Quanta bagunça podemos encontrar em um castelo quando a mobília não se encaixa em seu espaço! Quanta bagunça podemos encontrar em uma vida que não sabe lidar com suas expectativas em um mundo real! É por isso que precisamos reconstruir nosso castelo pessoal da forma correta e, para isso, é necessário (1) esvaziar os cômodos, como vimos no último artigo, e (2) demolir esses cômodos, como veremos hoje! Somente após essas duas atitudes é que conseguiremos, então, construir um castelo firme e forte neste mundo real.

Esvaziar os cômodos, como já vimos, é tirar o foco dos nossos desejos e anseios e confiar nos planos de Deus para nós. E demolir os cômodos é destruir as expectativas que acreditamos serem reais, mas que, na verdade, não são. E qual a maior expectativa irreal que temos? Que nós não merecemos o sofrimento.

 

O sofrimento é certo

Quem no mundo quer sofrer? Ninguém! E quem acha que não merece sofrer? Todas nós! Infelizmente, nós acreditamos na mentira que diz que nascemos para ser felizes, e isso não é real. Como foi dito no primeiro artigo desta série, o maior plano de Deus para nós é a santificação!

Por causa do pecado, o nosso caráter foi deturpado e, por isso, nós não encontramos satisfação nem alegria somente no Senhor. Nós estamos constantemente em busca de outra coisa que nos traga felicidade. É por isso que o sofrimento se torna algo necessário, porque Deus, em Sua soberania e amor, usa situações difíceis e dolorosas para mudar o nosso coração a fim de que encontremos nEle a alegria verdadeira!

Quando olhamos para o Antigo Testamento e vemos o sofrimento do povo de Deus no deserto a caminho da Terra Prometida, questionamos por que Ele fez isso com Seu povo e Spurgeon respondeu essa pergunta de forma fantástica:

“Israel precisava adquirir educação. O Senhor não estava indo para levar uma multidão de escravos para Canaã… para se comportarem como escravos lá. Eles tiveram que ser tutelados. O deserto foi a Oxford e Cambridge para estudantes de Deus. Lá eles foram para a Universidade, e Ele os ensinou e os treinou, e tiveram que obter sua graduação antes de entrar na terra prometida. Não há Universidade para um cristão como o da tristeza e provação“.[1]

O povo de Deus precisou passar por tempos difíceis para ser lapidado e o mesmo é necessário hoje. O sofrimento é a universidade de que nosso coração deturpado precisa para nos mostrar quão pequenas nós somos e quão vazia é esta vida, a fim de que percebamos a grandeza do nosso Senhor e Seus planos! É por isso que não devemos olhar para nossas dores e dificuldades como algo que não mereçamos, mas como oportunidades para fixarmos em nosso coração o que realmente importa – Ele em nós!

Por isso, querida leitora, ao passar por momentos difíceis, lembre-se de que Deus está usando tal momento, mesmo que você não consiga enxergar, para o seu bem (Romanos 8.28). E se você não está passando por momentos difíceis agora, lembre-se de que eles certamente virão, pois o próprio Jesus disse que neste mundo passaríamos por aflições (João 16.33).

Nós temos esperança

Minha família viveu um momento muito difícil há alguns anos. Se você acompanha o blog há algum tempo, acompanhou conosco essa situação – a doença e falecimento da minha cunhada Amanda. No final de 2014, a esposa do meu irmão e mãe dos meus sobrinhos descobriu que tinha câncer de mama em estágio avançado e, durante o tratamento, meu irmão escreveu o texto a seguir:

“Muitas vezes a resposta que Deus tem para nosso sofrimento não é a substituição, mas a transformação. Não é saúde ao invés de doença, força ao invés de fraqueza, mas a experiência da suficiente e eficiente graça de Deus durante o período de sofrimento. Às vezes, Ele não remove o sofrimento, nem restabelece nossa força, mas nos oferece a força Dele para enfrentarmos nosso sofrimento e nossas dificuldades, porque a graça de Deus não é apenas um favor imerecido que salva, mas também um poder divino que nos sustenta nessa vida.

Em nossa fragilidade o poder de Deus fica evidente. Em nossa fraqueza temos espaço para a força que vem de Deus. No nosso sofrimento podemos experimentar a graça de Deus. Esta manifestação da graça de Cristo (2 Coríntios 13:14) era adequada para Paulo, fraco como estava, precisamente porque o poder divino encontra seu pleno alcance e força na fraqueza humana. Esta manifestação da graça de Cristo também é adequada para nossa família, e tenho certeza que é adequada para você também”[2]

Sim, Deus usa o sofrimento para nos moldar, mas não é só isso! Nós podemos ter esperança de que a graça dEle nos acompanha por todo o momento de fraqueza, pois, como meu irmão disse, “a graça de Deus não é apenas um favor imerecido que salva, mas também um poder divino que nos sustenta nessa vida”. Quando ele escreveu isso, ele ainda não sabia que minha cunhada faleceria tempos mais tarde, no entanto, essa graça que o sustentou no período de tratamento dela, é a mesma que o sustenta até hoje; e ela foi demonstrada por meio de irmãos que oraram, ajudaram financeiramente e passearam com as crianças; por meio de sorrisos que pareciam impossíveis de ser dados, noites bem dormidas e paz no coração.

Querida moça, para viver em um mundo real, precisamos entender que vamos passar por situações desconfortáveis, mas que tais situações não são ruins, elas sempre têm um propósito – nos moldar. Além disso, o próprio Deus garante demonstrar Sua graça durante todo o processo. Portanto, não desanime nem diga “eu não mereço passar por isso”, mas aproveite para experimentar o que Paulo experimentou:

“De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos”. (2 Coríntios 4:8,9)

Agora que já esvaziamos os cômodos e os demolimos, precisamos construir o castelo perfeito para este mundo real. E como faremos isso? Fique ligada, porque no último artigo da série, semana que vem, falaremos sobre isso!


[1] Spurgeon em “Marah Better Than Elim”, MTP 39, Sermão 2301, p.151 – http://www.josemarbessa.com/2016/09/dez-passos-com-spurgeon-na-escola-do.html.

[2] https://marceloberti.wordpress.com/2015/02/28/o-poder-da-fraqueza/