Confesso, tomei emprestado o nome do filme! Não porque o que eu vá escrever aqui tenha alguma coisa a ver com o romance cinematográfico, mas simplesmente porque foi assim que eu me senti hoje… Estou de casamento marcado para o fim do ano e hoje pela manhã fui provar meu vestido. Sabe aquele sonho de menina? De vestir-se de princesa, toda de branco para “O Grande Dia”? Não foi o que eu senti. Na verdade, a imagem que agora guardo em minha mente do meu reflexo naquele espelho enorme, admirando os ajustes em meu vestido, tem trazido alguns pensamentos e lições que vou compartilhar com vocês.

Este momento que antecede o casamento, por trazer consigo o prólogo de grandes mudanças, tem deixado-me reflexiva, nostálgica, contemplativa… Por isso, para dizer o que quero dizer neste artigo, preciso contar um pouco da minha história. Mas fique tranquila, vai ser bem rápido! Nasci e cresci numa família cristã, desde muito cedo fui apresentada ao Evangelho e todos os meus anos de adolescência relembram-me a linda história de redenção que o Criador tinha destinado à mim. Sempre amei ir à igreja, servir na igreja… Sentia que ali era o meu lugar! Ao mesmo tempo, fui aprendendo com algumas pessoas que eu precisava sonhar, porque os sonhos nos mantém em movimento… E eu sonhei! Não apenas sonhei, mas empenhei-me com todas as forças para alcançar esses sonhos. Quando eu tinha dezessete anos minha saga começou, sem saber ao certo o que se passava em meu coração.

Primeiro sonho: faculdade! Sempre gostei de arte em todas as suas manifestações! Música, desenho, pintura, literatura… Parece-me um mundo tão encantador! A possibilidade de afundar num turbilhão de ideias dentro da minha mente e traduzi-las à realidade em forma de arte em suas múltiplas manifestações, sempre me cativou! Por isso, sem pensar duas vezes, prestei vestibular para Arquitetura e Urbanismo, e passei! Que alegria! Choro, riso e mais um misto de emoções e sensações pelo sonho realizado. Cinco anos de muito suor e noites mal dormidas se passaram até que o dia da minha formatura chegou. Foi um dia muito feliz, mas o diploma em minhas mãos não me deu o sentimento de satisfação e alegria plena que eu esperava sentir.

“Tudo bem, se não deu muito certo da primeira vez, passo para o próximo” – pensei.  Segundo sonho: conhecer o mundo! Assim que me formei, fiz um “freela” elaborando um projeto para o sócio do meu pai, recebi o pagamento e, com uma ajudinha da minha mãe, fui atrás do meu sonho… Três meses viajando e conhecendo lugares, pessoas, culturas incríveis! Um tempo só meu, que marcou minha história, abriu minha mente, expandiu meus horizontes e… Não me deu a satisfação que eu esperava encontrar. Lembro-me de estar num hostel muito simpático na cidade mais famosa do mundo, parada em frente à janela do meu quarto, observando o pátio modesto cheio de janelas charmosas e pensar que, por mais que eu estivesse muito feliz de estar ali, não era o que eu esperava…

Terceiro sonho (e o maior de todos): casar! Quando eu terminei a faculdade, com vinte e três anos, eu estava muito preocupada por estar solteira. Parecia que o tempo estava passando e eu estava ficando para trás. Já em planos de viajar, eu o conheci num acampamento. Tudo foi perfeito! Ele me viu e já na primeira conversa percebi que me olhava diferente, fixamente, com admiração… Aproximamo-nos e, depois de dois meses e meio orando, estávamos namorando! Foi do jeitinho que eu sempre quis… Até que, um mês depois, o namoro acabou! Ele terminou comigo e eu senti como se fosse a maior rasteira que já tinha levado em toda a minha vida. Alguns longos meses obscuros seguiram-se, muitas lágrimas e muitas dúvidas atormentavam-me. A maior lição que eu tive desse término de namoro  é que eu não estava sofrendo por ter perdido “o cara”, mas porque meu sonho de casar parecia ter morrido. Era como se eu tivesse me entregado por inteira e apostado todas as minhas forças nesse relacionamento que não deu em nada. Sabe o que mais eu aprendi? Que o casamento era um ídolo no meu coração e, a partir do momento que eu me vi na possibilidade de não me casar e passar a vida toda solteira, desmoronei dentro de mim mesma. Parecia que não havia sentido em continuar. Dolorosamente, Deus me mostrou que eu havia construído um altar em meu coração, cuja adoração não era destinada à Ele, bem como a faculdade e as viagens, ainda que estas em menor escala.

