RESOLVI que farei tudo aquilo que seja para a maior glória de Deus e para o meu próprio bem, proveito e agrado, durante toda a minha vida, sem considerar tempo, seja agora ou no futuro. 

Imagine você aos 18 anos. Talvez essa data já tenha vindo, talvez ela ainda esteja por vir. Talvez seja hoje. Em nossa cultura, o décimo oitavo aniversário é conhecido como a virada da página, um marco na vida de qualquer pessoa (ao menos por poder dirigir, rs). A resolução acima faz parte de uma lista de 70 resoluções de vida escritas por Jonathan Edwards, famoso pregador, missionário e teólogo protestante do século XVIII, quando ele tinha apenas 18 anos de idade.

Num ano tão monumental de sua vida, Edwards dedicou-se intensamente não apenas para pensar no que iria trabalhar, ou o que iria estudar, ou com quem iria se casar. Ele se preocupou em como viver a vida de maneira íntegra e, por isso, tomou decisões importantes que iriam reger a sua vida dali por diante.  Obviamente não temos como estudar as 70 resoluções em apenas quatro artigos, mas escolhi algumas que considero cruciais para a nossa vida. (Você pode encontrá-las na íntegra aqui)

O Catecismo de Westminster afirma que “o fim principal (i.e. o propósito) do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre.” (Rm 11.36; Sl 73.25-26; Is 43.7; Rm 14.7-8; Ef 1.5-6; Is 60.21; 61.3.). Esta afirmação me traz à mente um versículo que muitas de nós já devem ter decorado:

Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. 1 Coríntios 10:31 

Neste trecho da carta, Paulo está respondendo questões feitas pelos cristãos de Corinto acerca da comida oferecida aos ídolos. Numa sociedade pagã como a greco-romana e sua multitude de ídolos, não era apenas nas festas do templo que esta comida era encontrada. Os  cristãos de Corinto corriam o risco de comprá-la no mercado ou comê-la na casa de um amigo não cristão. Ao não oferecer uma resposta simplista, Paulo trata da questão de uma maneira atemporal que pode nos ajudar a pensar o que significa “fazer tudo para a glória de Deus” até mesmo nos dias de hoje.

1. É pecado?

A primeira orientação de Paulo é que eles não deveriam participar das festas do templo (I Co 10.16-22). Nos versículos 20 e 21 ele diz, “o que os pagãos sacrificam é oferecido aos demônios e não a Deus, e não quero que vocês tenham comunhão com os demônios. Vocês não podem beber do cálice do Senhor e do cálice dos demônios; não podem participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.” Nos perguntamos então: o que desejo fazer está claramente associado a alguma característica ou ambiente pagão?

2. É adequado?

A segunda orientação é sobre a carne comprada no mercado público (v.23-26). A orientação de Paulo é simples: “Comam de tudo o que se vende no mercado, sem fazer perguntas por causa da consciência, pois ‘do Senhor é a terra e tudo o que nela existe’” (v.25,25). Depois que a carne sai de um ambiente pagão (do templo), ela não tem mais relação com os demônios, então é limpa, é do Senhor. Mas, para manter a consciência limpa, os corintos não deviam nem perguntar de onde a carne viera. A pergunta aqui seria: Há coisas que podem glorificar a Deus em um ambiente, mas não glorificá-lo em outro?

3. É ofensivo?

A terceira orientação de Paulo é sobre comer a carne na casa de incrédulos (v.27-30). Ele orienta a comer, sem perguntar, assim como na situação anterior. Porém, caso a pessoa o afirmasse, ele deveria não comer, pois isto poderia significar, tanto para o descrente quanto para algum outro crente ainda em dúvida, que ele participava da idolatria. É essa a questão de todo este ensino – o trecho começa com “Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (v.14). Isto significa que tudo o que fazemos rende glórias a alguém – a Deus ou a Satanás. Nossa única chance de não adorar ao inimigo é intencionalmente glorificar a Deus com nossas atitudes. A vida cristã é, de maneira geral, uma vida intencional.

