Há exatamente uma semana meu marido e eu nos mudamos para uma nova cidade. Foram caixas e mais caixas que não acabavam mais com todas as nossas coisas, tivemos que vender alguns móveis, os demais foram todos empacotados, fizemos uma limpa em roupas e objetos que não usávamos mais somada à uma faxina para tirar toda a sujeira que a mobília impedia de alcançar. Na casa nova, pintamos as paredes, resolvemos questões de contrato, instalamos o ar condicionado, mudamos o gás, penduramos os móveis e tivemos que comprar alguns novos, as caixas foram abertas uma a uma e uma nova organização teve que ser feita pois o espaço anterior era diferente do espaço que temos agora.  Quanta coisa para fazer, planejar, decidir… Parecia que não iria acabar nunca! Mas agora está chegando ao fim. Quase tudo resolvido. Eu já tinha me mudado algumas vezes e, ainda que não tenha saído ilesa das fortes emoções que uma mudança dessas proporciona, eu tinha uma certa noção do que me esperava. Já meu marido foi marinheiro de primeira viagem. Em vários momentos percebia seu semblante pesado, preocupado, cansado com tudo que tínhamos para resolver. Olhando para trás e analisando todo nosso percurso, a única conclusão a que chego é que mudança dá trabalho, exige esforço, exige disposição e causa exaustão. E isso me fez pensar sobre minha vida espiritual pois nós somos chamadas a uma vida de mudança e esta, de igual forma, dá trabalho, exige de nós esforço e disposição e pode nos levar à exaustão.

CS Lewis tem uma frase muito famosa que diz “se eu fosse te indicar uma religião para se sentir confortável, certamente não te indicaria o Cristianismo”.  Gosto de pensar no significado dessa frase à luz da verdade de que a salvação nos foi oferecida sem custo algum, mas a mesma Graça que nos alcança de graça não nos permite ficar como estamos. Há pecado em nós, e isso mancha nosso relacionamento com Deus. O convite do cristianismo é para reconhecer isso e lutar a cada dia contra esse mal que habita em nossos corações. Por isso o cristianismo não é confortável: ele nos demanda mudança e mudar dá trabalho.

O texto de Romanos 12:2 é muito conhecido mas sinto que nem sempre é levado a sério. Ele nos exorta a não nos adequarmos à forma de pensar desse mundo, mas a sermos transformados em nossas atitudes em consequência de uma mudança de mente. A finalidade disso é que comprovemos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus e essa frase, aplicada tantas vezes de forma errada, significa que a vontade de Deus é que através das nossas mudanças nós sejamos moldados a cada dia à imagem de Cristo, que foi manso e humilde.

Como está seu coração? Você reconhece orgulho em sua vida? O desejo de estar sempre certa a despeito de ser gentil? A falta de misericórdia com os erros daqueles que estão mais próximos a você? A vontade de que tudo seja feito do seu jeito? O desejo de ser independente e não precisar de ninguém? A insubordinação a seus pais e ao que eles pensam, independente de quem sejam? A amargura e falta de perdão contra alguém que te machucou? O senso de justiça própria? Nosso coração é desesperadamente corrupto e o convite do evangelho é que lutemos contra ele. Mas a diferença entre a Bíblia e um livro de auto ajuda é que ela nos oferece a esperança para essa jornada. Em João 15:5 Jesus nos ensina que sem Ele nós não podemos fazer nada. Sem Cristo a mudança é impossível. Com Ele, ela é árdua, mas possível. Sua Graça nos capacita a sermos o que jamais seríamos sem a presença do Espírito Santo em nós. Por mais difícil que seja, a mudança é possível e glorifica a Deus.

Depois das longas semanas em que estive de mudança, hoje posso passear por minha casa e achá-la linda! Amo ver tudo organizado, cada coisa no seu devido lugar e a decoração que eu sonhei tomando forma. Há uma recompensa final que faz tudo valer a pena. Em nossa vida espiritual não é diferente. Há uma segunda mudança que nos aguarda na reta final desta vida aqui, quando seremos transformadas num corpo de glória, sem a presença de pecado, tristeza ou dor. A luta que enfrentamos diariamente aqui para nos amoldarmos ao padrão de Cristo deve nos levar a olhar para o alto e contemplar a recompensa final: a plenitude da vida ao lado do Pai. Que possamos afirmar todos os dias, com o coração cheio de esperança, que estamos de mudança.