“Olha aquela menina que ridícula… quem usa aquela blusa com aquele tipo de calça?”

“Eu a evito… afinal de contas, ela não concorda com o que eu penso!”

“Ela não foi à igreja ontem…  aposto quer era para namorar o André”

“A Laura? Aquela menina é uma idiota!”

“Não vou àquela igreja porque o pastor não gosta de mim, quando ele passa do meu lado nem me cumprimenta!”

“Não gosto dele e não falo mais com ele. Sabe por quê? Porque um dia ele não respondeu uma mensagem que mandei. Até parece que não tinha cinco minutos para me responder!”

“Nossa, essa menina se acha! Você viu os posts dela?”

 

Pare um momento e reflita: Quando foi a última vez que você julgou alguém e saiu comentando com outras pessoas? Tenho certeza que nas últimas 24 horas você tenha feito isso algumas vezes. Por quê? Porque eu e você temos um péssimo hábito de julgar as pessoas o tempo todo, seja só em pensamentos, seja em pensamentos e palavras. Concorda comigo? Existem aqueles que têm um hábito de criticar mais intenso e frequente de que os outros, no entanto, todos nós temos dificuldade com a nossa boca quando se trata de críticas e julgamentos!

MAS AFINAL DE CONTAS, O QUE É JULGAR? 

Basicamente, julgar é concluir algo negativo sobre alguém e comentar com outros sem necessidade. Como Jerry Bridges diz: “Criticar é fazer comentários negativos que talvez sejam verdadeiros, mas não precisam ser ditos. Por exemplo: “Ele passa o dia inteiro na frente da televisão” ou “Ela não vai bem nos estudos”. [1]

Nós estamos tão acostumadas a fazer isso, que perdemos a noção do quão perigoso é julgar o próximo! Infelizmente um dos maiores motivos de divisão de grupos de amigos, brigas de família e até mesmo divisão de igrejas, são julgamentos feitos a partir da justiça humana, que não é justiça de Deus. Ao falar sobre isso, Shannon Kay McCoy, no artigo “Vencendo o espírito crítico”, diz:

“Um espírito crítico em ação é o contrário de amar o nosso próximo como a nós mesmos. Os relacionamentos quebram-se quando há fofoca, calúnia e julgamento. Quando somos críticos em relação aos outros, nós nos colocamos em uma posição de autoridade sobre eles. Isso isola a pessoa crítica da comunhão com outros. As pessoas têm a tendência de se afastar de alguém com um espírito autoritário, áspero e crítico”. [2]

Falar mal de alguém para outras pessoas cria um cenário desconfortável para todo mundo envolvido na conversa: o julgador, seus ouvintes e o julgado! Mas não só isso! Além de consequências sociais, existe a mais grave: a espiritual.

“Os efeitos de um espírito crítico são devastadores. Em Mateus 22.37 e 39, Deus ordena que nós O amemos de todo o nosso coração, toda nossa mente e toda a nossa alma, e que amemos o nosso próximo assim como já amamos a nós mesmos. Abrigar uma disposição crítica impede-nos de amar a Deus com todo nosso coração, mente e alma. A nossa comunhão com Deus fica prejudicada. Paramos de investir tempo para estar com Ele em oração e na leitura da Bíblia. Como consequência, deixamos de buscar a sabedoria que vem do Senhor. O resultado é que nossa vida espiritual é colocada de lado”. [3]

 

ENTÃO, JÁ QUE É TÃO PERIGOSO JULGAR O PRÓXIMO, POR QUE FAZEMOS ISSO?

Jesus, após curar um homem cego e mudo que estava possuído por um demônio, foi caluniado pelos fariseus, que disseram que Ele só expulsava demônios porque Seu poder vinha de Belzebu, príncipe dos demônios (Mateus 12.22-24). Jesus foi julgado pelos fariseus! Mas Ele, que sabia o que os fariseus estavam fazendo, os repreendeu e nesse momento Ele disse algo muito importante para nós: “a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12.34). Nossa boca reflete aquilo que está em nosso coração?! E o que pode estar em nosso coração quando criticamos o próximo?

1. O Desejo de Controlar 

Nosso coração pecador anseia controle. Queremos controlar o que as pessoas dizem a respeito de nós e queremos controlar o que as pessoas dizem e pensam sobre outras. Para isso, nos colocamos na posição de juízes e passamos a categorizar aqueles que nos cercam!

2. Egoísmo

Quando nosso coração egoísta se sente ameaçado por alguém, nossa boca passar a menosprezar tal pessoa a fim de se proteger. Sobre isso, Mark Dutton disse: “Gostamos de ampliar as fraquezas dos outros para melhorar a nossa imagem. Se formos honestos, teremos de dizer que grande parte da nossa crítica não passa de pura justiça própria e preconceito”. [4]

3. Orgulho

Infelizmente, nós nos achamos a última bolacha do pacote, com meus melhores palpites e opiniões e esse é um dos motivos pelos quais nós julgamos os outros de forma inapropriada, ou seja, baseando em nossas preferências pessoais ao invés da Palavra de Deus. Sentimo-nos não só superiores aos nossos amigos, familiares, colegas de trabalho, etc, como responsáveis por algo que não somos: de analisar e julgar quase todas as pessoas e situações a nossa volta.