Não estou dizendo que é errado sonhar, de maneira nenhuma! O problema é quando os sonhos tornam-se o objetivo de nossas vidas, o sentido pelo qual vivemos e acordamos a cada manhã. O problema é o fato de considerarmos que seremos infelizes e frustradas se não conseguirmos realizá-los. Neste caso, eles não são mais sonhos, mas ídolos que nos aprisionam e nos levam para longe de Deus.

E então, você pode me perguntar: “Mas você não era crente? Como deixou isso acontecer?”… Sim, exatamente. Voltei a sentir sede, mesmo já tendo provado da Água da Vida, pois permiti que meu coração se envolvesse e amasse demais as coisas desse mundo. Foi necessário que Deus fechasse portas de emprego, acabasse com um namoro frustrado e levasse-me para terras muito distantes para que eu compreendesse que o controle da minha vida estava nas mãos dEle. Foi necessário uma disciplina divina dolorosa (expressão de amor: Hb 12:5-11) para que eu aprendesse que longe dEle eu jamais encontraria o contentamento e a satisfação que minha alma tanto almejava. Fui lembrada de que era preciso considerar tudo como perda para que eu pudesse ser achada nEle (Fp 3:7-9), que viver a Sua vontade para mim é a santificação (2 Co 7:1) e que esse é o sentido da minha vida em Cristo, pois lutando dia após dia contra a natureza pecaminosa que em mim habita (Rm 7:15-25, Gl 5:17-25) sou moldada por Ele, à imagem dEle e isso traz glória ao Seu nome (Rm 8:28-29). Revivi o fato de que existe graça inesgotável (Rm 5:20), e de que minha disposição e ânimo devem ser depositados em demonstrar isso àqueles ao meu redor (Hb 10:24-25). Finalmente, meu coração foi avivado pela verdade de que sem Ele eu nada posso fazer (Jo 15:5)! Se o sentido da sua vida está sinceramente baseado nesses princípios, os sonhos são apenas um acréscimo. E mesmo aqueles que não chegam a acontecer nos ensinam que se tudo o que nós temos é Deus, então nós já temos tudo o que precisamos. Essa é a verdadeira alegria e satisfação dessa vida!

Hoje, aos vinte e sete anos, depois de uma longa espera, eu vivo a realização de um sonho! Estou nos preparativos para entregar-me ao homem da minha vida, alguém muito especial ao lado de quem Deus, graciosamente, permitiu-me estar. Sinceramente, não tenho palavras para expressar minha gratidão por tudo o que tenho vivido! Estou contando os dias para firmar uma aliança que testemunha do amor de Deus àqueles que são seus. Mas minha vida não se resume a este casamento. Aquela famosa frase dos tão sonhados votos que diz “até que a morte nos separe” é muito pertinente, por lembrar aos cônjuges que ainda que um dos dois venha a faltar, a vida continua pois o sentido é viver para a glória de Deus. O “Grande Dia” não será o dia mais importante da nossas vidas, será sim um dia muito especial, mas que marca apenas o começo de uma jornada mútua, o começo de belezas ainda mais profundas que serão construídas ao longo de anos na dependência de Deus. O “Grande Dia” anunciará dias ainda maiores que estarão por vir, nos quais a decisão de amar será baseada no compromisso da aliança firmada no temor à Deus. A imagem do meu vestido branco dos sonhos refletida no espelho esta manhã, a qual guardo com tanto carinho em meu coração, não me traz mais o desejo de estar avassaladoramente maravilhosa no dia do meu casamento, mas a certeza de que antes de ser a noiva do João, eu sou a Noiva de Cristo, que se prepara para a chegada de Seu Amado, que certamente virá buscá-la e almeja encontrá-la pura e em santidade. Esta é a Verdade pela qual vivo, que dá sentido à minha vida e aos meus sonhos.