Quando a Graça de Deus nos alcança, entendemos o quão grave é nosso pecado e como ele ofende a santidade de Deus. Mas também temos a boa notícia das gloriosas riquezas que recebemos por passarmos a pertencer a Cristo. Por todo o amor demonstrado a nós da parte de Deus, nossa resposta de amor deve ser o desejo sincero e comprometido de viver uma vida que corresponda a vocação que recebemos nEle. 

O texto de João 14.21 relata as palavras de Jesus: “quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama (…)”. Obediência é nossa amorosa resposta a Deus, e é essa resposta que Deus quer de nós. Um amor que, como o dEle, é demonstrado em ação. Não obedecemos para ser salvas, obedecemos porque somos salvas, para a glória de Deus. No entanto, por ainda sermos pecadoras, precisamos humildemente admitir que para obedecermos tudo o que o Senhor requer de nós, o Espírito Santo precisa operar em nossos corações todos os dias. Essa obra de transformação é biblicamente chamada de santificação.

Fomos chamadas à transformação (Rm 12.1-2), mas essa transformação exige um doloroso processo de conhecermos e confrontarmos o pecado que habita em nós. Essa não é uma tarefa fácil, e por vezes é comum o sentimento de incapacidade. Você já se deparou com alguma área obscura de sua vida diante da qual você afirmou: “eu não consigo mudar, é muito difícil!”?

Sim, mudar é muito difícil! Mas toda mudança que Deus requer é possível por estarmos em Cristo, para que sejamos mais parecidas com Ele e possamos refletir Sua santidade neste mundo tão afundado em escuridão. O texto de 2Pedro 1.3-11 nos instrui a respeito disso, e vamos estudá-lo aqui trecho por trecho para compreendermos melhor o que Deus tem a nos ensinar sobre nosso processo de transformação.

(v. 3) “Deus, com seu poder divino, nos concede tudo de que necessitamos para uma vida de devoção, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para si por meio de sua glória e excelência.”

Isso significa que todos os recursos espirituais necessários para nossa transformação nos estão disponíveis em Cristo. A obra é primariamente do Senhor em nossas vidas, mas há uma parte que nos cabe cumprir. Deus nos capacita e nos dá de Si mesmo para obedecermos aos seus mandamentos, os quais refletem Sua santidade. Não é na força do nosso braço que obedecemos ao que Ele requer de nós, é na dependência dEle, nos apropriando das bênçãos espirituais que já temos nEle. Assim, quando falamos sobre mudar áreas de nossa vida que revelam raízes pecaminosas, a frase “eu não consigo” não é apropriada. Deus já nos capacitou com tudo o que precisamos espiritualmente para mudar, mas mudar dá trabalho e confronta nosso coração. A verdade é que para cada “eu não consigo” que dizemos em relação a viver e a crer no que a Bíblia nos ensina, há um “eu não quero” por trás – se é que de fato estamos em Cristo, pois Aquele que chama, também capacita.

(v. 4a) “E, por causa de sua glória e excelência, ele nos deu grandes e preciosas promessas.”

A palavra “promessa” é muito mal utilizada no “meio gospel”. As pessoas usam textos bíblicos que falam de promessas agregando a eles o sentido de promessas específicas e pessoais para suas vidas. Cuidado, as Escrituras nunca referem essa palavra nesse sentido, as promessas já estão todas reveladas nas Escrituras, não existe nada místico a ser revelado sobre o futuro de algum indivíduo especificamente. Neste texto, a palavra “promessas” refere-se ao privilégio que nos foi dado de compartilharmos de algo da excelência moral de Cristo nesta vida, e de Sua glória na vida futura.

(v. 4b) “São elas que permitem a vocês participar da natureza divina e escapar da corrupção do mundo causada pelos desejos humanos.” 

A palavrinha “elas” está se referindo às promessas mencionadas anteriormente. Por meio dessas promessas que recebemos em Cristo, nos tornamos participantes da natureza divina. Não, nós não nos tornamos divindades, não é essa a ideia do texto. Em Cristo, nos tornamos novas criaturas e somos seladas com o Espírito. Pela Graça, pelas promessas do Evangelho e ao deixar a corrupção deste mundo, somos transformadas à imagem de Cristo. Nascemos de novo, nascemos do alto (Jo 3.3, Tg 1.18, 1Pe 1.23), estamos em Cristo (Ef 1.3-14), somos morada da Trindade (Jo 14.17-23), somos filhas de Deus nesta era atual e, assim, participamos da natureza divina. Na eternidade, desfrutaremos dessa condição numa dimensão completa.

