Você já conheceu algum casal que durante todo o período de namoro e noivado decidiu não se beijar, nem fazer qualquer outro tipo de contato físico relacionado à sexualidade? Se não, talvez possa achar que é algo totalmente bizarro e até mesmo impossível. Eu pensava assim.

Desde que me converti, aos 13 anos, embora já tivesse “ficado” com alguns meninos e até tido uma experiência de “namoro”, decidi que iria esperar o cara certo para casar e até lá ia ficar de boa, sem me preocupar com isso. Essa fase durou até uns 20, quando tive meu primeiro namorado cristão. Era um cara envolvido em ministérios na igreja e bem próximo. Nós seguimos o caminho ensinado: oramos por um tempo, conversamos com líderes e pais e passamos por todo o processo. Aparentemente, tinha tudo para ser um namoro santo que levasse ao casamento. Nós dois tínhamos consciência que o relacionamento sexual era algo para o casamento e nos comprometemos em esperar por ele. Mas, vamos ser sinceras, entre o beijo e o relacionamento sexual existem muito mais que cinquenta tons de cinza. Além disso, nossa perspectiva sobre o namoro envolvia muito romance e sentimentalismo e movidos por isso acabamos nos envolvendo fisicamente mais do que eu gostaria. Ou melhor, na hora eu gostava, mas depois vinha a culpa, o medo, e o pior de tudo: o ciúme. Comecei a perceber que quanto mais eu cedia na área física, mais sentia que ele era “meu” e, assim, o pecado dentro de mim era despertado e tomava conta do meu coração a cada dia. Com alguns meses já vivíamos muitas brigas e discussões e não demorou nem um ano para que esse relacionamento chegasse ao fim.

Foi depois disso que eu comecei a pensar sobre como nós mesmos tínhamos armado essa cilada, no momento em que nos entregamos ao nosso coração. Entenda, e por favor não me interprete mal: não estou dizendo que é pecado se sentir atraída ou ter sentimentos românticos, mas sim se entregar a tudo isso antes do tempo. O texto de Cantares de Salomão repete por três vezes o conselho: “Mulheres de Jerusalém, eu as faço jurar: Não despertem nem incomodem o amor enquanto ele não o quiser.” (2:7, 3:5, 8:4). Comecei a pensar que talvez tudo teria sido mais fácil se não tivéssemos entrado nesse ringue tão cedo, mas também não sabia muito bem como seria namorar sem se envolver fisicamente. Era possível? Era normal? Eu estava só me entregando ao medo novamente? Ou estava me tornando legalista, inventando regras onde Deus não colocou?

Depois de algum tempo, conheci o meu marido, na época um seminarista recém formado que trabalhava como missionário na universidade. Depois de um tempo sendo amigos, ele manifestou o interesse por mim e iniciamos o mesmo processo: oração, aconselhamento com líderes, conversa com pais, etc. Para minha surpresa, quase no fim do processo, sentamos para conversar e ele propôs namorar “corte”. E sabe qual foi minha reação? Eu ri da cara dele!! Pensei que ele estivesse brincando e só percebi que era sério depois de alguns minutos constrangedores. Ele se entristeceu e só então eu percebi que era sério. Que situação!

A princípio mil coisas passaram pela minha cabeça: Por que será que ele quer namorar corte? Será que tem algum problema e não consegue se controlar? Vício em pornografia? Ou será que nunca tinha beijado e estava com medo? Mas isso não fazia sentido! Depois, pensei outras coisas: será que ele não se sente atraído por mim e quer esconder isso com um ar de santidade? E, se eu topar namorar corte, será que vou me arrepender depois de casar? Como vou saber se eu e ele temos “química”? Além disso, eu estava louca para beijá-lo, não queria esperar por mais dois anos até que pudéssemos casar! Foi aí que me lembrei do namoro passado, e daquele sentimento que fiquei de ter errado na dose. Decidi ao menos considerar e procurar entende-lo melhor.

Então, começamos a conversar seriamente sobre o assunto e ler alguns livros também. E vou tentar explicar aqui um pouco do que eu entendi sobre o que não é e o que é o namoro corte.

Namoro corte não é coisa do outro mundo! 

Talvez seja um pouco “coisa do passado”, mas a verdade é que muitas pessoas (não estou falando só da minha bisavó, mas também de casamentos na Bíblia) casaram com pessoas que nunca haviam beijado antes e incrivelmente, deu tudo certo! (rs) Quer dizer, o argumento que diz que você tem que “experimentar” antes de casar é o mesmo que diz que você tem que ter sexo antes do casamento para ver se “dá certo”. Mas o nosso Deus não trabalha com sexo-amostra grátis, ele trabalha com promessa e fé. Você crê na promessa de que o sexo vai ser bom e, pela fé, se casa. Só depois você desfruta dele. Por que a mesma coisa não poderia valer para o beijo e o restante do pacote?

Namoro corte não é uma lista de regras.

