Este artigo foi escrito para orientar meninas que estão namorando, ou à espera de um relacionamento, a entenderem qual é a realidade e o propósito do namoro cristão, bem como o perigo de ter o foco e a expectativa errada que culminarão, invariavelmente, em frustração. Através do que tenho vivido e do que tenho visto e ouvido de tantas amigas, quero compartilhar as lições que têm permeado minha caminhada.

Nunca vou esquecer do comentário que um amigo fez sobre nós, meninas, alguns anos atrás. Estávamos escolhendo um filme para assistir e ele soltou a seguinte frase: “só não quero nenhum filme de romance porque vocês (meninas) assistem e ficam achando que isso acontece de verdade!”. Obviamente, ele não estava se referindo a um romance em si, mas à maneira irreal com que as histórias de amor se passam nas telas do cinema. Na hora eu dei risada, provavelmente fiz alguma piada e desconversei. Mas fiquei pensando sobre isso por muito tempo e, embora eu odeie admitir, é a mais pura verdade. Nós, meninas cristãs, por esperarmos e orarmos tanto por um relacionamento especial, criamos expectativas grandes demais que beiram à utopia, ou mergulham na mesma. É claro que esperar e orar por isso não é errado, pelo contrário deve ser feito, devemos colocar tudo diante Deus e buscar sua orientação em todas as áreas de nossas vidas. Mas como casamento é um sonho tão forte para a maioria de nós, focamos tanto no que idealizamos que nos esquecemos de orar e esperar por um homem real, uma história real e não um príncipe encantado, um conto de fadas ou uma história de cinema. Meu argumento não é sugerir que estamos esperando por algo mágico, com fadas cintilantes em circunstâncias mirabolantes; as histórias de cinema aqui são apenas um paralelo que nos leva à reflexão do quanto fantasiamos relacionamentos sem considerarmos a realidade de quem nós somos e de quem nossos namorados serão.

Tenho conhecido tantas meninas que idealizam seus namorados (ou futuros) como a fonte de saciedade de toda sua carência emocional e seus possíveis casamentos como a satisfação plena de sua felicidade. A suficiência de muitas não está estabelecida em Deus e sim num relacionamento (que ás vezes não passa de um desejo). O próprio sonho ou namoro acaba se tornando um ídolo para grande parte delas, ou a existência de conflitos num relacionamento passa a ser frustrante. Se a alegria plena de um coração redimido não vier de Deus, nenhum namorado estará à altura das expectativas construídas por uma concepção errônea do namoro. Uma visão real conduz à um relacionamento maduro, uma expectativa irreal conduz à frustração.

Assim, creio que uma definição coerente de namoro cristão é: uma amizade intencional e íntima entre dois pecadores (cada qual com um grande potencial para dar errado à parte da comunhão e graça de Deus), caminhando juntos para buscarem santidade, discernindo em sabedoria se em sua união um completa o outro para melhor servirem ao Senhor. O foco deve ser o casamento como aliança profunda e vitalícia, estabelecida divinamente, que testemunhe ao mundo a união entre Cristo e sua Igreja.

Estou namorando há alguns meses e antes disso esperei por alguns anos até encontrar alguém especial. Nesse tempo vi e aconselhei muitas meninas a destruírem seus castelos de areia idealizados e a se darem conta de que o relacionamento entre duas pessoas reais tem seus conflitos, suas lutas, suas cessões. Muito mais do que um frio na barriga e emoções incontidas (que creio terem sua importância, porém, não como indicativo de um sentimento consolidado) é preciso entender que namoro é uma decisão firmada entre duas pessoas que decidem caminhar juntas levando o “pacote todo”, qualidades e defeitos um do outro. Dessa forma, o compromisso sustenta e constrói o sentimento, e não o contrário. No entanto, minha surpresa ao começar namorar foi que, apesar de ter um discurso tão enraizado em mim sobre o assunto, descobri que ainda tinha meus castelos, ainda tinha expectativas grandes demais colocadas injustamente sobre meu namorado e totalmente ilegítimas diante de Deus, baseadas em minha carência e egoísmo.

Doeu-me ajustar o foco para entender o que significa, na prática, a definição do namoro cristão que citei acima: “dois pecadores caminhando juntos para buscarem santidade…”. Neste ponto, é importante lidarmos com a definição de santidade que é a luta de cada cristão em buscar ser transformado à imagem de Cristo pela obra do Espírito Santo, dispondo-se à mudança que caminha em direção contrária à natureza pecaminosa do homem. Logo, num relacionamento que visa santidade, o objetivo permanece o mesmo. Ser forjada à semelhança do Filho dói porque implica em quebra de orgulho, porque exige humildade, porque requer reconhecimento de culpa. Se essa transformação na caminhada individual de cada crente já implica em pesar, e se o foco do namoro é o mesmo, o processo à dois torna-se de igual forma doloroso. Quando comecei a vivenciar isso, foi como se meu namorado segurasse diante de mim um espelho límpido que refletia quem eu realmente era, sem máscaras. O fato de eu estar num relacionamento trouxe à tona áreas da minha vida e reações pecaminosas que eu precisava (e ainda preciso) tratar biblicamente e que sozinha eu não era capaz de perceber. Assim, muito além dos momentos de romantismo que eu e meu namorado temos desfrutado juntos, creio que são os momentos de conversas francas a respeito de quem somos que têm nos feito crescer e nos dado a segurança de que a vontade de Deus tem se cumprido em nós.

Como Paul Tripp diz em seu livro “O que você esperava?”, esses momentos de conflito, nos quais nossos pecados são revelados e geram grande desconforto, são a própria graça de Deus. São oportunidades em que, na dependência dEle, um pode ser instrumento de crescimento e transformação na vida do outro através da conversa franca, da confissão e do perdão. Todo casal é levado aos limites do seu caráter, mas uma das coisas mais lindas que esses momentos podem proporcionar é afastar cada um de seus hábitos de autodependencia e levá-los à aproximação do hábito da dependência de Deus. E tenho vivenciado isso na prática. No principio, eu ficava abalada toda vez que surgia uma dificuldade; agora sob uma nova perspectiva, o momento de conflito não é mais frustração, é graça sobre graça.

Mas será que colocado dessa maneira todo o encanto acaba? A realidade mata o sonho? Creio que não, creio que o encanto é ainda mais belo por encarar a realidade e porque a finalidade faz valer a pena. A despeito de emocionalismos, a maturidade no entendimento do que é o namoro cristão leva à uma caminhada mútua, que persiste para a conquista de uma cumplicidade mútua, focada num único objetivo: a imagem de Cristo. À mim, isso soa ainda mais bonito do que um simples “e viveram felizes para sempre” cercado de defraudação.

Incentivo você a, em oração, pedir a Deus discernimento para ajustar seu foco.Vale a pena ter uma visão coerente do namoro cristão. Posso sinceramente dizer que, baseada nela, tenho vivido uma história linda e real. Estou segura de que a vontade de Deus tem se cumprido em nós e de que se, nesta etapa, conseguirmos de maneira sábia ser instrumento de Deus na vida um do outro, lidando biblicamente com os conflitos que surgirem em virtude de nossas próprias condições de pecadores, estaremos prontos para assumir um passo maior, rumo à aliança que é “graça de vida”, estabelecida e concedida por Deus para que seja reflexo de Sua glória.

“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam,
dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.
Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho,
a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.”
Romanos 8:28-29