​Escrevi essa frase em letras garrafais no meu caderno, no dia 15 de dezembro de 2016. Essa frase expressava mais do que uma notícia ou uma informação, ela estava carregada de emoções, sentimentos e, para não perder o costume, pecados…

​“Fui imprudente! Deveria ter me cuidado mais! Não queria filho agora! Não estou preparada para ser mãe! Minha vida nunca mais será a mesma, vou perder minha liberdade!  O que será do nosso casamento? Preciso me disciplinar agora! Não vou mais poder comprar coisas para mim! Como vou reagir emocionalmente? Tenho medos! Medo de enlouquecer, de dar trabalho para o meu marido, de não ter paciência, de ficar gorda e não voltar ao meu corpo, de que o romantismo acabe, de o sexo não ser mais satisfatório depois que ela nascer…”.

​Sim, essas frases são minhas. Anotei uma a uma no meu caderno e orei entregando cada pensamento ao Senhor, pedindo a Ele que me ajudasse a viver os dois textos abaixo:

​“Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas” (Fp 4.8).

​“Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (2Co10.5).

​Não foi de imediato, e muito menos natural, viver essa mudança de mente. Conversando com algumas mulheres que compartilharam suas experiências sobre a descoberta da gravidez, conheci histórias mais difíceis do que a situação que vivi, as quais explicavam suas reações negativas… E mesmo diante de situações mais difíceis, a maioria delas viveu essa negação por no máximo quinze dias, eu lidei por quase três meses. Nada além do que meus pecados influenciando minhas emoções…

​Quando divulguei a notícia, a alegria de todos que a recebiam me envergonhava… “Todos estão felizes pela minha gravidez, menos eu…” – pensava. Mais uma vez clamei ao meu Senhor apresentando meu coração pecador, meus medos e dúvidas foram expressos em lágrimas e, nesse momento, alguém me veio à memória: Maria de Nazaré. Por isso, gostaria de convidar você a ler os textos de Mateus 1.18-25 e Lucas 1.28-38, a partir dos quais tiraremos preciosas lições para essa fase da vida.

​Nessas porções das Escrituras, ficam claros alguns aspectos sobre a situação em que Maria estava: uma adolescente grávida, num compromisso de noivado, que corria o risco de ser deixada pelo seu noivo e que vivia debaixo de uma lei cuja condenação contra o adultério era muito severa (pois era isso que pensariam dela). Qual era a chance de Maria receber tal notícia com entusiasmo? Sinceramente? Nenhuma.

​Maria era “gente como a gente”, provavelmente cheia de sonhos, planos e expectativas. Uma moça prestes a se casar, crente exemplar, que cuidava da sua santidade e pureza. Era jovem, realmente muito jovem, entre 15 e 17 anos, ou seja, não era uma mulher experiente, madura ou preparada para o que poderia enfrentar. Maria era virgem. Ela não tinha experimentado o sexo, portanto não esperava por uma gravidez, simplesmente porque ela não fazia nada que pudesse engravidá-la. De repente, estava diante de uma situação pela qual teria a possibilidade de lidar com as consequências cabíveis a alguém que tivesse cometido adultério. E você? Se você já passou ou está passando pela gestação, em qual situação você recebeu a notícia da gravidez?

​Lembro-me da minha. Era bem diferente da de Maria: eu estava casada, não corria riscos de ser deixada por meu marido, não era uma adolescente, não estava à mercê de nenhuma lei que condenasse minha gestação nem sujeita aos julgamentos da sociedade. Eu estava melhor que Maria, mas minha reação foi pior que a de Maria. Ela sim teria motivos para questionar-se e amedrontar-se, afinal, ainda que fosse o Filho de Deus, era por meio de seu ventre que viria ao mundo. Ela amamentaria, educaria, amaria, doaria de si, renunciaria algumas fases de sua vida e de seu casamento para, não apenas engravidar, mas criar Jesus e um dia vê-lo morrer inocentemente. Ela sabia disso o tempo todo, e como ela reagiu?

