Chatas… Isso, isso mesmo. Chatas. Seria possível resumir assim a maneira como enxergamos vocês naqueles dias. Mas, por favor, não fiquem bravas comigo nem deixem de ler o artigo.

Embora realmente pensemos isso, repare: eu disse “seria possível”. Essa é só umas das maneiras como poderíamos defini-las ou tratá-las. Dada a complexidade das mulheres (e não quero dizer só no sentido de que são difíceis de entender, mas de que não são normais, previsíveis, simples… Isso é um elogio!) e a base sobre a qual construímos nosso pensamento (a Palavra de Deus, ok?), essa, sem dúvida, não é minha opção de tratamento com esse delicado momento de vocês.

Minha principal reação nesses dias é, na realidade, a preocupação. Explico:

Há algum tempo, minha família conviveu com duas senhoras vítimas de Alzheimer. Uma delas tornou-se uma pessoa muito difícil, agressiva, impaciente e reclamona, alguém cuja companhia era evitada por todos. Outra delas, uma amável velhinha da igreja que eu frequentava, recitava aos quatro cantos do mundo versículos bíblicos, experiências com Deus vividas na infância. Frequentemente, pedia àqueles com quem se encontrava uma lista de motivos pelos quais ela pudesse orar (ainda que passássemos a lista umas duas vezes por semana!). Aqueles que precisassem de conselhos sobre como educar os filhos encontravam nela gentil e disponível sabedoria. Era dona de um contagiante otimismo e sensível foco no mover de Deus, de maneira que sempre tinha algo pelo que ser grata. Isso, somado às trapalhadas geradas pela confusão da doença tornavam aquela doce anciã uma companhia desejada por todos.

Ok. Esse blog é sobre meninas, não sobre velhas. Sem dúvida, a história dessas duas não é sobre TPM. É, contudo, uma história sobre o que acontece quando retiramos algum filtro e podemos, de alguma maneira, ser aquilo que realmente somos, ou ainda, fazer aquilo que realmente somos. Lembro-me da primeira senhora esbravejando diversas vezes: “eu sou uma velha. Já engoli muito sapo nessa vida. Agora, eu falo o que eu quiser. Alguém vai me prender?!”. Na mente dela, a avançada idade lhe deu o direito de dizer coisas que, quando jovem, não podia. Mas qual a diferença entre as duas? Por que elas, embora vítimas da mesma doença, responderam de maneira diferente?

Não desconsidero as alterações emocionais que físicas que a doença promove, mas a questão principal é o coração[1]. Quando o Alzheimer retirou delas o “filtro” do socialmente aceito, do pudor e do agradável, sobrou o que elas realmente cultivaram no coração ao longo da vida. De uma saiu rancor, ódio, pessimismo e chatice. Da outra, amabilidade, cuidado, otimismo e gentileza. O Alzheimer não as tornou daquela maneira, apenas evidenciou aquilo que já eram.

Minha preocupação, então, está no fato de, muitas vezes, a TPM ser uma das retiradas de filtro e aquilo que se mostra nessas ocasiões é o conteúdo do coração de vocês. Ainda que haja um desajuste hormonal e uma série de reações químicas acontecendo no corpo, o que, muitas vezes, fica evidente é o desejo de um coração pecaminoso gritando por satisfação irrestrita, imediata e incontrolada.

A TPM é um forte indicador daquilo que tem sido cultivado no coração nos dias que a antecedem. Meu coração pastoral se compadece, pois tento verificar como poderia ensinar minhas ovelhas sobre o valor do tempo com Deus no combate aos desejos egoístas que guerreiam dentro do coração delas. Como amigo, envolvo-me em misericórdia e graça a fim de permanecer apontando a Palavra como o poder disponível para educar o coração no processo de levar todo pensamento cativo até que se submeta à autoridade de Cristo. Como namorado, sou tomado por um santo temor de como auxiliar minha namorada na jornada de viver com e para Cristo ao ponto de a TPM expressar um coração voltado para Ele, grato e disposto a se entregar à luz do exemplo de Cristo.

Eu oro para que vocês tenham igrejas, pais, amigos, namorados e maridos suporte nesse processo, auxiliando-as na árdua tarefa de glorificar a Deus quando as circunstâncias (internas ou externas) empurram vocês para direções diferentes; contudo, a falta de apoio não pode ser argumento que lhes licencie o pecado, pois o poder de Deus já nos deu tudo aquilo de que precisamos para a vida e para piedade[2].

Meu desafio é que você busque neste poço inesgotável todo poder de que precisa para lidar com a TPM e busque ainda a graça para socorrê-la no momento difícil, mas, antes tudo, é para que o seu coração esteja alicerçado nEle, deseje o que Ele diz ser desejável, ame o que Ele diz ser digno do seu amor. Que o coração de cada uma de vocês transborde da vida do próprio Cristo.

Por Daniel Simões


[1] Esse conceito permeia as Escrituras. O coração é o centro de comando de todo homem e o que vai dentro dele é evidenciado por meio de palavras e atitudes:

“Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias” (Mt 15.19).

“… Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12.34)

“De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês?” (Tiago 4.1).

[2] 2Pe 1.3