você até saiba de cor essa passagem:

“Então, Jesus aproximou-se deles e disse: ‘Foi me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo que ordenei a vocês. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.’”  

Pensa só no cenário que esse trecho se encaixa, Jesus já tinha convivido por volta de 3 anos com os discípulos, ensinando a verdade de Deus, Ele morreu, ressuscitou, e estava em Seu último discurso. Jesus já tinha operado vários milagres e demonstrado seu poder divino. Ele começa lembrando os discípulos no versículo 18 que Ele tinha TODA autoridade, porque mesmo depois de tudo o que havia acontecido existiam discípulos que duvidavam (v.17). Pode ser que você esteja questionando: como alguém pode duvidar de Jesus, depois de ver Ele agindo? Posso dizer a verdade? Fazemos o mesmo várias vezes, quando duvidamos do agir dEle em grandes milagres, como a salvação de algumas pessoas que achamos impossíveis, ou ainda em pequenos detalhes, quando reclamamos do tempo, calor ou frio. Mas por que Jesus queria afirmar sua autoridade? 

Imagine comigo, você tem duas ordens para seguir que demandaria esforço, uma vinda de uma pessoa que você nem sabe quem é, que você acabou de encontrar na rua, a outra é de um juiz federal, através de uma intimação. Qual das duas você cumpriria sem questionar? Óbvio que a do juiz, porque você sabe que ele tem um poder que pode afetar o seu dia a dia. Por isso, Jesus demonstrou a força dEle, quem Ele é, já que logo depois viria uma intimação, uma ordem, para que fosse cumprida. Qualquer um que recebe uma ordem de alguém com poder, presta a atenção.

No próximo versículo (v.19) começa a confusão e para sanar as dúvidas precisamos saber que os verbos imperativos (ordens) estão todos ligados e a construção gramatical original obriga tal relação, não são comandos independentes, ou seja, é um só processo , faça discípulo, batizar e ensinar. Quando Jesus disse vão, Ele não fez uma nota de rodapé estabelecendo que só seria válida a grande ordem se for para outro continente, nem que necessariamente deveria ser algo transcultural, lembre-se que a continuação dessa passagem, descrita pelo evangelista Lucas em Atos 1.8, mostra que o início do testemunho dos discípulos deveria acontecer inicialmente na sua própria região (Jerusalém). Ou seja, o fato de Jesus ordenar que o discípulo vá, não tem a ver com algo geográfico ou sociopolítico, mas uma intencionalidade na ação principal do processo, fazer discípulos. 

O que é fazer discípulos, já que é o principal desse processo? É fazer um aprendiz, um aluno, alguém que está adquirindo conhecimento e tem práticas para ser experimentado. Isso é bem maior que entregar folhetos ou fazer um evangelismo de praça e de porta em porta! Óbvio que creio que Deus utiliza tais meios para a salvação, glória a Ele por isso! Contudo, não cumpriremos o nosso papel como discípulo se só entregarmos o Evangelho e saímos andando. Você seria capaz de pegar um recém-nascido e abandonar no mercado? Mesmo lá tendo tudo o que necessita para viver, ainda assim ele precisa de alguém para o conduzir ao crescimento. É isso, não basta entregar uma bíblia e indicar uma igreja legal que não extorque seus membros, é sua responsabilidade auxiliar esse bebê na fé. 

Acompanhar esse processo é ver frutos, e o batismo deve ser um deles (v.19 –  batizar), pois como sabemos essa é a demonstração pública dessa fé crida, isto é, um compromisso com o corpo de Cristo diante da sociedade. 

Por fim, Cristo encerra o método que está passando, pois Ele explica que como um aprendiz, a nova criatura deve ser ensinada, mas não só de forma cognitiva e sim com obediência, na prática (v. 20). A base desse ensino é a Palavra de Deus, a Verdade de Cristo, as ordenanças dEle. Para isso aconteça deve haver o estudo constante e profundo da bíblia, assim a prática pode acontecer.

E sabe o que garante que esse processo dê certo? É que Jesus disse que Ele estará com a gente para desempenhar tudo isso! Eu sou discípula e faço discípulos, não porque sou boa, na verdade eu entendo que quem mandou eu fazer é poderoso para me capacitar e Ele disse que acompanhará o ciclo todo até o fim!

Então quando você ouvir de missões em conferências, ou nas campanhas na sua igreja, mesmo não sendo seu sonho ser missionária, isso tem TOTALMENTE A VER COM VOCÊ, se você se diz discípula. Missões é discipular TODAS AS NAÇÕES, ser intencional (vá), fazer discípulos, que se comprometam (batizar) e que estudam a palavra de Deus (ensinar). Pode ser aí na sua rua, bairro, escola, faculdade, trabalho e em campos transculturais, não espere um chamado mais especial do que esse que Jesus já fez, haja para glória dEle.  Descubra a beleza do discipulado, isso é missões e tem a ver com você!

“Todo cristão ou é um missionário ou é um impostor.” C.H. Spurgeon