Eu quero que você imagine um deserto. Um calor insuportável em cima de você. Olhando ao redor, em ambos os lados só se vê areia. Na sua frente, o mar. Você não tem a menor noção para onde está indo e nem por mais quanto tempo irá ficar naquele lugar. Agora acrescente a esse cenário seiscentos mil homens (sem contar mulheres e crianças) junto com você e sob sua liderança naquele deserto. Muito bem, chegamos onde Moisés se encontrava logo após ter saído do Egito com o povo de Israel. A situação era caótica, mas ainda iria piorar. Olhe para trás, e veja o exército furioso de faraó vindo atrás de você. Agora, tente imaginar o que Moisés sentiu.

Quando o faraó se aproximava, os israelitas levantaram os olhos e viram os egípcios marchando contra eles. Em pânico, clamaram ao Senhor e disseram a Moisés: “Por que você nos trouxe ao deserto para morrer? Não havia sepulturas no Egito? O que você fez conosco? Por que nos forçou a sair do Egito? Quando ainda estávamos no Egito, não lhe avisamos que isso aconteceria? Dissemos: ‘Deixe-nos em paz! Continuaremos a servir os egípcios. Afinal, é melhor ser escravo no Egito que ser um cadáver no deserto!'” Moisés, porém, disse: “Não tenham medo. Apenas permaneçam firmes e vejam como o Senhor os resgatará neste dia. Vocês nunca mais verão os egípcios que estão vendo hoje. O próprio Senhor lutará por vocês. Fiquem calmos!” Então o Senhor disse a Moisés: “Por que você está clamando a mim? Diga ao povo que marche!(Êxodo 14.10-15)

Algumas situações na nossa vida nos fazem sentir como se estivéssemos presos na pior das possibilidades. Moisés definitivamente estava preso na pior delas. Eu sempre penso que se pudesse voltar para algum tempo bíblico, voltaria para o tempo do povo no deserto. Pode parecer estranho, mas tenho muita curiosidade sobre como era viver no deserto e poder conversar com Moisés, entender o que se passava no seu coração em momentos como esse do texto que lemos.

Moisés era humano e pecador como eu e você. Eu imagino que o medo deve tê-lo assombrado, talvez a dúvida sobre ter tirado o povo do Egito, a incerteza sobre o que Deus estava fazendo… Sim, talvez tudo isso tenha passado mais de uma vez em sua mente durante aqueles 40 anos no deserto. (Um dia pretendo perguntar para ele, no céu). Mas embora não possamos saber o que se passou em sua mente, de uma coisa podemos ter certeza: independente da situação, a fé de Moisés se manteve firme desde o dia em que o Senhor disse: “Diga ao povo que marche”.

Quando o povo finalmente conseguiu atravessar o mar e se ver livre dos egípcios, eles não esperavam que talvez a pior parte estivesse por começar. Lá vinham mais 40 anos caminhando por um deserto, sem saber para onde estavam indo, para uma terra de que eles só tinham ouvido falar.

Deuteronômio é um dos meus livros favoritos. A repetição da aliança de Deus com Seu povo, e o trato de Deus para com eles é apaixonante. É incrível o que Deus diz no capítulo 8, versículo 2: “Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos.”

Deus colocou o Seu povo, aqueles que Ele escolheu, por 40 anos no deserto para prová-los, para saber o que tinha no coração deles. Aquele com certeza não foi um tempo fácil para Israel. Eles foram provados várias vezes, e nós costumamos julgá-los como os piores pecadores, mas a verdade é que não faríamos nada diferente se estivéssemos no lugar deles. Em contraponto, temos Moisés, Calebe e Josué, homens que – mesmo pecadores – se destacaram por sua fidelidade a Deus independente da situação.

Trago isto agora para a nossa realidade. Como nós (e eu com certeza me incluo nisso) lidamos com as situações da nossa vida em que falamos: “Deus, agora não dá mais!”?

