Na semana passada, escrevi um pouco sobre o que creio ser a maneira certa de guardar o coração. Uma vez que estamos com a perspectiva correta sobre o tempo de espera, é necessário falar um pouco sobre como devemos agir quando há uma aproximação com alguém do sexo oposto. Há algumas posturas que eu gostaria de combater antes de defender aquela que creio ser a correta.

A primeira postura que julgo ruim é a da garota que decide fechar totalmente seu coração, para que ninguém possa machucá-lo e ‘guarda’ tanto seu coração, que não deixa ninguém se aproximar e conhecê-la. Sobre esse tipo de postura, C. S. Lewis afirma no livro “Quatro Amores”: “Mesmo supondo que a proteção contra desilusões amorosas fosse nossa mais elevada sabedoria, será que Deus a oferece? Aparentemente, não […] Não existe investimento seguro. Amar é sempre vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração certamente vai doer e talvez se partir. Se quiser ter certeza de mantê-lo intacto, você não deve entregá-lo a ninguém […] Envolva-o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde-o na segurança do esquife – seguro, sombrio, sem movimento, sem ar – ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai se tornar indestrutível, impenetrável, irredimível. […] É como guardar seu talento num lenço, e praticamente pela mesma razão ‘Eu sabia que o Senhor é um homem severo’.  Cristo não ensinou e sofreu para que nós fôssemos mais cuidadosos com a nossa felicidade […] Não nos aproximamos de Deus procurando evitar os sofrimentos intrínsecos a todos os amores, mas aceitando-os e oferecendo-os a Ele, renunciando a toda carapaça defensiva. Se nosso coração tiver que partir-se, e Ele decidir que é desse modo que deve se partir, que assim seja.” (p.168, 169).

Assim, percebemos que esse tipo de atitude não protege de fato os nossos corações, mas nos faz cair cada vez mais no egocentrismo, no isolamento e nos afasta de qualquer possibilidade de crescimento ou amadurecimento que poderia acontecer em meio ao sofrimento. É verdade que o sofrimento não é agradável, mas a posição vulnerável que nos colocamos nas situações de sofrimento nos deixa também mais sensíveis a Deus, na medida em que nos torna mais dependentes dEle (Romanos 5:1-5). Além disso, nos tornamos também mais aptas para consolar outros, e assim sermos mais usadas por Deus (2 Coríntios 1:3-7). Queridas, não tranquemos o nosso coração por medo de sofrer, isso não vale a pena (Provérbios 18:1)!!!

Ainda, uma segunda postura que gostaria de combater é o oposto: aquela garota que facilmente se envolve e entrega seu coração. Antes de entregar o seu coração e estabelecer um relacionamento, é necessário conhecer a pessoa. Se tudo acontecer muito rápido, é grande a probabilidade de que o relacionamento seja baseado em um sentimento passageiro, que um não conheça verdadeiramente o outro e, portanto, crie muitas expectativas que com certeza serão frustradas. Quando estamos apaixonadas, frequentemente tomamos decisões tolas e precipitadas. O livro de Provérbios compara a loucura a uma mulher apaixonada, dizendo “Loucura é a mulher apaixonada, é ignorante e não sabe coisa alguma.” (Pv 9:13) – devemos nos prevenir de tomarmos decisões baseadas em paixão, pois normalmente serão decisões enganosas e ignorantes, que não levam em conta muitos fatores relevantes – decisões das quais provavelmente nos arrependeremos futuramente. Além disso, Provérbios também diz que “Não é bom proceder sem refletir e peca quem é precipitado.” (Pv 19:2) – como é amargo o gosto do arrependimento quando percebemos que tomamos decisões erradas! O nosso Deus, porém, graciosamente nos dá essas orientações para que possamos agir como garotas sábias e minimizar as chances de tomar esse tipo de decisão (sobre os passos para iniciar um relacionamento, leia o artigo ‘A oração de uma garota’). Que estejamos atentas a isso!!