Por isso, Paulo termina sua explicação dizendo que tanto ao beber, quanto ao comer, quanto ao fazer qualquer outra coisa, devemos glorificar a Deus.

Vamos pensar estas três orientações em uma situação prática, mais atual, e que sempre ouço de moças planejando suas festas de quinze anos ou seu casamento. A pergunta é a seguinte: devo colocar pista de dança? Trabalhemos a partir dos princípios de I Coríntios 10.

1. É pecado?

A primeira questão é que tipo de música, ou dança, estamos falando. Fui a um casamento recentemente onde a noiva dançou com as amigas uma música que continha palavrões. Outra noiva dançou com suas madrinhas de forma extremamente sensual na frente de todos os convidados. Ambas moças cristãs, mas que tiveram uma atitude, no mínimo, insensata. Pode um cristão em sã consciência cantar ou dançar músicas que claramente afirmam imoralidade e ainda achar que glorificam a Deus? Claro que não.

No entanto, dançar, por si só, não é pecado. Miriã dançou de alegria pela vitória dada por Deus na travessia do Mar Vermelho (Ex 15). Davi dançou de alegria quando a Arca da Aliança foi levada para Jerusalém (2 Sm 6).

2. É adequado?

Por toda a história da humanidade, a dança tem sido uma forma física de demonstração de alegria, sendo comum em casamentos e celebrações em povos de várias culturas. Mas o propósito destas danças e o conteúdo destas músicas está bem claro – são canções de adoração e celebração a Deus ou de momentos importantes na vida da comunidade. Elas ocorrem em momentos apropriados, com intenções e propósitos claros, sem apelar para qualquer tipo de imoralidade.

É neste contexto que se encaixa uma valsa com o pai ou mãe, na festa de 15 anos, ou até uma dança romântica com o noivo ou divertida com as madrinhas em seu casamento. Neste caso, não há uma proibição bíblica – já que não há pecado envolvido – mas ainda há necessidade de ponderar se é melhor a se fazer. Nesse tipo de situação, Paulo usaria a famosa frase “Tudo é permitido, mas nem tudo convém. Tudo é permitido, mas nem tudo edifica.” (v.23).

3. É ofensivo?

Depois disso, eu me perguntaria: qual o perfil dos meus convidados? Será que se eu colocasse um espaço para dançar eu os ofenderia? Cuidado para não colocar seu desejo acima daquilo que glorifica a Deus. Glorificamos a Deus não apenas ao evitar o pecado, mas também ao não sermos “motivo de tropeço, nem para judeus, nem para gregos [não cristãos], nem para a igreja de Deus [cristãos].” (v.32)

O que vejo, muitas vezes, são jovens casais, principalmente, desejando fazer aquilo que querem, sem se importar se estão a ofender alguém. Mas não é isso que a Bíblia diz, pelo contrário, “Ninguém deve buscar o seu próprio interesse, mas sim o dos outros”(v.24). Também se ouve que “este é um momento único”, muitas meninas dizem que “é só desta vez”, mas a postura do jovem Jonathan Edwards se torna digna de imitação quando ele diz “farei tudo aquilo que seja para a maior glória de Deus… sem considerar tempo”. Ou seja, sempre. Não há exceções.

Nesta época de fim de ano, onde tantas pessoas fazem as famosas ‘resoluções de ano novo’, quero te desafiar a fazer resoluções de vida, decisões que irão guiar cada momento da sua vida, e não apenas planos passageiros que podem ou não se cumprir, e que não frutifique resultados eternos. Tente fazer como Jonathan Edwards e declare:

RESOLVI, a partir deste momento e até à minha morte, jamais agir como se a minha vida me pertencesse, mas como sendo total e inteiramente de Deus.

PARA PENSAR:

Estou glorificando a Deus com:

  • o modo como me visto?
  • as razões pelas quais escolho minhas amigas / namorado?
  • minha escolha profissional?
  • o uso do meu tempo, das mídias sociais, do meu computador?
  • ________________________ ?