De repente pareceu que todas as suas amigas estavam namorando e noivas, engajadas a um laço matrimonial. Ela se empolgava por suas amigas, sempre conversavam sobre vestidos, alianças e decoração. Relacionamentos era o assunto mais comentado em suas rodinhas de conversa. Contudo, quando estava sozinha, a solidão tomava uma proporção muito grande em sua vida. Os filmes românticos dos quais ela tanto gostava, assim como as suas músicas de amor favorita e seus romances do Nicholas Sparks, a faziam questionar “onde está o meu príncipe?”.

Parecia que todas ao seu redor haviam encontrado o seu e quando não estavam namorando, de alguma forma, eram cortejadas e admiradas. Ela, contudo, não era notada e sua beleza, de certa forma, era comum. Nunca fora a garota popular a respeito da qual os meninos comentavam sobre beleza ou inteligência. Cá entre nós, como uma narradora honesta, não posso omitir, de primeira impressão a beleza é um fator importante para cativar a atenção de um rapaz e a dela era comum. Estava feliz pelas suas amigas, mas não conseguia enganar a si e dizer que estava tudo bem, onde estava seu príncipe?

Era pleno dia dos namorados e ela estava assistindo Idas e vindas do amor. “Onde ele está?” pensava ela, acreditando que se tivesse um namorado sua vida seria melhor. Já havia prestado o vestibular e, não, sua vida não era melhor. Estava cursando sua faculdade favorita, jornalismo, e sua vida não era melhor. Nem precisava pensar muito, a solução para os seus problemas era aquele homem. Quando era adolescente, ele tinha o rosto do Zack Efron com a personalidade do Dear John e era crente como o Joe Jonas.

Mas agora, ela era um pouco mais madura e sua lista de qualidades de um homem não era preenchida só com o que ela gostava, sonhava e tinha prazer, mas com requisitos que engrandecessem a Deus, por isso, estava tão difícil encontrar um namoradinho na igreja. Agora, ele devia ser um homem piedoso a Deus, admirável e líder (de iniciativa, atitude e presença), mas na igreja não havia muitos rapazes assim.

Cansada do filme, ela começou a se questionar por que tudo ao redor das pessoas, girava em torno do amor? As músicas mais vendidas são românticas, os livros mais vendidos são românticos, as fofocas mais comentadas são sobre namorados, os filmes, mesmo de ação, tem algum par romântico. “Poxa vida! Por que todo mundo gosta de falar sobre o amor?” pensava ela. E como se um insight a tomasse subitamente, ela pulou do sofá e seguiu em direção a janela, fitando-a. De longe viu sua vizinha na frente de casa regando as flores. Nunca havia conversado com ela, embora a visse todos os domingos, sempre sentia pena dela por ser solteira. E agora, olhando pela janela, ela orou a Deus que a livrasse desse status. Rapidamente ela andou até seu quarto, pegou seu notebook e começou a investigar sobre o porquê o amor é tão famoso. E, embora como narradora tivesse o interesse de responder essa pergunta, deixei que ela encontrasse suas repostas por sua própria busca e reflexão.

Procurou em vários sites e leu bons artigos, mas, curiosa como era e incapaz de controlar seus impulsos jornalísticos, ela precisava conversar com uma pessoa para validar sua tese. E por mais incrível que fosse sua ideia, surpreendeu-se. Agora, sua perspectivas de estar solteira estavam um pouco diferentes e ela resolveu que iria conversar com aquela mulher, essa mesmo que você está pensando leitor, a vizinha solteira que vivia na frente de sua casa. Saiu de casa e quando estava prestes a atravessar a rua, sentiu vergonha e medo, mas ávida pela respostas deu outros passos rumo àquela casa. Leitor querido, embora quisesse descrever toda a cena daquele encontro constrangedor em que ela foi conversar com uma “desconhecida” sobre o estado civil dela, adianto-me para o ponto essencial, suas respostas.

Agora fazia sentido, o Criador de tudo é a descrição do amor. Tantos já o tentaram definir, mas é uma tarefa difícil. E, naquela conversa, ela lembrou de algumas características dele. “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece.” Mas, o que mais a impactou naquela conversa foi a pequena parte de um versículo “porque Deus é amor” escrito em 1 João 4.8b. Deus, Criador de tudo, é a melhor expressão e definição do amor.