Ao mesmo tempo, entregar o seu coração para alguém não acontece necessariamente somente ao iniciarmos um relacionamento. Há muitos casos em que mesmo não havendo nenhuma conversa sobre isso, a garota ou o garoto já entregou seu coração, alimentando sentimentos e expectativas que têm grandes chances de serem frustradas. Isso pode ser fruto de um coração precipitado, ansioso, que não confia no Senhor. É muito importante que saibamos desenvolver relacionamentos de amizade com homens sem de cara entregar nossos corações. Esse tipo de atitude envolve sabedoria e cautela. Não é errado ter interesse em conhecer mais a fundo alguém, mas temos que ter cuidado com as expectativas que alimentamos no coração: todas elas têm que ser apresentadas e entregues a Deus (Filipenses 4:6-7)!!

Por fim, a entrega precipitada do coração também pode ser fruto de um pecado chamado defraudaçãoDefraudar significa enganar, de forma a alimentar expectativas que não se tem a intenção de suprir. Quando um garoto defrauda uma garota, ele dá a entender que está interessado nela sem realmente estar, fala coisas e tem posturas que alimentam um sentimento nela (ex.: elogiá-la excessivamente, confidenciar coisas do coração, perguntar se seu coração está comprometido com alguém, falar excessivamente sobre planos para o futuro, etc.). Ele faz isso sem ter certeza de que gosta dela, sem ter a intenção de ter um relacionamento. Assim, quando a garota já ‘se casou e teve três filhos com ele’ em sua imaginação, ele diz a ela que ‘ela confundiu as coisas’ e a coloca em uma situação de frustração e muitas vezes vergonha.  O oposto também infelizmente acontece: muitas garotas são defraudadoras e adoram dar a entender que gostam de um cara sem realmente terem esse sentimento. Quando ele se aproxima para propor um relacionamento, ela simplesmente diz que ‘sente muito, mas sempre foi amizade’. Que confusão! Quanto engano e mágoas poderiam ser evitados se escutássemos a orientação de Paulo, em sua carta aos Tessalonicenses:

“Finalmente, irmãos, nós vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, como de nós recebestes, quanto à maneira por que deveis viver e agradar a Deus […] Pois essa é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria, ninguém ofenda ou defraude a seu irmão; porque o Senhor, contra todas estas coisas, como antes vos avisamos e testificamos claramente, é o vingador, porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação” (1 Tessalonicenses 4:1a,3-7).

Neste texto, quero destacar a orientação de Paulo quanto ao trato com os irmãos do sexo oposto: “ninguém ofenda ou defraude a seu irmão” – muitas vezes não nos damos conta do quão sério é defraudar alguém e tratamos isso com leviandade, ou nos esquivamos da orientação do texto por acreditar que se trata exclusivamente do relacionamento sexual. Queridas, não nos enganemos! O mesmo padrão de santidade colocado para as relações sexuais (as quais não devem ser descompromissadas ou imorais), também se aplicam à nossa conduta em relação aos nossos irmãos em Cristo! Não temos o direito de insinuar coisas, provocar sentimentos ou alimentar esperanças naqueles em que não temos interesse! Devemos zelar por eles, controlando o nosso corpo, nossa forma de vestir, nossas palavras, tudo isso “em santificação e honra, não com desejo de lascívia” (sobre lascívia, leia o artigo ‘Uma carta às irmãs: uma luta contra a lascívia’), ajudando nossos irmãos a viverem também de forma correta diante de Deus. Nos sentirmos gostadas ou desejadas sem compromisso algum pode ser agradável ao nosso ego, mas não tem a ver com o caráter que Cristo deseja formar em nós!!

Assim, retomando o que vimos na semana passada, a garota que segue a Cristo tem que ter em mente que o tempo que tem é precioso, que deve aproveitá-lo da melhor forma possível, mantendo seu coração em Deus, lançando toda ansiedade sobre Ele e tendo sabedoria em relação aos homens que se aproximam. Ela pode desenvolver amizades sadias, o que significa ter posturas e intenções que não enganem ou usem os homens. Significa respeitar e zelar pela santidade dos nossos irmãos, não entrando, por exemplo, em assuntos delicados ou insinuantes sobre coisas do coração. Quando houver interesse sincero, que possa haver também uma conversa sincera, desenvolvendo uma amizade intencional com o objetivo de  caminhar de forma madura para chegar a um relacionamento. É importante também o auxílio de líderes ou conselheiros mais experientes, que possam acompanhar o processo e auxiliar nas tomadas de decisões. Esse tipo de aproximação, creio eu, agrada a Deus e por isso tem grandes chances de sucesso.

Que possamos realmente viver lembrando, em todas as áreas, que “Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação”!