Chegou há pouco tempo a notícia da morte trágica por acidente automobilístico de uma jovem de 22 anos que acabara de entregar seu Trabalho de Conclusão da Faculdade. Convivi com ela por aproximadamente um ano quando ela tinha 17 quase 18 anos, triste demais. Ela estava vivendo o início de tudo, planos, projetos, sonhos… Tinha a vida inteira para curtir ainda. Pode ser que você tenha visto essa notícia ou outra parecida com essa, pode ser que seja a sua idade hoje ou alguém próximo a você teve alguma tragédia assim. Em você não fica um sentimento de impotência e fragilidade? Bem, essa notícia me levou a uma reflexão sobre como tenho aproveitado o meu tempo.

Sou uma pessoa que ama planejar o dia, a semana, o mês, semestre…TUDO! Quero controlar cada detalhe,e me frustro quando uma pessoa desmarca, ou quando não consigo cumprir os horários que tinha estabelecido. Enfim, normalmente acabo, além de ficar frustrada, irando-me às vezes, até ofendo outras pessoas por bobagem. Tudo isso por achar que controlo algo. 

Contudo, é incrível que quando não faço agenda ou planejamento, vou para o extremo, principalmente quando não tenho muitas tarefas. Acabo me desfazendo no ócio, deixando as poucas tarefas, embora importantes, de lado. Outras vezes, inverto prioridades, fazendo o que acho mais legal e deixando o que é mais importante de lado. 

Você está em qual dos dois extremos? É a controladora do tempo e espaço ou aquela que deixa tudo para em cima da hora?

Procurei na Bíblia como eu poderia aproveitar a minha vida sem cair em um dos lados e me deparei com Tiago 4.13-17:

“Ouçam agora, vocês que dizem: ‘Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro’.
Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa.
Ao invés disso, deveriam dizer: ‘Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo’.
Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna.
Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado.”

No contexto desse texto, os leitores entenderam bem essas afirmações, porque muitos judeus eram comerciantes que programavam seus negócios e ,normalmente, lucravam com tais viagens. Esse costume trazia para eles uma certa sensação de controle, já que “iam atrás” do sustento deles e conseguiam-no. E quando realizo um planejamento, parece que tenho a mesma sensação que esses comerciantes, já que tenho “assegurado” como será o meu dia quando o desenho, às vezes, até considerando uns imprevistos. 

A continuação do texto deixa claro que tal pretensão de controle é um atestado de orgulho, na verdade. Achar que planos com “previsões de imprevistos” são seguros é pura arrogância e autossuficiência. O alerta do apóstolo Tiago de que não temos esse poder é gritante: SOMOS FRÁGEIS MESMO! Nossa vida é um sopro. Pense na pessoa mais velha que você conhece e diga, ela tem controle de sua vida? Sabe quando morrerá? Muitas vezes, achamos que por termos experiências com decisões boas ou ruins que tomamos, somos agora infalíveis, que nosso plano é 100% seguro. Presunção nossa né?

Mas graças a Deus que Ele não só levanta os problemas, também dá a solução! No restante da passagem vemos que a grande mudança que deve haver em nós, pura neblina, deve ser mudar a perspectiva. O olhar deve ser de planejar de fato, porém considerando nossa impotência, e se firmando nAquele que é seguro. Por isso o autor diz “deveriam dizer: Se o Senhor quiser”, mas não como falamos hoje na nossa cultura sincrética que coloca o nome de Deus por costume. É considerar a soberania e controle de Deus e se submeter a isso, ainda que os planejamentos tenham sido feitos. E ser grato se algo mudar, ou for inusitado ao que se imaginava.  Fala verdade, você ora pra Deus falando para Ele fazer a vontade dEle, mas pensa que o seu plano é bem bom e que Deus pode seguir o que você já planejou? Isso é orgulho, vangloriar-se em tais “planos perfeitos”. Para Deus é considerado maligno, não por planejar, mas por desconsiderar Deus, fazer dEle seu servo, não temer ao Senhor como Ele merece ser temido.