E Suas criaturas são reflexo dEle, pois “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Assim como Ele é um ser relacional, elas também o são. Contudo, os seres humanos, após a queda, tornaram-se depravados e, consequentemente, sua demonstração de amor foi prejudicada. É por isso que o amor é tão comentado, mas ao mesmo tempo tão banalizado.

Sua pureza e integridade foi substituída por infidelidade, como sempre mostram as novelas, seu afeto foi substituído por desejos lascivos impulsivos, como nas redes sociais feitas para agendar encontros, propagandas sensuais, filmes pornográficos e várias outras maneiras de expressá-lo foram alteradas. Uma delas em especial, como pode-se notar na sociedade, é a expressão dele somente para seu companheiro romântico, esquecendo-se de que o amor deve ser demonstrado para Deus e para as outras pessoas que estão ao seu redor. O ser humano é um ser relacional como seu Criador, mas não é exclusivo ao seu parceiro romântico, mas aos amigos e a família.

Por isso, é difícil para a sociedade lidar com homens e mulheres solteiros, existe a perspectiva errônea de que eles são infelizes e dignos de pena. A mulher casada também enfrenta dificuldades, ela briga com o marido muitas vezes e nem sempre é agradecida pelo que faz por seus filhos. Mas, mesmo assim, a sociedade supervaloriza o casamento, colocando muitas vezes os solteiros numa posição menos honrosa. A maioria dos solteiros até 30 anos é vítima de encontros marcados por amigos e são julgados pelas pessoas ao redor por causa de algum estereótipo, por exemplo a inteligência, a inaptidão social, aparência física e até orientação sexual.

Entretanto, em 1Coríntios 7.7 o apóstolo Paulo, que gostaria que todos os homens fossem como ele, no caso solteiros, desconstrói essa ideia ao mostrar que os solteiros são tão importantes quanto os casados. Embora isso pareça contradizer a ordem de Gn 2.24, a população pos queda não foi formada em pares com o número igual de mulheres e homens e Paulo escreveu essa carta em um meio a circunstâncias específicas em que cristãos estavam se pervertendo.

No entanto, ele foi inspirado por Deus para mostrar que tal qual o homem casado é importante, o homem solteiro também é importante e alguns recebem um dom específico de Deus. O solteiro ou a solteira tem o privilégio de se dedicar mais intensamente ao ministério, tendo mais liberdade do que o homem casado que tem que dividir sua atenção com a família. A igreja, hoje em dia, precisa tanto de casados quanto de solteiros para servir. Jesus também valorizou esse estado civil, como pode-se ler em Mateus 19.11-12.

Ela ficou reflexiva ouvindo tudo o que sua vizinha lhe falava. Como a maioria de suas amigas, também achava que ser solteira era uma condição inferior do que a de um casado. Sentiu-se liberta de seus próprios pensamentos, mesmo assim, ainda questionava onde estava seu príncipe? Será que esse era o plano de Deus para ela? Como se a vizinha notasse que seu coração estava ansioso e à espera daquele homem, começou a contar um pouco de sua vida para ela.

A vizinha havia se convertido quando era jovem. Antes disso havia tido vários envolvimentos românticos que não agradavam a Deus. Quando ela se converteu, decidiu que não namoraria nem casaria com um rapaz que não fosse cristão e que a levasse para perto de Cristo. Ela entendia que o namoro deveria direcionar, embora fosse uma fase, ao casamento. E que a noiva, como o noivo, estariam se aperfeiçoando para servir a Deus juntos. O propósito do namoro e do casamento é glorificar a Deus e não satisfazer os prazeres do casal ou ser sua felicidade máxima.

A vizinha lhe contou que depois de sua conversão conheceu um rapaz na igreja e, aparentemente, com o tempo eles foram se apaixonando. Ele era muito bonito, muito gentil e um bom líder espiritual. Mas, conforme o tempo foi passando, ele foi deixando de ir à igreja por causa da universidade, depois por causa de seu emprego. Eles já estavam com a data marcada e os preparativos do casamento em andamento, quando em uma das brigas deles, ele deixou claro para ela que o sustento financeiro deles era mais importante do que ir à igreja, ter comunhão com os cristãos e aprender mais de Cristo. Ela entendeu que eles tinham prioridades diferentes na vida, enquanto ela queria servir a Deus no lugar em que estava, ele queria ganhar dinheiro e curtir a vida. Eles terminaram.

