Nota: Este artigo é a continuação de dois artigos anteriores. Para ler a parte 1, clique aqui. Para ler a parte 2, clique aqui.

 

Hoje eu venho aqui de cara limpa contar um pouco da minha história pra vocês. Quando conversei com a Elisa sobre ajudá-la nessa série das “13 razões por que não”, com meu testemunho, nunca imaginei que seria tão difícil escrevê-lo. Confesso que, em certas medidas, foi até doloroso, mas também muito gratificante por ver o agir de Deus na minha vida. Espero que a minha história e, acima de tudo, o que Deus fez nela, possa ajudar você de alguma maneira.

Meu nome é Beatriz, tenho 20 anos e cresci em uma família religiosa e muito amorosa. Tive uma infância feliz e normal. O meu problema apareceu no início da minha adolescência, quando eu tinha por volta de 13 anos. Eu estudava em uma escola já fazia quase 10 anos, e era praticamente a mesma turma desde quando tínhamos entrado na primeira série. Todo mundo se conhecia muito bem. Até hoje não sei bem o que (nem por que) aconteceu durante o 8° ano, mas todos os meninos da minha sala começaram a me humilhar. Alguns me empurravam e davam tapas. Eles sempre “zuaram” meu corpo, por ser diferente das outras meninas da sala (como tive a primeira menstruação mais tarde que elas, meu corpo começou a se desenvolver depois), porque eu tinha o cabelo cacheado, e elas, liso, e coisas do tipo.

As meninas da minha sala não faziam nada, ainda que às vezes elas rissem e me excluíssem, mas isso também é um problema. Quem não faz nada se torna cúmplice de quem faz a ação. Foram coisas que hoje, aos 20 anos, eu daria risada de volta e seguiria minha vida normalmente, mas, aos 13 anos de idade, aquilo parecia o pior que podia acontecer comigo.

Aqui vai o meu conselho para você, pai, mãe, pastor, líder ou discipulador que está lendo esse texto. Você com certeza tem outros problemas para resolver, problemas maiores que a situação “chata” que fez seu filho chegar da escola chorando. Ou talvez, para você, existam coisas mais importantes acontecendo na igreja ou no grupo dos adolescentes naquele momento. Mas para aquele adolescente de apenas 13 anos, aquele problema que ele está passando é o pior da vida dele. Ele não vai pensar assim quando tiver 20, provavelmente vai perceber que aquilo não era tão grave, mas hoje aquilo é grave! Então, não despreze quando um desses te procurar pedindo ajuda. Assuma sua posição de liderança e trate aquilo como deve ser tratado, biblicamente, nunca desprezando algo só porque não parece importante aos seus olhos: algo muito pior pode estar se desenvolvendo por trás e, por negligência, podemos deixar de perceber.

Foi justamente esse tipo de coisa acontecendo na escola que me levou a um quadro de depressão. No começo, era só não querer ir pra escola. Depois, tirei todos os espelhos do meu quarto, porque não gostava de me olhar em um espelho. Daí comecei a perder a fome, a querer dormir muito e a chorar sempre. Até que, um dia, um dos meninos (que era um dos piores comigo) puxou meu braço e perguntou por que eu não me cortava, acrescentando que, na verdade, com tudo que eles faziam comigo, eu já deveria ter me matado. Depois daquele dia, comecei a me cortar e a ter vontade de morrer. Nunca cheguei a tentar suicídio porque, apesar de ainda não conhecer Cristo como Salvador, eu tinha um medo enorme de Deus. Mas todas as noites, antes de dormir, eu orava pedindo para que Deus me levasse, porque eu não queria mais continuar vivendo.

Durante o Ensino Médio, eu pedi para os meus pais para mudar de escola, sem falar o motivo, e eles me mudaram. Nessa nova escola, ninguém me conhecia e eu achei que seria uma oportunidade de fazer tudo diferente para que não acontecesse a mesma coisa que acontecia na outra escola, mas acabei me tornando uma outra pessoa e me envolvendo com pessoas que eu não deveria. Comecei um relacionamento que, quando acabou, me levou ao mesmo lugar de onde eu nunca tinha saído – a depressão. Aquele relacionamento só serviu como um “tapa-buraco” para o verdadeiro problema que eu tinha.

Depois de um tempo, fui passar uma semana no acampamento Palavra da Vida no Paraná e, naquela semana de 2015, eu reconheci quão pecadora eu era e quão distante de Deus eu estava. Reconheci que aquele buraco que eu sentia só poderia ser preenchido por Cristo e O recebi como Senhor e Salvador da minha vida.