Quando me deparei com o fim desse texto, lembrei de outra passagem, que mostra alguém que reconhece a necessidade de depender desse Deus eterno que controla nossa efêmera vida: Salmo 90. O capítulo todo é tremendo, mas nos versículos 1 e 2 destacam a eternidade de Deus e como isso assegura Deus como um refúgio, uma moradia segura. Logo em seguida, contrasta com a brevidade do homem, como a vida aqui é passageira e além disso (v. 3-6) é sem esperança (v. 7-12), sem Deus e sem Sua graça (v.13-17).

É tolice se vangloriar, valorizar mais os próprios planos e desconsiderar a soberania, poder e sabedoria de Deus. Sem Ele, NADA podemos fazer, Jesus nos alertou (Jo 15.5).

O outro extremo normalmente está ligado à preguiça e procrastinação, que me remete ao texto clássico do pai preocupado com seu filho jovem, Provérbios 6:4-11:

“Não se entregue ao sono, não procure descansar. Livre-se como a gazela se livra do caçador, como a ave do laço que a pode prender. Observe a formiga, preguiçoso, reflita nos caminhos dela e seja sábio! Ela não tem nem chefe, nem supervisor, nem governante, e ainda assim armazena as suas provisões no verão e na época da colheita ajunta o seu alimento. Até quando você vai ficar deitado, preguiçoso? Quando se levantará de seu sono? Tirando uma soneca, cochilando um pouco, cruzando um pouco os braços para descansar, a sua pobreza o surpreenderá como um assaltante, e a sua necessidade lhe virá como um homem armado.”

É bem nítido que há o incentivo de uma disciplina e planejamento para uma vida coerente com alguém sábio e bem orientado. Para que não haja desespero de prazo, ou uma ansiedade sobre conseguir ou não fazer tudo o que é necessário, deve haver planos e ação. Quando pecamos nessa parte de procrastinar, é um pouco mais fácil de identificarmos e até mesmo de outras pessoas perceberem, porque criamos outros compromissos ou substituímos obrigações por lazer. Por que será que nossa sociedade tem tido tantos casos de descontrole emocional? Será que as prioridades estão sendo trocadas? Avalie como está sua rotina, você está sempre se achando cansada? Achando que merece um descanso? Já assistiu umas 3 séries completas nessas últimas semanas? Seu Instagram está sempre atualizado? Você vê sempre está a par de tudo que anda acontecendo com as pessoas que postam stories? Talvez você precise olhar mais para as formigas.

Para mim, o mais difícil de identificar é quando estou querendo ser deus, controlando tudo. Você ora antes de preencher sua agenda? Você pede de coração para Deus fazer a vontade dEle? Qual é sua reação normalmente, quando não acontece conforme você planejou? Você agradece quando as circunstâncias te surpreendem? A quem você teme mais: ao futuro, o desconhecido ou a Deus, que pode ser conhecido por meio da Sua palavra?

Comecei contando de uma tragédia que me fez repensar sobre como curtir a vida e aproveitar bem o meu tempo, já que os dias são maus (Ef 5.16). Hoje a sociedade me diz, por meio das redes sociais e meios de comunicação, que para eu curtir a vida eu tenho que estar dentro de um padrão de beleza,  que tenho que mostrar como minha vida é feliz e tenho como medida do quanto eu curto a vida pelas  número de curtidas que recebo. Quanta bobagem!! Mas entra em nossa mente sem que percebamos, quando você percebe já está lutando em público ou chorando escondida por causas que não são expressivas na eternidade. Temos, muitas vezes, uma agenda lotada de “nadas” e pequenos atos eternos viram banais ou inexistentes na rotina. Vaidade! O melhor livro que faz uma crítica social que é sempre atual, porque sempre critica algo que não muda sozinho, o coração humano e sua insaciedade é Eclesiastes, mas esse mesmo livro me ensina o que é curtir a vida  de verdade, no final, em Eclesiastes 11.9-10 e 12.13-14:

“Alegre-se, jovem, na sua mocidade! Seja feliz o seu coração nos dias da sua juventude! Siga por onde seu coração mandar, até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas Deus o trará a julgamento. Afaste do coração a ansiedade e acabe com o sofrimento do seu corpo, pois a juventude e o vigor são passageiros.”

“Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem. Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal.”

Como você está curtindo a vida? Como alguém sábio que teme a Deus? Como alguém arrogante, que tenta ser deus? Como um preguiçoso que se desespera por não agir com prudência? O final de Tiago 4 diz Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado.”, reavalie como você define CURTIR A VIDA!