Ano após ano, eu me pego vivendo o mesmo dilema: o que eu esperava versus o que aconteceu de fato. Não importa quantas vezes eu diga a mim mesma, sempre preciso aprender que a realidade é diferente do que ansiava/anseio. Pois bem, sei que este dilema não é só meu, é seu também. Estamos somente no terceiro mês do ano, mas quantas vezes você já experimentou alguma situação diferente do que você esperava? Muitas, não é mesmo? Pois é, a vida é assim!

Infelizmente, nós, mulheres, tendemos a ser piores que os homens nessa área, porque somos rainhas em idealizar cada fase de vida. Se compararmos nossa vida a um lar, nós não teríamos um casebre, mas um castelo cheio de cômodos detalhadamente planejados – o cômodo do namoro, o do casamento, o da profissão, o dos estudos, o das amizades, o das roupas, o do corpo, etc. A grande pergunta diante disso é: por que criamos tantas expectativas?

Coração

Quando olhamos para a palavra de Deus, percebemos que coração é o centro de comando da vida do ser humano por inteiro – seu intelecto [1], vontade [2] e emoções [3]. O grande problema é que, quando o pecado entrou no mundo (confira Gênesis 1 a 3), tornando o ser humano pecador (confira Romanos 3 e 5), o coração deixou de ser voltado para Deus e passou a ser voltado para ele mesmo. Com isso, o intelecto, a vontade e as emoções se tornaram egoístas, exigindo que cada “cômodo” da vida seja exatamente como ansiamos.

Influenciadores

E, como se já não bastasse um coração egoísta, para piorar a construção desse castelo perfeito, temos grandes influenciadores:

  • Filmes: muitos nos fazem acreditar em mentiras, como “namorados perfeitos”, “basta um jeitinho para tudo dar certo no final”, “girl’s power”, entre outras.
  • Instagram: uma vitrine de corpos perfeitos que, muitas vezes, nos cobra a ter um corpo irreal e não saudável.
  • Avanço tecnológico: não suportamos esperar, não suportamos processos, queremos tudo para ontem.
  • Criação mimada: nossa geração está mal-acostumada, prefere o “fácil sem esforço” do que o “difícil cheio de aprendizados”. Desistem fácil de tudo e de todos.
  • Mídia: que ama replicar mensagens como “siga o seu coração” e “o que importa é ser feliz”.

Esses influenciadores são injeções que potencializam o nosso coração egoísta!

Agora, existe uma outra questão: por que nossas idealizações não dão match com a realidade?

Realidade

Em um artigo, Paul Tripp explica por que a expectativa (ele usa a palavra “felicidade” em vez de “expectativa”, que são termos sinônimos neste contexto) e a realidade não se conciliam:

“Em minha experiência profissional como conselheiro – e em minha experiência pessoal como um marido, um pai, um filho e um irmão falho, percebi que nossa atitude automática é perseguir nossa própria felicidade. Em outras palavras, a motivação de um humano pecador é a felicidade, ainda que temporária, momentânea. Não sei se você já reparou, mas isso não funciona muito bem. Por quê? Bem, primeiro, porque o mundo é um lugar caído; a vida não funciona do jeito como queremos, e isso nos frustra e causa dor – o oposto da felicidade que buscamos. Segundo, quando cada indivíduo persegue sua própria felicidade, provavelmente esses interesses entrarão em rota de colisão e alguém (ou todos) não vai conseguir o que lhe traz felicidade” [4]

Além disso, há mais um motivo para que a realidade seja diferente: nós não somos Deus. Parece simples, não é mesmo? Mas eu e você, além de egoístas, somos orgulhosas! Queremos ser como Deus para alcançarmos cada expectativa que criamos. É por causa disso que o destino da construção insaciável de cômodos perfeitos é só um: a frustração!

Expectativa + Realidade = Frustração.

Como devemos, então, lidar com nossas expectativas? Como lidar com a realidade? Simples, reconstruindo nosso castelo! Para isso, precisamos esvaziar os cômodos, demoli-los e então construí-los novamente. Mesmo que pareça impossível, é possível viver uma vida real sem frustrações desnecessárias e esta série tem o objetivo de te ajudar nessa jornada. Por isso, não deixe de acompanhá-la. Na próxima semana vamos começar com o primeiro passo: esvaziar os cômodos.

 


[1]  Intelecto: “pensamentos, crenças, lembranças, juízos, consciência e discernimento”, definição tirada de https://abcb.org.br/o-que-e-o-coracao/.

[2]  Vontade: “é o aspecto da parte da pessoa interior que escolhe ou determina ações”, definição tirada de https://abcb.org.br/o-que-e-o-coracao/

[3]  Emoções: sentimentos

[4]  http://todahelohim.com/2016/04/familia-sonhos-paul-tripp.html