*** Esta é a segunda devocional de uma série em Filemom. Se você perdeu a anterior, sugiro que volte e leia para que aproveite melhor esta e a próxima. Você pode encontrá-la clicando aqui.

Sempre dou graças a meu Deus, lembrando-me de você nas minhas orações, porque ouço falar da sua fé no Senhor Jesus e do seu amor por todos os santos. Oro para que a comunhão que procede da sua fé seja eficaz no pleno conhecimento de todo o bem que temos em Cristo. Seu amor me tem dado grande alegria e consolação, porque você, irmão, tem reanimado o coração dos santos. Por isso, mesmo tendo em Cristo plena liberdade para mandar que você cumpra o seu dever, prefiro fazer um apelo com base no amor.

O apóstolo Paulo começa esta carta com ação de graças e oração. Ele expressa a sua gratidão por Filemom e diz como tem orado por ele. Vamos observar esses dois pontos. Primeiro, que características/atitudes de Filemom levavam Paulo a dar graças a Deus? Leia o texto de novo. Conseguiu perceber? Paulo agradecia a Deus porque ouvia falar da sua fé no Senhor Jesus e do seu amor por todos os santos. Ele também afirma que Filemom lhe trazia grande alegria e consolação por causa de seu amor e por reanimar o coração dos santos. Fé em Cristo e amor pelos santos (ou seja, pelos irmãos em Cristo). É interessante notar que essa “dupla” — fé e amor — está presente em outras cartas paulinas também.

“[…] Boas notícias a respeito da fé e do amor que vocês têm” (1 Tessalonicenses 3.6)

“Temos ouvido falar da fé que vocês têm em Cristo Jesus e do amor por todos os santos” (Colossenses 1.4)

“O objetivo desta instrução é o amor que procede […] de uma fé sincera” (1 Timóteo 1.5)

Coincidência? A verdade é que existe uma relação estreita entre a fé no Senhor Jesus e o amor pelos santos. A fé em Jesus se traduz em amor pelos santos. O amor verdadeiro é uma manifestação da fé verdadeira. O relacionamento vertical (com Deus) transforma os relacionamentos horizontais (especialmente com os irmãos em Cristo). Paulo se alegra porque reconhece em Filemom essas duas marcas — a fé em Cristo e o amor pelos santos. Mas o apóstolo também descreve a forma pela qual tem orado por Filemom. Você consegue descobrir? Verifique no texto. Confira também o versículo 6 nessa outra versão (NVT):

Oro para que você ponha em prática a comunhão que vem da fé, à medida que entender e experimentar todas as coisas boas que temos em Cristo.

Novamente vemos a relação entre fé e amor. A comunhão (entre os irmãos em Cristo) procede da fé em Cristo. A fé individual em Cristo leva à comunhão com outras pessoas que compartilham da mesma fé. E o entendimento e desfrute das coisas boas que temos em Cristo é o que nos leva a uma comunhão eficaz com nossos irmãos. Pelo que parece, Paulo ora para que Filemom continue crescendo no entendimento e no desfrute das bênçãos que temos em Cristo e, assim, como consequência, continue crescendo no amor pelos santos, pondo em prática a comunhão que a fé em Cristo gera com nossos irmãos em Cristo.

Após apresentar seus respectivos motivos de gratidão e oração pela vida de Filemom, Paulo introduz seu apelo em favor de Onésimo. Porém, em vez de apelar com base no dever cristão, o apóstolo apela com base no amor. O que isso significa? Bem, em primeiro lugar, significa que amar e zelar pela comunhão com os irmãos são deveres do cristão. Não se trata de matéria optativa. Se estamos em Cristo, esse é nosso dever, nossa obrigação. Contudo, Paulo não escreve: “Pois bem, Filemom, trate de demonstrar amor e perdão para com Onésimo, porque esse é o seu dever de cristão! Não quero ter que falar de novo, hein?” Em vez disso, Paulo faz um apelo com base no amor. Ele se baseia na fé e amor que acabou de mencionar – a fé de Filemom em Cristo e o amor que decorre dessa fé. Por estarem em Cristo, existia um amor de irmãos entre Filemom e Paulo, que agora também existia entre Paulo e Onésimo e deveria também existir entre Filemom e Onésimo. Paulo não queria que Filemom, seu filho na fé, lhe obedecesse de maneira forçada, “emburrada”, por mero dever. Pelo contrário, o apóstolo esperava uma obediência que fluísse do amor, motivada pela fé em Cristo.

Nas próximas devocionais continuaremos olhando para a relação entre fé e amor, esses dois elementos inseparáveis da vida cristã, e veremos por que a fé em Cristo nos motiva a amar — até mesmo de modo sacrificial. Por enquanto, quero sugerir algumas reflexões finais com base no que vimos hoje. A sua vida é marcada por amor como era a de Filemom? Lembre que falta de amor é um alerta para examinarmos nosso próprio coração, pois aquele que não ama o seu irmão não tem base para afirmar pertencer a Deus (1 João 4.7-11;19-21). Lembre também que a vida cristã não é para ser vivida sozinha, mas em comunidade (Provérbios 18.1; Hebreus 10.23-25). A fé em Cristo leva à comunhão com outros irmãos.

Aliás, se você ler o livro inteiro de Filemom (são apenas 25 versículos, não deixe de ler!) perceberá que, embora diga respeito à vida pessoal de Filemom, Paulo não endereça a carta somente a ele, mas a outros irmãos também (possivelmente sua esposa e filho), incluindo a igreja que se reunia em sua casa. Na vida cristã não há base para a mentalidade de “ninguém se mete na vida de ninguém”. É claro que não devemos ser intrometidos (1 Timóteo 5.13; 1 Pedro 4.15), mas temos, como cristãos, o dever de cuidar uns dos outros dentro da comunidade da fé, encorajando e exortando uns aos outros em amor (Efésios 4.15-16; Filipenses 2.4; 1 Tessalonicenses 5.14). Sim, exortações sábias e edificantes são uma manifestação de amor, da mesma forma que omissões podem ser manifestações de falta de amor (Provérbios 27.6). Nesse sentido, Paulo “se mete” no relacionamento entre Filemom e Onésimo e, indiretamente, convida os outros destinatários da carta a fazer o mesmo.

E você? Tem compartilhado a vida com seus irmãos em Cristo? Tem procurado cuidar dos interesses deles como cuida dos seus? Tem estado aberta a encorajar e ser encorajada, a exortar e ser exortada? Sua vida manifesta o verdadeiro amor que procede da verdadeira fé?

Oração: Senhor, meu Deus e Pai, obrigada porque a salvação em Cristo Jesus transforma não só o meu relacionamento contigo (vertical), mas também os meus relacionamentos com os outros (horizontais), especialmente os meus irmãos em Cristo. Mostra-me, Pai, de que maneiras preciso crescer na fé e no amor. Ajuda-me a desfrutar de um relacionamento mais profundo contigo e a refletir o teu amor em meus outros relacionamentos.