Somente quando perdemos alguém entendemos, de verdade, a tristeza que invade o coração. Essa dor é relativa ao seu específico relacionamento com o falecido, mas sempre dói muito. E entristecer-se é natural – até mesmo Jesus Cristo chorou quando Lázaro morreu (Jo 11.32-35). A morte é o último inimigo a ser vencido, ela é antinatural para nós (1Co 15.26). Desejamos viver (Ec 3.11) e, se não fosse o pecado, viveríamos eternamente. Assim, do que podemos nos lembrar quando passamos por isso?

Muitas pessoas têm como reação, ao perder alguém, questionar a Deus. “Por que você levou meu noivo? Ele era tão novo, podia te servir tanto ainda!”; “Por que o Senhor levou uma mãe de família?!”; “Por que o Senhor levou meu pai?!”. Na tentativa de consolar uma colega, certa vez, disse que Deus não nos dá todas as respostas para a vida cristã, porém nos dá as necessárias para lidar com essa dor específica. Mas, pensando bem, eu podia ter me expressado melhor…

Vejamos uma história parecida das Escrituras… Jó perdeu todos os seus filhos e filhas em um único dia – eram 10! Não consigo imaginar a tristeza que sentiria se perdesse dez pessoas de minha família ao mesmo tempo! Se fosse uma, já sentiria demais. Certamente Jó os amava, ele se preocupava, inclusive, com a vida espiritual de cada um deles (Jó 1.5) e, com certeza, se entristeceu muito com esse episódio.

E Jó, muito temente a Deus, teve uma reação diferente da maioria das pessoas. Disse: “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor” (Jó 1.21). Ele sabia que tudo quanto temos, recebemos de Deus. Não somos donos de nada do que ganhamos ou perdemos. E quando a esposa dele lhe falou para amaldiçoar a Deus, devido às circunstâncias difíceis que haviam piorado, ele respondeu: “Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” (Jó 2.10). Jó entendia que aquilo fazia parte do plano dEle para a sua vida.

Mas Jó também era humano e questionou a Deus:

Depois disso Jó abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento, dizendo: “Pereça o dia do meu nascimento e a noite em que se disse: ‘Nasceu um menino!'” (Jó 3.1,2)

Ele até mesmo desejou a morte:

Agora eu bem poderia estar deitado em paz e achar repouso junto aos reis e conselheiros da terra, que construíram para si lugares que agora jazem em ruínas, com governantes que possuíam ouro, que enchiam suas casas de prata. (Jó 3.13-15)

Não tenho paz, nem tranqüilidade, nem descanso; somente inquietação. (Jó 3.26)

Contudo, Deus fez-se presente na vida de Jó, mostrou quem estava no controle e quem Ele era de fato! Diferente de como havia aconselhado minha colega, Deus dá todas as respostas para a vida cristã, pois Ele as é! É o Deus criador da natureza, do ser humano, detentor de todo conhecimento e maravilhas (Jó 39 e 40)! E que sabe todo o curso da nossa história e daquele que partiu. Ele nos forma (Sl 139.13) e nos leva (Jó 1.21). Ele consola os entristecidos (2 Co 1.3-4), supre os necessitados (Mt 6.33) e concede a paz que nos acalma (Sl 29.11). Precisamos nos lembrar disso na tristeza, pois a dor parece não ter sentido, porém, Ele tem muitas razões para permiti-la e não precisa nos explicar agora.

Outra boa lembrança é não questioná-lO, mas nos calar e aprender com o momento que Ele separou para nós, por mais que pareça impossível. Enquanto não entendemos, decidamos confiar. Somente assim descansaremos nEle. E sabe o que mais? Se conhecêssemos todos os Seus planos, ou perderíamos o privilégio de confiar nEle ou nos aterrorizaríamos ainda mais por não os entender. Ele sabe o que é melhor para cada um. Crer em tais verdades produz uma paz que excede todo o nosso entendimento. Ficar levantando questionamentos não nos traz a paz ao coração. Jó só foi curado quando deixou de questionar (Jó 38) e passou a orar por seus amigos.

Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus. (Fp 4.6,7)

Aqui está o testemunho de uma mulher que perdeu seu filho devido a um problema cardíaco e erro médico:

Mas percebi como os meus questionamentos eram somente cheios de agitação. Acabei por renunciar minha busca por entender e, paradoxalmente, foi essa rendição que sustentou a chave indescritível para o que eu estava procurando. Essa confiança, aceitação, submissão e crença é o que me transformou em meu sofrimento.

Da mesma forma que Jó, ela também entendeu que é melhor reconhecer a Deus do que questionar, pois isso traz consolo e paz ao nosso coração. Ninguém terá as palavras certas para consolá-lo, nem seu cônjuge, nem outros familiares e amigos, somente Deus, com seu infinito amor, poderá curá-lo dessa dor emocional (Sl 34.18).

Uma maneira prática de render-se a Ele é orar e, mesmo em meio à situação dolorosa, agradecer e até mesmo confessar a dificuldade de orar e aceitar. Também é interessante observar a situação e reconhecer a Sua boa mão por meio dos amigos que mandam mensagens de apoio ou se disponibilizam para servi-la com uma refeição ou outra tarefa. E até mesmo pelo controle emocional que você sente alguns dias depois ou nessa hora. Certamente, isso vem de Deus, bem como a perda. Ele está presente e sabe de tudo isso. Jesus foi um homem de dores, Ele nos compreende (Hb 4.15; Is 53.3).

Outra boa lembrança em meio à dor é a de que Jesus nos quer próximos a Ele. Antes de partir, orou para estarem com Ele aqueles que o Pai lhe havia dado (Jo 14.2-4; 17.24; Sl 116.15) e ainda continua a interceder por nós até hoje (Rm 8.34). Assim, apesar da tristeza que a perda de um querido envolve, podemos ter a certeza de que, se ele era um crente em Jesus, está sendo recebido afetuosamente pelo Senhor e experimentando a alegria indescritível de tê-lO como melhor companheiro. Por outro lado, caso o falecido não O tenha conhecido, podemos descansar em Deus também, confiando que Ele tratará o falecido com toda a Sua justiça e perfeição, melhor do que qualquer um de nós faria.

E uma das melhores lembranças que podemos ter é a de que a vida é muito passageira (Tg 4.14) e logo estaremos com todos aqueles que amamos que também creem no Senhor, em perfeita comunhão, com um relacionamento bem melhor do que desfrutávamos antes. Não haverá pecado para nos entristecer e engrandeceremos ao Pai juntos (Rm 14.11; Ap 5.12; Ap 21.4, 1Ts 4.13,14). O encontro será em breve! E tudo isso porque “Jesus se entristeceu para que nós nunca tivéssemos que enfrentar uma tristeza sem esperança em face da morte”! Vamos esperar até lá, confiantes e firmes na caminhada com Ele.

Vocês se entristecerão, mas a TRISTEZA de vocês se TRANSFORMARÁ em ALEGRIA.  (Jo 16.20)


Apêndice

Versículos para consolá-la:

  • “Tu, Senhor, ouves a súplica dos necessitados; tu os reanimas e atendes ao seu clamor.” (Sl 10.17)
  • “O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido.” (Sl 34.18)
  • Pois a sua ira só dura um instante, mas o seu favor dura a vida toda; o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria.” (Sl 30.5)
  • “Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.” (Mt 5.4)
  • “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações.” (2 Co 1.3-4)
  • “Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram.” (1Ts 4.13-14)
  • “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.” (Ap 21.4)