​O trecho de Lucas 1.28-38 descreve a reação de Maria. Ela é visitada por um anjo e, naquela época, essa visita era sinônimo de que algo inesperado aconteceria… Por isso o temor quando ele a encontrou (vs. 29,30): “Mas o anjo lhe disse: Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus!”.

​O anjo afirma à Maria que ela era agraciada, poishavia sido escolhida por Deus para receber uma benção que lhe seria grande motivo de alegria. Ela não precisavatemer porque o Senhor estava com ela.

​Nessa narrativa, algumas características sobre Deus ficam evidentes: Ele é presente e não abandonou Maria, muito pelo contrário, Ele estava com ela. Ele é gracioso e abençoou a jovem. É sábio e detalhista, mandou um anjo para falar com ela, e depois para falar com José, para que não houvesse confusão. É amoroso pois através do anjo assegurou que ela não deveria temer. Ele é soberano e onisciente, já sabia que ela teria medo, sabia que José não entenderia de imediato e mandou um mensageiro para explicar Sua vontade. Deus é o Senhor da vida de Maria, isso significa que Ele reinava sobre sua vida, planos e decisões, por isso, Ele a escolheu. Qual era a chance de Maria se desesperar diante desse Deus? Sinceramente? Nenhuma.

​O Deus presente, gracioso, sábio, detalhista, amoroso, soberano, onisciente e Senhor, continua sendo o mesmo Deus! E aqui está a explicação para uma reação tão submissa por parte de Maria: ela não apenas sabia que Deus era tudo isso, ela tinha fé em Deus por saber quem Ele é. Maria não recuou em aceitar a vontade de Deus (vs. 38) porque ela já havia se rendido ao seu senhorio e, assim como antes, ela permaneceria servindo-o.

​Meus olhos se abriram! Era isso: a maternidade era uma graça de Deus, a maternidade era mais uma forma de servir a Deus, a maternidade era mais uma situação permitida e regida por esse Deus. Meu desafio era reagir como Maria, baseando-me na fé de quem Deus é esujeitando-me à Sua vontade com alegria.

​Você pode ter inúmeros motivos que servem de justificativa para a gravidez ser inoportuna, incômoda e frustrante, assim como Maria teve. Você pode usar desses motivos como álibi para permanecer triste, deprimida edesesperada. Ou, como Maria, você pode entregá-los ao Senhor, bem como a direção de sua vida! A gravidez pode ser o seu ponto de partida para uma dependência real do Senhor. Lembre-se de quem o Senhor é! Lembre-se do que o Senhor já fez!

​Quantas coisas você já escolheu fazer mesmo sabendo que teria consequências drásticas? Diferente de Maria, você fez algo para engravidar. Então, porque a gravidez deve ser encarada como uma consequência mais drástica do que as outras que você já experimentou? Através do exemplo de Maria temos esperança, porque o mesmo Deus que a capacitou para enfrentar muitas situações difíceis (a gravidez foi só o começo da jornada) também nos capacita, age com sabedoria e graça e está sempre presente.

​A minha situação expôs meu egoísmo, meu desejo por controle, as mentiras da minha mente, meu medo, minha ansiedade, minha autossuficiência e, principalmente, minha incredulidade. E através da vida de Maria aprendi que a oração, a gratidão e a fé são o tripé da dependência de Deus. Você ora porque confia, você agradece porque não merece, você crê porque conhece.  Quando você entrega sua vida para que o Senhor reine, você não teme as circunstâncias que Ele permite que aconteçam, porque você sabe quem Ele é.

​Hoje, três anos depois da minha descoberta, posso dizer que não há nada nesse mundo que substitua um filho, nada que pague, nada em que valha mais a pena empenhar meu esforço físico e mental! Eu experimento da graça e dependência de Deus todos os dias. A maternidade é uma das formas mais prazerosas e lindas que Deus me deu para servi-Lo!

​Maria é um grande exemplo para nós. Que tenhamos tamanha dependência e fé no conhecimento de quem Deus é, a ponto de declararmos como ela: “Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra” (vs. 38).