Que grande consolo saber que não estamos sozinhas em nossos sofrimentos. Em cada situação de tristeza e questionamento que você já passou, o Bom Pastor esteve ao seu lado, conduzindo-lhe pelo caminho em que deveria seguir. Mas essa não é a única esperança que o Evangelho traz ao sofrimento, é apenas o começo. O cristianismo muda completamente a maneira com a qual compreendemos os momentos de dor do coração humano. Uma vez que o passar por aflições é inevitável, pois vivemos num mundo corrompido pelo pecado (consequência da rebeldia da humanidade contra seu Criador), Deus manifesta Sua graça àqueles que o temem dando propósitos espirituais a esses momentos de escuridão da alma.

O primeiro deles a ser abordado é o fato de que Deus usa o sofrimento para moldar nosso caráter à imagem de Cristo. Temos uma tendência natural e pecaminosa ao orgulho e, mesmo salvos, precisamos aprender a viver o modo de vida íntegro que Deus quer de nós. Não é natural à nossa carne perdoar, reconhecer o erro e pedir perdão, pensar no bem do outro antes do nosso, ser humilde em uma situação em que gostaríamos de destaque, ser desprendido com dinheiro para a edificação da igreja, dentre outras atitudes que poderiam ser citadas aqui. Deus usa situações que muitas vezes fogem ao nosso controle para nos ensinar e nos colocar em nossos lugares, em submissão à Ele. Pode tudo parecer confuso, sem rumo, sem saída, como um bordado visto do avesso, mas o artista tem em sua mente a obra completa, que é magnífica quando observada do lado certo.

Foi o que aconteceu com Jó. Depois de perder sua fortuna, seus dez filhos, sua saúde, ser destratado por sua mulher e ainda ter que aguentar seus amigos acusando-o de ter algum pecado oculto, ele se cansa e questiona a Deus. Tudo estava confuso e a dor era grande demais. O texto bíblico afirma que Jó não pecou, mas ele se cansou e, do ponto de vista humano, isto é totalmente compreensível dada a carga emocional e física que vinha carregando. No capítulo 38, Deus então responde aos questionamentos de seu servo e lhe pergunta: ” Onde você estava quando eu lancei os alicerces da terra?” (v.4), e a partir daí o Senhor começa a descrever toda sua criação… Onde Jó estava? Ele não estava, ele ainda não havia sido criado pelas mesmas mãos que estabeleceram os montes e os mares. E, humildemente, Jó começa a entender que sua vida não era sobre ele, mas sobre trazer glória a Deus mesmo em meio à dor. Sua fé estava sendo provada e seu caráter moldado. Sobre isso, a carta de 1 Pedro afirma:

“Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado.” (1Pe 1.6-7)

Quando nossa alma sangra, quando chegamos aos limites das nossas forças humanas, nossa fraqueza nos torna ensináveis e as lágrimas que derramamos se tornam didáticas. Em nossa fraqueza Deus nos molda na humildade e mansidão exemplificadas na encarnação de Cristo, e nEle somos fortalecidas. Assim o livro de Romanos nos ensina quando afirma:

“Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto (…) Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho (…)” (Rm 8.22,28-29)

Quanto o texto bíblico afirma que todas as coisas cooperam para o bem dos que amam a Deus, o contexto é de sofrimento. Ou seja, em meio a gemidos de dores de parto em virtude das aflições humanas, Deus age para moldar seus filhos ao caráter de Cristo. Em outras palavras, toda lágrima derramada coopera para o nosso bem. E contradizendo tudo o que o mundo sem Deus afirmaria sobre a dor, ainda somos exortadas a nos alegrarmos com as provações:

“Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.” (Tg 1.2-4)

A alegria referida aqui não é o sorriso constante no rosto, sons de festa e pulos eufóricos, mas a convicção de que os frutos gerados pelo sofrimento, por meio da ação divina, fazem a jornada valer a pena. Maturidade e integridade à semelhança de Cristo é algo que todos os cristãos devem buscar como uma resposta de amor à redenção que receberam, e muitas vezes essa maturidade virá a preço de muitas lutas e muito esforço. Mas vale a pena! A fé provada e refinada resultará em louvor e glória.

Como vimos no artigo anterior, o próprio Cristo é o maior exemplo de um homem de dores. Hebreus 5.8 nos diz que Cristo aprendeu a obedecer pelas coisas que sofreu. Ele era o Deus encarnado, e em sua divindade, não precisava aprender a obedecer, pois não é um desobediente em essência como nós o somos, nós sim precisamos aprender a obedecer lutando contra nossa natureza pecaminosa. Como homem, Ele aprendeu sobre nossa humanidade quando sofreu, da mesma forma que nós aprendemos sobre sua santidade quando sofremos. E essa é uma das três verdades espirituais que devem mudar nossa perspectiva de vida quando a dor bater à porta (as outras duas veremos ao longo da série). Não é para vivermos num estado constante de sofrimento, de maneira nenhuma! Mas quando os dias escuros chegarem, há consolo e esperança que nos motivam a seguir em frente.