Não estou dizendo, com isso, que no dia seguinte eu não tinha mais depressão. Esse ainda foi outro processo longo (o de me recuperar totalmente) e, sim, houve recaídas das quais eu achei que não fosse melhorar. A diferença, agora, é que toda a minha esperança não estava mais ancorada em um namoro, nos meus pais ou amigos, e nem mesmo na igreja. A minha esperança estava ancorada em Cristo.

Quero deixar claro aqui que não penso que “depressão é falta de Deus”, ainda que, em alguns casos, possa ser. Existem casos de depressão em que você precisa de um acompanhamento de um profissional da saúde, seja um psicólogo ou psiquiatra, e podem existir também problemas hormonais que desencadeiam esse estado depressivo e que precisam ser corrigidos com remédios ou suplementos. Eu frequentei uma psicóloga por um tempo, e ela não foi capaz de me dar nenhuma solução, mas ela foi excelente em me mostrar o quanto esse meu passado com a minha antiga escola ainda me fazia mal e não tinha sido devidamente resolvido.

Com tudo isso em mente, deixo quatro conselhos para a sua reflexão, caso você esteja passando por isso ou conheça alguém que está enfrentando esses problemas.

1. Todas as coisas cooperam para o bem.

“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”. (Romanos 8.28).

Todas as coisas cooperarem para o bem não significa que tudo vai dar certo. Significa que todas as coisas que acontecem conosco servem, de alguma maneira, para nos tornar mais parecidas com Cristo e para dar a Ele a glória. Durante muito tempo eu me perguntei por que Deus teria deixado coisas tão ruins acontecerem comigo. Deus não tinha “obrigação” nenhuma em me responder, mas eu enxerguei um exemplo do “todas as coisas cooperam para o bem” no dia em que pude ajudar uma menina de 13 anos que passava pela mesma situação, e vi que ela só teve coragem de se abrir comigo porque viu que eu seria capaz de entendê-la. Pronto, ali eu entendi um pouquinho, mas o suficiente, dos propósitos de Deus. Se o propósito dEle de me deixar passar por isso foi para que eu pudesse usar isso no futuro para conduzir meninas a Cristo, então glória a Deus por isso.

Se você está passando por algo parecido com o que eu passei, talvez Deus nunca vá te deixar ver um pouco dos propósitos específicos dEle como eu, mas isso não quer dizer que eles não existam. Nosso Deus é Soberano e não faz nada sem um propósito. Ele tem controle de toda a sua vida (Mt 6.26-27), Ele te formou e te criou (Sl 139.13) e Ele determinou como seriam seus dias mesmo antes de você nascer (Sl 139.16). Ele nunca perdeu, nunca perde e nunca perderá o controle! Não pense que com a sua vida seria diferente.

  1. O pecado nunca é fonte de solução.

Esse foi o primeiro ponto do primeiro texto que a Elisa escreveu. Se você ainda não leu, te aconselho a lê-lo o quanto antes. Qualquer pecado que seja nunca vai solucionar seus problemas, ele apenas vai criar piores, mesmo o suicídio. A sua vida não é sua, ela não te pertence. Ela foi dada por Deus e pertence a Deus, portanto você não tem autoridade para tirá-la. Qualquer pensamento que você tiver em relação a isso está baseado em mentiras, como “ninguém gosta de mim” ou “se eu me matar, não vou fazer falta”. Não aja com base em mentiras. Renove a sua mente com a Verdade da Palavra de Deus.

  1. Libere perdão

A principal (e mais bonita) parte da história do Evangelho é que Cristo nos perdoou de todos os nossos pecados e entregou-Se em nosso lugar para aplacar a ira do Pai. Mesmo sendo Deus, e tendo todos os motivos para nos condenar à ira eterna, que seria justa, Ele escolheu pela Sua boa vontade nos salvar e nos redimir dos nossos pecados.

Se Deus nos perdoou de todos os nossos pecados, quem somos nós para decidir não perdoar alguém que nos fez mal? Cristo perdoou coisa muito pior. Não estou te dizendo que isso vai ser fácil, ou que do dia para noite você terá perdoado alguém totalmente. Isso é um processo, longo e doloroso, onde, talvez, a outra parte nunca vá reconhecer que errou e te pedir perdão, mas isso não elimina o fato de que, como cristãos, devemos estar prontos para perdoar.

  1. Procure ajuda!

Última coisa, mas com certeza não menos importante, procure ajuda! Se você está passando por qualquer problema que seja de depressão, automutilação, pensamentos suicidas ou algo do gênero, não hesite em pedir ajuda. Peça ajuda aos seus pais, a um professor em quem você confie, a alguma amiga madura, ao seu pastor, líder, à esposa do pastor, etc. Existem pessoas que se importam com você, que te amam muito e sentiriam a sua falta se algo acontecesse com você. Essas pessoas estão dispostas a te ajudar, mas muitas vezes nem sabem o que está acontecendo. Peça ajuda!