Ter uma experiência com Deus. Sentir a presença de Deus. Ouvir Deus falar. 

Se você cresceu no meio cristão, ou está inserida nele há algum tempo, essas são expressões que talvez você já tenha ouvido, ou até mesmo já falado em algum momento.

Quando o assunto é relacionamento com Deus, parece sempre pairar uma nuvem no ar sobre como isso funciona, e cada um parece ter uma resposta, uma receita própria, de como conhecer a Deus, falar com Ele, saber a vontade dEle e etc. Mas, e o próprio Deus? O que Ele diz sobre isso? 

Tenho tido a oportunidade nos últimos meses de ter conversas muito interessantes com meninas (e meninos) de diversas idades sobre essa questão do relacionamento com Deus e, na grande maioria dessas conversas, o mesmo problema parece ser encontrado – independente do gênero, idade, denominação e classe social. A ideia de que, depois de um tempo, a pessoa parou de “sentir Deus”, e isso a tem levado a duvidar do seu relacionamento com Ele e, em alguns casos, até da sua salvação. 

Mas, então, eu pergunto, o que seria esse suposto “sentir a Deus”? As respostas são as mais diversas: desde aquele calafrio na espinha, ou o choro na hora do louvor, até a uma voz que se ouve dentro do coração. E ai eu volto à minha pergunta, mas será que é assim mesmo que Deus se relaciona conosco? Será que a vida cristã e o relacionamento com Deus são baseados nesses supostos momentos em que “sentimos a Deus”?

Eu queria com você, hoje, simplificar qualquer ideia que você tenha sobre relacionamento com Deus em três passos. Primeiro, vamos entender o que é o culto que oferecemos a Deus, e depois como fazemos isso de forma prática. 

1. O cristianismo é uma fé racional. 

“Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês”. (Romanos 12.1). 

É interessante a forma como Paulo inicia o capítulo 12, após encerrar o 11 declarando que toda glória pertence a Deus. Ele começa o próximo capítulo com a palavra “portanto”, na ideia de que, já que toda glória pertence a Deus e todas as coisas são dEle, por meio dEle, e para Ele (Rm 11.36), nós agora devemos nos oferecer como sacrifício vivo por meio de um culto racional. Mas, o que isso quer dizer? 

O cristão que entende que o propósito da sua vida é glorificar a Deus, e que ele deve se oferecer como sacrifício, ou seja, se colocar totalmente a serviço e disposição do Deus que o salvou, e viver por meio do Espírito Santo que lhe devolveu a vida, lutando contra o pecado. 

“Este é o culto racional de vocês”, a palavra racional do grego vem da palavra logikos¸ que é de onde vem a nossa palavra lógica. A ideia de Paulo é que o culto que nós devemos ofertar a Deus é a nossa própria vida, não um momento, um domingo na igreja, uma oração, uma devocional todo dia, mas a vida inteira! Todos os momentos! E isso deve ser feito de forma lógica, racional, usando a nossa inteligência, sabendo exatamente o que se entrega, o que está sendo renunciado, racionalmente abrindo mão daquilo que nos afasta de Deus para nos aproximar dEle.

Um culto racional é aquele que abrange todas as esferas da nossa vida. Nossa mente, coração, sentimentos, pensamentos, todas as áreas estão sendo sacrificadas para glorificar a Deus, sendo entregues para servi-Lo da forma que Ele achar melhor. 

Não é um arrepio na espinha, um choro ou algo do tipo. Um relacionamento com Deus é baseado em uma vida de sacrifício e entrega a Ele em todas as áreas, em todos os momentos, lutando contra o pecado do nosso coração. Esses supostos sentimentos não são capazes de sustentar a sua fé quando os problemas da vida baterem na sua porta, porque esses sentimentos não te ensinam quem Deus é, e nos momentos de necessidade você vai precisar saber em Quem você crê e porque você crê, caso contrário você irá cair! Nosso Deus é um ser racional e inteligente, e um de seus atributos que Ele resolveu compartilhar conosco é a capacidade de sermos seres racionais, pensantes. Porque então, justamente no relacionamento com o nosso Criador, tudo se basearia no que você sente? 

Você precisa primeiro saber quem Deus é, porque você crê, no que você crê e, então, desenvolver um relacionamento com Ele. Esses sentimentos que muitos costumam chamar de “presença de Deus” não são capazes de te ensinar essas verdades – apenas uma vida de devoção racional e busca de conhecer a Deus. Não é a toa que temos mais de 2.000 anos de história da igreja e da teologia continuamente sendo contada e escrita por homens simples e pecadores como nós, mas que entenderam que, para conhecer a Deus e se relacionar com Ele, seria necessário muito mais do que apenas um louvor que te faz levantar a mão e chorar na hora do culto. 

