“Porque, naquele dia, se fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os vossos pecados, perante o Senhor.” Levíticos 16.30

Na literatura ocidental, o clímax de um livro, o ponto mais alto da história, vem perto do final. Pense no último livro de ficção que você leu ou filme de aventura que assistiu. No entanto, na literatura hebraica, esse ápice está normalmente no meio. Como vimos semana passada, no meio de Levíticos está o Dia da Expiação. Se não bastasse isso, como Levíticos é o livro do meio da Torah, o Dia da Expiação está no meio da Torah, ou seja, ele é o ápice da Lei Judaica.

Mas o que é o Dia da Expiação? Acompanhe comigo.

Se você já leu o livro de Êxodo, viu nos capítulos de 25-31 ou 35-40 como o Tabernáculo deveria ser construído, de acordo com as especificações divinas. Ele era dividido em três partes (veja desenho abaixo): a parte externa era o átrio (pátio), onde ficavam o altar do holocausto (onde os animais eram sacrificados) e o lavatório (bacia) de bronze, e era o único local onde o povo podia entrar; a parte interna tinha uma divisão – o Santo Lugar e o Santo dos Santos. Enquanto o Santo Lugar era frequentado pelos sacerdotes, sua presença era proibida no Santo dos Santos, salvo uma exceção: o Sumo Sacerdote deveria entrar lá no Dia da Expiação. Por quê? Porque lá Deus estaria presente.

 

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Deus diz em Levíticos 16.2 que pousaria sobre o propiciatório (ou, em alguns lugares, “o assento da misericórdia”), que ficava em cima da Arca da Aliança no Santo dos Santos. Ali era onde Deus se sentaria e de onde dispensaria misericórdia (favor imerecido) ao homem quando o sangue da expiação fosse aspergido.
Mas o que significa “expiação”? Expiar significa “cobrir, tirar a impureza, sofrer a consequência de, cumprir a pena, purificar”(1). A promessa de Deus feita no nosso versículo chave é “Porque, naquele dia, se fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os vossos pecados, perante o Senhor.” (v.30)

Neste dia, o Sumo Sacerdote deveria entrar no santuário vestido com as suas roupas sagradas de serviço, após tomar um banho, e então, sacrificar um novilho pelo seu próprio pecado, preparando-se para entrar puro na presença de Deus no Santo dos Santos. Depois disso, com seu pecado expiado, ele tomaria dois bodes, trazidos pelo povo, e lançaria sorte sobre eles: um seria sacrificado ao Senhor e o outro seria o “bode emissário” (ou “bode expiatório”), solto no deserto.

Eram duas as ações do sacerdote naquele dia: a primeira era o aspergir do sangue do novilho, e depois do bode, sacrificado sobre o propiciatório e sobre o altar (“derramamento de sangue”); a segunda era a imposição de mãos sobre a cabeça do bode vivo, somado à confissão dos pecados de Israel, antes de soltá-lo no deserto. Somente através da oferta de sangue que a condenação da Lei pode ser tirada e as violações das leis de Deus cobertas. O pecado havia sido coberto pelo sangue do sacrifício e removido do povo.

Hebreus 9.22 diz que “sem derramamento de sangue, não há remissão (de pecados).” Ao final deste dia, todos os pecados do povo de Israel teriam sido perdoados. No entanto, como pecadores, não demoraria muito até que outro sacrifício fosse necessário e, por isso, a ordem de comemorá-lo uma vez ao ano.

O que isso tem a ver conosco? Essa é uma resposta muito profunda. Sugiro que você pense um pouco em algumas indicações que dei neste texto. Semana que vem falaremos um pouco mais sobre o significado do sacrifício e na última devocional do mês pensaremos mais profundamente sobre a presença de Deus entre o povo. Mas quero encerrar esta devocional com este texto de Hebreus 9.27-28:

”E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.”

A morte de Jesus foi o dia da nossa expiação, mas não um dia a se repetir todo ano, como era para os judeus. A morte de Jesus foi um sacrifício muito superior, porque é único, permanente. Jesus não precisa entrar no santuário de novo.

Assim como o Dia da Expiação era o centro da lei judaica, a cruz é o centro do plano de Deus de estar conosco para sempre. Assim, o nosso dia da expiação é o centro não apenas da nossa história, mas o centro da nossa vida, na lembrança dAquele que entregou Sua vida pela nossa.

Oração: Senhor, é misericórdia Tua me escolher quando ainda pecadora. É imerecido que eu receba a vida do Teu Filho em meu lugar. Obrigada por me escolher para ser Tua filha. Ajuda-me a viver à luz da Cruz, tendo Jesus e seu sacrifício como o centro, o foco e a razão do meu viver. Amém.

(1) Significado de Expiar – https://dicionario.priberam.org/expiação