Quando estamos tentando agradar a Deus, muitas vezes somos tentados a cair no legalismo, como os fariseus que para garantir que não iriam trabalhar ao sábado definiram como pecado que se carregasse certos objetos no dia de sábado. Aí quando viram um ex-paralítico que tinha acabado de ser curado pelo Messias, ao invés de glorificarem a Deus, condenaram-no por estar “trabalhando no sábado” (Jo 5:1-13). Na verdade, ficaram tão cegos que condenaram até mesmo o próprio Messias (Jo 5:18)! Eles também ficaram tão obcecados com o dízimo da hortelã e do cominho que se esqueceram de amar o próximo (Mt 23:23). Então, tome cuidado! Namorar corte não pode ser uma lista do tipo “Não tocarás no seu namorado”, “Não abraçarás por mais de 3 segundos”, etc. Não. Como tudo o mais na vida cristã, o namoro corte começa na mente

Namoro corte é uma mentalidade.

Namorar corte é se comprometer com uma mentalidade não sensual até o casamento. Veja, é claro que você quer muito beijar seu namorado e sentir o coração dele batendo bem pertinho do seu. Mas você se compromete a não o provocar sexualmente, não o olhar de maneira a seduzi-lo, não o acariciar buscando gerar arrepios, não falar sobre coisas que podem fazê-lo imaginar o sexo com você, ou seja, não defrauda-lo. Significa, acima de tudo, que você mesma não vai entregar seus pensamentos à imaginação de como seria beijá-lo, ou coisas assim, por saber que ainda não chegou o tempo. Veja o que o texto de 1 Ts 4:3-8 nos diz:

“A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual. Cada um saiba controlar o próprio corpo de maneira santa e honrosa, não com a paixão de desejo desenfreado, como os pagãos que desconhecem a Deus. Neste assunto, ninguém prejudique a seu irmão nem dele se aproveite. O Senhor castigará todas essas práticas, como já lhes dissemos e asseguramos. Porque Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Portanto, aquele que rejeita estas coisas não está rejeitando o homem, mas a Deus, que lhes dá o seu Espírito Santo.”

Então, namorar corte significa apenas se comprometer a controlar o próprio corpo, buscando não prejudicar ou defraudar seu namorado, oferecendo a ele algo que não deve ter agora. E assim, buscar a santidade.

Namoro corte também não é uma lei. 

A Bíblia não fala diretamente sobre namoro e, portanto, como já disse antes, não podemos estabelecer leis que não estão nela. Quer dizer, não ouso afirmar que o namoro corte seja o único “verdadeiramente santo” e nem você deveria. A corte pode ser uma escolha sua e dele, mas isso não torna você melhor que sua amiga que não namora corte. Pode ser que ela namore sem fazer corte e não se entregue ao seu coração e desejos desenfreados, pois Deus também é poderoso e pode capacita-la para isso. Portanto, não saia por aí vestindo a capa de “super-santo” e julgando os outros à sua volta! Assuma sua posição diante dos outros, mas sem orgulho-santo!

Namoro corte é muito bom!

Hoje, depois de já casada há quase 3 anos e tendo tido o meu primeiro beijo na cerimônia de casamento, muitas meninas me perguntam se eu não me arrependi disso. “Porque você perdeu tanta coisa”, elas dizem. Mas hoje eu percebo que muita gente acredita nesse mito de que o namoro é o ápice da paixão e tudo é maravilhoso, você enfrenta tudo pra ficar junto. Aí você casa, a rotina vai pegando você e o sentimento vai diminuindo, até você apenas se acostumar a estar casada, ou mesmo ver “o amor acabar”. Bom, na verdade eu acredito em algo um pouco diferente. 

Acredito que o namoro é o início do relacionamento, no qual se deve considerar as questões mais racionalmente do que emocionalmente e não se deve entregar o coração. Você deve passar a maior parte do tempo do namoro conversando, perguntando, servindo juntos, para conhecer o outro o máximo possível e aprender a amá-lo e agradá-lo. Aí, depois que vocês casam e literalmente SÃO um do outro, aí sim vem o ápice da paixão! (rs). Só então você vai desfrutar da parte física e a intimidade que já veio pela profundidade da amizade no namoro vai auxiliar nesse processo, por mais que haja imprevistos no caminho. E porque o casamento não foi construído na base frágil do sentimento, mas sim na base sólida da decisão, vocês enfrentam as dificuldades juntos e aí vai surgindo um terreno cada vez mais fértil para o sentimento crescer e crescer. Isso é o que eu experimentei e continuo experimentando no meu. 

Bom, espero que este texto tenha esclarecido um pouco suas dúvidas sobre o que o namoro corte é e o que ele não é. Meu desejo ao escrever esse texto foi esclarecer algumas confusões que as pessoas normalmente fazem sobre o tema, colocando-o muitas vezes ao lado dos radicais ou fariseus, os quais acham que o nosso Deus exige sacrifícios, ao invés de confiar no sacrifício de Cristo. Espero que você que considerava “loucura”, possa compreender e até mesmo considerar esse padrão de relacionamento. E que você que não vai namorar corte e já decidiu por isso também não pressione aqueles que vão e nem se sinta julgado por eles. Afinal, cada um deve agir sempre por fé, sem ferir sua consciência (Rm 14:23)!