(v.5-7) “Diante de tudo isso, esforcem-se ao máximo para corresponder a essas promessas. Acrescentem à fé a excelência moral; à excelência moral o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a devoção a Deus; à devoção a Deus a fraternidade; e à fraternidade o amor.” (grifo nosso)

Deus é o maior agente no nosso processo de mudança. Ele nos agracia com a salvação, derrama sobre nós todas as bênçãos espirituais que nos capacitam a mudar e obedecer e nos dá promessas de partilhar da natureza divina. Diante de todas essas bênçãos recebidas, existe algo que cabe a nós fazer. Somos agentes ativas nesse processo de mudança, não somos passivas. Dois termos são utilizados para fazer referência à atitude que se espera de nós: “esforcem-se”, no trecho encima, e “trabalhem” no versículo 10. Diante da lista de virtudes que o texto nos apresenta, precisa haver um engajamento intencional, uma tomada de decisão de nossa parte de buscarmos colocar em prática cada uma delas – por que já recebemos do Senhor capacidade para isso.

(v. 8) “Quanto mais crescerem nessas coisas, mais produtivos e úteis serão no conhecimento completo de nosso Senhor Jesus Cristo.”

É muito difícil que você olhe para a lista de virtudes descritas nos versículos 5 a 7 e considere que já vive plenamente cada uma delas. É um processo de vida! Enquanto, na dependência do Espírito, estivermos comprometidas em buscá-las, seremos moldadas em cada uma delas e temos a promessa de que também estaremos envolvidas num relacionamento íntimo e profundo com nosso Senhor, no qual Ele mesmo se dá a conhecer a nós. 

(v. 9-10) “Mas aqueles que não se desenvolvem desse modo são praticamente cegos, vendo apenas o que está perto, e se esquecem de que foram purificados de seus antigos pecados. Por isso, irmãos, trabalhem ainda mais arduamente para mostrar que, de fato, estão entre os que foram chamados e escolhidos. Façam essas coisas e jamais tropeçarão.”  (grifo nosso)

O texto menciona que é possível que cristãos fiquem cegos, ele menciona pessoas que tiveram seus pecados perdoados, mas se esqueceram. Deixaram os cuidados dessa vida ofuscar essa grande verdade. Tornaram-se inoperantes e inúteis. Acabam por viver em sua própria existência as consequências de uma vida longe de Deus. Em contrapartida, o texto afirma que aqueles que buscarem viver essas virtudes “jamais tropeçarão”. A ideia não é que jamais falharemos ou cometermos pecados, porque somos pecadores e tropeçamos em muitas coisas (Tg 3.2). Mas o que o autor do texto está dizendo é que o cristão será poupado de uma queda desastrosa. 

(v. 11) “Assim, sua entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo será acompanhada de grande honra.”

Em nossa jornada aqui, nossos olhos precisam estar fixos na eternidade. Estamos caminhando como peregrinos em longa viagem, mas com destino certo. O que vivemos aqui hoje tem implicações na eternidade. É para lá que estamos sendo preparados por Cristo. 

Quais são suas lutas? Você tem lidado com ansiedade e não consegue descansar na soberania de Deus? Suas emoções te dominam e você deixa que sentimentos mentirosos reinem em seu coração? Você está tomada de amargura e não consegue perdoar alguém? Você tem lidado com tentações sexuais e não consegue guardar sua sexualidade para desfruta-la da maneira que Deus propõe? Seja qual for a sua luta, a mais íntima do seu coração, a Palavra de Deus garante que em Cristo você já dispõe de todas as bênçãos espirituais para ser transformada e obedecer. Não é na força do nosso braço que mudamos, é na dependência de Deus: dependa da Graça, descanse na Graça e assim seja ativa nesse processo, intencionalmente engajada em obedecer a Palavra. 

“Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Portanto, vivo neste corpo terreno pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.” ‭‭Gl ‭2.20‬

Porque Cristo vive em nós temos a esperança de mudança para glória de Deus. Que Ele tenha misericórdia de nós e nos capacite nessa jornada!

Thais Urel