Já aconteceu de você receber algum convite para um evento, em um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas? Algum chá, sair pra comer, reunião de jovens, passeio, pic-nic, churrasco ou alguma coisa do tipo? Não sei pra você, mas eu me sinto desconfortável e perdida, uma estranha no ninho. Se tiver pelo menos uma pessoa que eu conheça, aí a situação fica “menos pior”, contudo, ainda assim posso relutar em aceitar. Não sou o tipo de pessoa que ao chegar em um novo lugar já facilmente se enturma, faz amizades, entra fazendo piadas e brincadeiras e ganha a simpatia de todo mundo. Não, nessas situações novas, sinto-me no meu canto, e fico só observando. Como será que as pessoas lá são? Como se vestem e o que iriam achar da minha roupa? Vou me sentir incluída ou vou ver só panelinhas? Vou ter assunto para conversar com os outros? Muitas são as perguntas e talvez, como meninas, criamos ainda muitas outras. Às vezes posso quase que imaginar o desastre que vai ser se eu aceitar o convite e ir. Mas, ultimamente, tenho percebido um outro lado em tudo isso.

Por causa da faculdade saí de casa e mudei-me para uma cidade a uns 500Km de distância. Fui visitar algumas igrejas e conhecer os grupos de jovens para encontrar uma que pudesse frequentar e me sentir acolhida. Igrejas grandes e pequenas, com diferentes estilos e tipos de cultos e comunhão. Como visitante, vi-me na situação que descrevi acima. Nem sempre fui acompanhada por pessoas com quem eu já tinha algum contato e que poderiam fazer alguma ponte e lá estava o certo desconforto. Mas isso abriu os meus olhos para perceber duas coisas e quero focar mais na primeira.

Primeiro: Qual deve ser a postura da igreja, que é o corpo de Cristo, em relação aos novos “agregados”? E segundo: Parte do meu entrosamento naquele lugar e com aquelas pessoas depende também de mim (o que é um desafio pessoal e oooutro capítulo).

Coloquei-me no lugar de uma pessoa qualquer, que talvez por mero interesse ou curiosidade tenha resolvido entrar no culto de jovens, num churrasco da célula ou qualquer outra programação da igreja. Com seu estilo, seu cabelo, sua roupa, seu linguajar, como seria recebida? No meio da programação já definida e corrida, de tantas pessoas e panelinhas, seria percebida caso não tivesse o “se você é visitante por favor levante uma das mãos ou fique de pé” (que me deixa vermelha!)? Ela se sentiria bem-vinda e acolhida? Entenderia e se sentiria bem com o “evangeliquês” e as piadas de crente?

Pensando sobre isso, vieram à tona dois trechos de algumas músicas que se encaixam muito bem aqui também. “Jesus, a Tua igreja está frequentemente vazia, tem algo a ver que muitos nem te encontram mais por lá?”- Siegfried Fietz (Jesus Hilf Uns Allen) e Casting Crowns canta “Mas se nós somos o corpo, por que Seus braços não estão alcançando? Por que Suas mãos não estão curando? Por que Suas palavras não estão ensinando? E se nós somos o corpo, por que os Seus pés não estão indo? Por que o Seu amor não está mostrando para eles que há um caminho? Há um caminho.” (If we are the body). Sim, há um caminho, e podemos refletir a respeito. Temos uma responsabilidade. O que estamos fazendo com ela? Hoje, sentindo-me parte de um grupo de jovens, vejo como é fácil se acomodar, ainda mais se o grupo é menor. Quando há visitante não tem como não perceber. E como eu lido com isso? Para mim é muito mais fácil continuar na situação em que estou, mas também não posso esquecer que já estive no lugar em que aquela pessoa está agora. “Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.20). E Mateus 25.30 continua com uma descrição de demonstrações de amor (vale a pena dar uma lida), dizendo “O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram”. Amor. Aí está a resposta. E há tantas maneira de demonstrar esse fruto!

Muitos conhecem e têm aquela pulseira W.W.J.D (O Que Jesus Faria), e pego-me às vezes pensando em como será que Jesus receberia um visitante em Sua casa. É dessa maneira que eu também quero fazer. Quero que a pessoa se sinta segura, acolhida, parte do todo. Que ela não seja vítima de meros pré-conceitos, julgamentos e estrutura de panelas (com tampa muitas vezes), que ela não se sinta observada e comentada da cabeça aos pés, a menina ou o menino que veio para arranjar alguém, ou que pode me ser útil por causa de status, beleza, simpatia ou dinheiro. Em Filipenses 2, lemos, a partir do verso 3: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” Aí está o caminho, temos o exemplo.

“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles façam a vocês; pois esta é a Lei e os Profetas.” Mateus 7.12

Em alguma situação da sua vida você também já foi uma estranha no ninho como eu. Vejo como foi importante para eu ter pessoas que tinham a atitude acolhedora e de como isso me facilitou o caminho também, encorajou e serviu de exemplo, para que estando eu agora deste lado da linha (pelo tempo que Deus quiser) também seja um braço do corpo que alcança, uma mão que cura, uma boca com palavras que ensinam e confortam, pés que vão e alguém disposto a amar como Ele nos amou primeiro. Quero te incentivar a buscar sair da zona de conforto, receber os estranhos no ninho que aparecem ao seu lado, no “seu” ninho, e a fazer a diferença não só com palavras, mas com as atitudes da sua vida. É uma responsabilidade grande, mas creio e percebo como Deus nos capacita para isto. Um sorriso, um abraço, uma conversa e um copo de água podem significar muito mais do que um simples “seja bem-vindo”.

Por Elisabeth Bergamnn