Ela gostou dele por quase dez anos depois do término e ainda tinha seu vestido de noiva, pois acreditava que ainda iria usá-lo. Apareceram outros rapazes em sua vida dela, mas nenhum chegou de fato, a se posicionar com relação a um casamento. Ela, agora com 50 anos, não era fechada a essa possibilidade, mas entendia que talvez o plano de Deus para ela era a vida solteira. Ela era enfermeira e tinha uma agenda bem flexível, já que não era casada. Nas férias ia para viagens missionárias e durante a semana visitava pacientes com câncer terminal apresentando-lhes o Evangelho.

Um dos sonhos da vida da vizinha era ser mãe, o que não aconteceu. Em alguns momentos ela desejava ser abraçada bem forte, ter um amparo, mas é difícil mulheres solteiras serem cumprimentadas dessa forma. Ela queria aconselhar mulheres casadas, mas como era solteira, suas experiências eram limitadas. Queria poder concertar os objetos da sua casa, mas não conseguia, faltava-lhe um homem na vida.

Contudo, as poucas limitações que ela tinha solteira, embora fossem bem pontuais, não superavam o que ela podia fazer. Embora não pudesse aconselhar mulheres casadas, ela aconselhava várias meninas adolescentes da igreja com suas crises. Trabalhava todos os dias no hospital lidando com pacientes. Tinha uma agenda flexível para ajudar alguém que tivesse um caso urgente. Embora não pudesse ser mãe havia tido muitas crianças para cuidar, embora não tivesse alguém para lhe dar um forte abraço, tinha pessoas que a cumprimentavam com um abraço sutil todos os dias no hospital. Embora não pudesse concertar alguns objetos em sua casa, podia depender de Deus para ajudá-la.

Uma das grandes revelações, que contou naquela conversa, era que quando sonhava com o seu príncipe decidia pensar e ajudar outros, pois assim ela tirava o foco dela, da felicidade e dos sonhos dela, e colocava em Deus servindo ao próximo. Ela preparava um bolo para seus amigos e pacientes e orava por missionários. E ela afirmou que se fosse casada podia não ser feliz como era, pois só há satisfação e alegria em Deus. Talvez se ela fosse casada com aquele homem, os dois estivessem perdidos no mundo dos negócios desfrutando de todos os prazeres temporários que a vida oferece e perdendo a alma. O que havia acontecido com ele, hoje seu ex-noivo, é que ele estava divorciado, vivia em constantes brigas judiciais e não vias os filhos por causa do excesso de trabalho.

A jovem jornalista ficou constrangida ao ouvir a história de sua vizinha. Como a sociedade de fato estereotipa as pessoas. Ela a havia julgado mal. Por mais que soubesse que ela possuía dificuldades, percebeu que ela não era uma pessoa infeliz, pois temia a Deus. Percebeu que o amor a Deus no coração dela era maior do que suas dificuldades. Caro leitor parecia que ela havia sido golpeada por sua vizinha por causa do exemplo dela. A jovem jornalista temia ficar sozinha por causa dela mesma, como se um homem fosse a solução dos problemas dela, sua realização.

Ela, embora soubesse que o namoro e o casamento é para glorificar a Deus, não havia desvinculado a ideia de felicidade pessoal e sonho realizado como prioridade. Depois dessa conversa, ela retornou para sua casa reflexiva e muito grata. Sentou no sofá, dessa vez com o coração sossegado. Por mais que não soubesse onde estava seu príncipe, ele nunca iria deixá-la tão satisfeita e feliz como um relacionamento intenso com Deus. O status solteira, se Deus quisesse isso para ela, não lhe faria uma pessoa sofrida, digna de pena e triste, mas uma mulher que serviria a Ele melhor do que casada. Entendeu que como solteira deveria viver se aperfeiçoando para seu noivo, por mais que ele não pudesse aparecer aqui na Terra, pois um dia toda a igreja se tornará a noiva de Cristo e ambos ceiarão e comemorarão juntos seu encontro no céu. A vida de intimidade com Deus é melhor do que com qualquer outro homem. De repente, e ela nem podia acreditar, já não estava mais sofrendo por não saber a resposta da pergunta: “onde estava seu príncipe?”