Com certeza você já teve uma fase que achou que não iria superar – talvez a morte de alguém querido, o fim de um relacionamento, a perda de uma amizade importante, uma crise financeira, uma doença, uma reviravolta que não podia prever na vida; e você pensou que aquela dor, aquele sofrimento, aquela angústia, aquelas dúvidas não iriam passar. Talvez elas ainda não tenham passado, talvez estejam aí agora, latejando em sua mente como uma goteira em dia de chuva. E então eu te pergunto: Como você lida com essa situação? Eu quero te dizer, minha amiga, que você tem apenas duas opções em casos assim:


1. Ou você vai aos pés da cruz e se ajoelha…

Então derrama o seu coração e CLAMA incessantemente ao Deus da sua salvação por consolo, cura e abrigo; e APRENDE A ESPERAR, entendendo que, no tempo dEle, o deserto vai passar; e AGRADECE a Deus pelas coisas preciosas que Ele quer te ensinar em meio ao seu “deserto” particular, pedindo sabedoria para enxergá-las, e paciência para passar por essa circunstância difícil.

Se Deus te coloca em um caminho doloroso, você Lhe apresenta seu lamento e suas dúvidas, mas o faz com humildade e respeito em vez de com uma postura arrogante ou incrédula. Você não exige saber o tempo de duração ou o desfecho da sua provação. Você apenas CAMINHA, porque confia naquEle que está te guiando, naquEle que conhece o caminho e que faz todas as coisas cooperarem para o seu bem — ou seja, cooperarem para que o caráter de Cristo seja moldado em você (Rm 8.28-29).

Você transforma essa tristeza em uma oportunidade de orar para que Deus sonde o seu coração, trate tudo que precisar ser tratado (Sl 139.23-24) e aprofunde o seu relacionamento com Ele de modo que, no fim desse deserto (que sim, vai passar!), você tenha a chance de ser uma pessoa que cresceu, que se parece mais com Cristo e agora pode falar sobre isso para outras pessoas.

2. Ou você chega aos pés da cruz, vira as costas e vai embora…

Eu nem preciso escrever muito sobre isso como uma segunda opção, porque se você olhar bem, ela não é uma opção! “Virar as costas para a cruz” é dizer que Deus não é bom o suficiente para cuidar do seu problema e quem vai ter que resolver isso é você. Muitos tomam essa decisão.

Se você está passando por uma fase dessa, não desista agora. Lembre que por mais longa e dolorosa que ela seja, não durará para sempre, e no final, será muito abençoadora — mesmo que o final não seja nesta vida. Em 1 Tessalonicenses 5.16-18, Paulo nos diz para estarmos sempre alegres, orarmos sem cessar e darmos graças a Deus em todas as circunstâncias. Se houve alguém que entendia de tempos difíceis, esse alguém foi Paulo, e ele com certeza não deu essa ordem só para os dias em que tudo dá certo e acontece como a gente quer. Então, minha amiga, seja grata, ore a Deus, firme o seu relacionamento com Ele, firme o seu relacionamento com o Corpo de Cristo e CAMINHE! Um dia, todos os desertos ficarão para trás.

Por outro lado, se você diz que o seu deserto já passou, eu não te aconselho a esquecer e fingir que ele nunca aconteceu. Assim como o povo de Israel até hoje comemora a festa dos tabernáculos para se lembrar e agradecer por tudo o que Senhor fez ao tirá-los do Egito, também nós devemos ter sempre em mente a gratidão pelo relacionamento aprofundado com Deus, pelo coração moldado, e pelas lições aprendidas. Leve essas lições sempre com você; elas serão muito preciosas, especialmente na próxima vez em que você — ou alguém que você conhece — se encontrar em um deserto.

A geografia de Deus pode ser engraçada, humanamente falando. Às vezes, dolorosa. Mas, da perspectiva da eternidade, ela sempre é boa! Vá, ainda hoje, aos pés da cruz, se renda, peça ajuda e caminhe!