OK, ESTAMOS ERRANDO! ENTÃO, COMO LUTAR?

“Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade”. Efésios 4.22-24

Efésios 4.22-24 deixa claro: precisamos deixar de fazer o que o nosso velho homem, sem Cristo, faria – neste caso, julgar, e olhar para a Palavra de Deus para renovar a nossa mente e então ter as atitudes corretas – parar de julgar!  O que fazer então para pararmos de julgar o próximo? Precisamos nos lembrar de que Deus é o nosso Juiz e de Ele nos deu um filtro!

1. Deus é o Juiz

Eu e você não somos oniscientes, onipresentes e onipotentes para fazermos julgamentos 100% corretos! Não somos Deus! Não cabe a nós sermos juízes na vida do próximo. Deus é Deus. Deus é Juiz!

“Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está de pé ou cai. E ficará de pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar’. (Rm 14.4) Basicamente, Paulo está mandando: ‘Parem de fazer o papel de Deus em relação aos irmãos em Cristo. Deus é o Juiz, não vocês’. É isso o que fazemos quando julgamos as pessoas que têm preferências e práticas diferentes das nossas. Estamos usurpando um papel que Deus reservou para si mesmo”. [5] 

Estar frequentemente lembrando que Deus é Deus e Juiz e que nós não somos nada, consequentemente nos leva a outra atitude: o reconhecimento dos nossos próprios erros. Precisamos lembrar de que nós também somos passíveis de erros e que não somos melhores do que ninguém! Como o próprio Cristo disse:

“Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês. “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão”. Mateus 7.1-5

O texto acima, além de nos ensinar a tirar a viga dos nossos olhos antes de falar de alguém, mostra que há abertura para o julgamento ao próximo, mas tal abertura tem um propósito bastante específico: a de levar o próximo aos pés de Cristo! Julgamentos desnecessários são aqueles que só trarão fardos para a pessoa julgada e não ajuda sincera e amorosa. Mas se a crítica é feita diretamente para a pessoa julgada a fim de apontar algum pecado (e não preferência pessoal!), cabe a nós fazê-lo com amor, misericórdia, graça e paciência! Sobre isso, um alerta:

“Honestamente, creio que algumas pessoas pensam que há uma vaga na Trindade e entendem ser sua responsabilidade assumir o ministério do Espírito Santo. Precisamos reconhecer que uma coisa é confrontar uma pessoa com muito amor e graça, mas outra coisa é a tentativa de “colocar alguém na linha” em um aspecto no qual você acha que a pessoa está errada. O perigo que há nisso é que muitas vezes nossas pressuposições estão erradas e descobrimos que na tentativa de ser o “Espírito Santo” dessa pessoa… o vulcão entra em erupção!” [6]

Infelizmente, somos rainhas em julgar outros sem nem mesmo saber o que de fato aconteceu. Por isso, quando você precisar confrontar alguém, faça muitas perguntas antes à pessoa envolvida, a fim de ter certeza que não foi nenhum mal entendido ou para ter certeza de que não se trata de preferência pessoal, mas de pecado. Em poucas palavras: pergunte mais, conclua/julgue menos!

2.  Use o filtro!

Na Bíblia encontramos um filtro para a nossa boca e ele está em Efésios 4.29: “Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem”.

Antes de falar algo sobre alguém, pergunte-se: Edifica? É necessário? Concede graça? Se as respostas forem afirmativas, passou pelo filtro, ou seja, você pode comentar! Se não forem, guarde para si!

“Edifique e seja parte da solução, não parte do problema. Tiago 4.11 diz: “Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala contra o seu irmão ou julga o seu irmão, fala contra a Lei e a julga. Quando você julga a Lei, não a está cumprindo, mas está se colocando como juiz””. [7] 

 

CONCLUSÃO

Se pudermos resumir este artigo em uma frase, ela seria: julgue menos, ame mais! Por quê? Como citado no inicio deste texto, julgar o próximo é o contrário de amá-lo! Precisamos parar de gastar tempo analisando pessoas a nossa volta e precisamos gastar mais tempo investindo em nosso relacionamento com Deus: orando, lendo a Bíblia, tendo comunhão com irmãos, lutando contra os nossos pecados e louvando a Deus! Precisamos parar de achar que somos a quarta pessoa da Trindade, que estamos a altura de Deus para julgar os outros. Precisamos parar de achar que somos melhores que os outros. Precisamos filtrar nossas palavras para agradarmos a Deus e deixarmos de prejudicar o próximo.

Querida leitora, JULGUE MENOS, AME MAIS!

Para terminar, uma oração para você e para mim:

 “Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador!”. Salmo 19.14