Mas agora, e na prática, como a gente cria esse relacionamento racional com Deus? A resposta pode parecer muito simplista e clichê, (os clichês nada mais são que verdades que as pessoas costumam esquecer que são verdades), mas na verdade um relacionamento com Deus se dá por meio de Bíblia e oração. É ai que entram os outros dois passos do texto de hoje.

2. Quando você ora, você fala com Deus. 

Um relacionamento é baseado em dois lados, um fala e outro escuta, e vice-versa. Nosso relacionamento com Deus é a mesma coisa. A oração é o momento em que nós falamos com Deus, nos apresentamos diante dEle com o coração quebrantado com nossos pedidos e/ou agradecimentos, e O louvamos por quem Ele é e o que Ele faz. A Bíblia fala em vários momentos sobre a necessidade da oração: 

“Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos” (Efésios 6.18). 

“Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e cm ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus”. (Filipenses 4.6). 

“Orem continuamente”. (1Tessalonicenses 5.17)

Por meio da oração, Deus promete nos ouvir e nos consolar por meio do Espírito Santo que intercede por nós. 

“Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, por não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus”. (Romanos 8.26-27). 

“Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade”. (Hebreus 4.16)

Nós costumamos subestimar o poder da oração. Falamos que devemos orar, que sabemos o quanto Deus pode agir através da oração, mas muitas vezes não agimos dessa maneira. Oramos de qualquer jeito, cinco minutos antes de dormir. Não é assim que você cultiva uma amizade com um amigo seu. O que te leva a pensar que seria assim que você cultivaria um relacionamento com Deus? Quero te convidar agora a parar e reavaliar como anda sua vida de oração, quais áreas é preciso mudar. Talvez pedir menos e agradecer mais? Dedicar mais tempo a esse momento? Separar uma parte do dia para isso? Depois, peça perdão a Deus e ajuda para recomeçar. 

3. Quando você lê a Bíblia, Deus fala com você. 

Como disse antes, todo relacionamento tem dois lados. Se de um lado, a oração, você fala, este é o lado em que você escuta. Para um relacionamento racional, você precisa conhecer aquele com quem você se relaciona, e a única forma de conhecer a Deus é por meio de onde Ele mesmo escolheu se revelar: a sua Palavra. Em um país como o Brasil, onde há fácil acesso à Bíblia (que você provavelmente possui), não espere o céu se abrir e anjos descerem para te trazer respostas de oração, quando toda a verdade que precisamos já nos foi dada nas Escrituras. Sim, isso vai demandar de você tempo e paciência de estudar, ler, pesquisar e entender as verdades sobre Deus, mas lembre-se que tudo isso entra na categoria do “sacrifício” de Romanos 12.1. Todas as áreas, sem exceção. 

É válido ressaltar aqui alguns textos sobre a importância do estudo da palavra, para que não  o esqueçamos ou subestimemos como menos importante: 

“Como pode o jovem manter pura a sua conduta? Vivendo de acordo com a tua palavra. Eu te busco de todo o coração; não permitas que eu me desvie dos teus mandamentos. Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra Ti”. (Salmos 119.9-11)

“Pois tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança”. (Romanos 15.4).

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deu seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”. (2Timóteo 3.16-17).

Minha amiga, a essa altura eu espero que você tenha percebido que sua caminhada com Cristo vai custar muito mais da sua mente do que dos seus sentimentos. Espero que você tenha entendido que uma vida de devocional não é algo que você “deve fazer”: ritos por ritos não valem nada. O que deve te motivar a fazer é o que realmente importa é seu entendimento da necessidade de um relacionamento com Cristo. 

Não se preocupe por não “sentir Deus”, ou não estar tendo algum tipo de “experiência” com Ele. Não são em fatos ou situações assim que se baseiam a nossa fé, na verdade, viver uma vida cristã baseada apenas nisso irá te levar a uma fé rasa e fraca. Preocupe-se com o seu relacionamento racional com Deus, em oferecer o culto que Paulo ordena em Romanos 12.1, fazendo da sua vida um sacrifício em todas as áreas, e entendendo de forma lógica o porquê você faz tudo aquilo: não porque você levantou a mão no culto, ou porque se sentiu emocionada com o louvor e arrepiada, mas porque entendeu que toda a sua vida deve ser vivida para glorificá-lo, e por amor a Ele, a quem Ele é e o que Ele fez por você. 

Não tenha medo de ser o mais inteligente que puder, Deus te fez assim. 

“Não devemos ter como lema “seja boa, doce menina, e deixe a inteligência para quem a possui”, mas sim “seja boa, doce menina, e não se esqueça de ser o mais inteligente que puder”. Deus não detesta menos os intelectualmente preguiçosos do que qualquer outro tipo de preguiçoso. Se você está pensando em se tornar cristão, eu lhe aviso que estará embarcando em algo que vai ocupar toda a sua pessoa, inclusive o cérebro”. (C. S. Lewis).