RESOLVI que farei tudo o que sentir ser o meu dever e que traga benefícios para a humanidade em geral. RESOLVI fazê-lo não importando quantas ou quão grandes sejam as dificuldades que venha a enfrentar.

“Tia Lili, me perdoa que eu deixei você espeiando (sic). Isso não foi amoioso (sic).”

Essa frase eu ouvi domingo, após o culto, da boca da minha sobrinha de três aninhos. Enquanto nos preparávamos para sair da igreja, ninguém achava a pequenina ou a mãe. Não sei o que aconteceu, mas creio ter havido alguma desobediência da parte dela e alguma correção advinda da mãe. No entanto, todos ficaram esperando. Passamos na pizzaria para jantar após a cantata de natal das crianças e ela pediu aos pais que a levassem até lá para pedir perdão a cada um de nós. Minha irmã nem teve como recusar.

Ela sempre corrige minha sobrinha a partir de um princípio bíblico simples: Ser sempre amorosa. Se ela aperta o irmãozinho e ele chora, se ela fala de maneira cruzada com alguém ou não obedece uma instrução dada a ela, minha irmã diz: “Isso não é amoroso.” Minha sobrinha até mesmo já decorou I João 4.7,8, que diz:

Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.

Dentre as resoluções de vida de Jonathan Edwards que selecionei para tratarmos nesta série, resolvi dedicar duas semanas para tratar do maior mandamento. Falamos semana passada sobre amar a Deus e viver para Sua glória. Hoje falaremos sobre amar ao próximo.

Há muitos textos que eu poderia abordar sobre a importância de amarmos uns aos outros (Jo 13.34, 35, 15.12, 15.17, Rm 12.10, 13.8, I Ts 4.9, I Jo 3.11, 23, 4.7, 11, 12, II Jo 1.5, etc). Mas vou me ater ao mais clássico de todo, Marcos 12.28-31, por ser constantemente mal entendido.

Notando que Jesus lhes dera uma boa resposta, perguntou-lhe: “De todos os mandamentos, qual é o mais importante?” Respondeu Jesus: “O mais importante é este: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças’. O segundo é este: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Não existe mandamento maior do que estes”. 

Nossa sociedade humanista tem pregado repetidamente a importância de amar a si mesmo. Alguns psicólogos chegam a dizer que o principal problema da nossa sociedade é a baixa autoestima, e que, ao ajudarmos as pessoas a se amarem, elas serão mais felizes (O Google tem mais de 18 milhões de resultados para auto estima). Me parece que essa solução não tem obtido muito resultado além de promover o egoísmo. Pior ainda é ouvir da boca de pastores e líderes que qualquer lugar da Bíblia, principalmente o versículo acima, ordena o amor próprio.

Corro risco de estar pregando para o coral ao dizer que, na verdade, este versículo afirma que o amor é uma ação pra fora. Amar a Deus e amar ao próximo são um mandamento só, o mais importante de todos. É como se ele dissesse: “Ame a Deus com todo o seu ser. Dedique cada momento do seu dia e cada grama de força para amá-lo e glorificá-lo. Você pode fazer isso amando as pessoa à sua volta. Ah, e ame-os do mesmo jeito que você já se ama.

Nós já nos amamos. Se cortamos o dedo, logo estancamos o sangue e colocamos um band-aid. Se estamos com fome, compramos ou fazemos uma comidinha. Se estamos com sede, bebemos água. Se estamos cansadas, paramos para descansar. Nós cuidamos de nós mesmas porque nos amamos. [1]

Se sabemos fazer interpretação de texto, já percebemos que I Coríntios 13 não está falando de um sentimento, mas de ação. Seu professor exigiu mais um trabalho para o fim de semana? O amor é paciente. Sua mãe precisa que você vá no mercado comprar ovos sábado a tarde justamente quando você liga o novo episódio da sua série favorita no Netflix? O amor é bondoso. Você passou na faculdade pública e sua melhor amiga vai correr atrás de um FIES para fazer particular? O amor não se ensoberbece. Seu namorado vai sair com a família de férias e não vai poder te levar? O amor não busca os seus interesses.

Pense bem: você tem sido intencional na prática do amor? É muito fácil planejar uma surpresa de aniversário para o namorado (irmã ou melhor amiga), e isso demonstra amor, mas quando eles pisam na bola conosco, estamos prontos a perdoar? A andar a segunda milha? Você planeja maneiras de demonstrar amor que vão além de festas e presentes? Ou você ainda fica esperando receber para poder dar? O oposto do amor não é a indiferença, ou o ódio, mas o egoísmo. E este pecado, diz Lou Priolo [2], é quase um resumo de todos os outros. Qualquer atitude que não seja amorosa é egoísta.

Então, pare e pense. Quais as suas resoluções de ano novo? Será que elas se encaixam com as suas resoluções de vida? Aliás, você tem resoluções de vida?

As resoluções de ano novo mais comuns nos Estados Unidos em 2015 foram, de acordo com o Statistic Brain Research Institute: 1) perder peso; 2) organizar-se financeiramente; 3) economizar; 4) curtir mais a vida; 5) cuidar da saúde; 6) aprender algo novo; 7) deixar de fumar; 8) ajudar outros a alcançar seus sonhos; 9) apaixonar-se; 10) passar mais tempo com a família. (3)

Podemos ver que a realidade não é muito diferente da nossa (apesar de que uma ou outra dela provavelmente trocariam de posição). A pesquisa afirma que cerca de 50% das pessoas obtém algum sucesso, mesmo que infrequente, mas que menos de 10% das pessoas de fato as alcançam. No entanto, foi provado que pessoas que fazem resoluções explícitas tem 10 vezes mais chance de alcançá-las do que pessoas que não as fazem. Se você deseja ser intencional em tirar os holofotes de si mesma e colocá-los no próximo (seja de sua família, igreja, escola, etc…), precisa tomar decisões – fazer resoluções de vida.

Dois achados desta pesquisa se destacam para mim. O primeiro é que, dentre as pessoas que alcançam suas resoluções, 39% estão na casa dos 20 anos. O segundo é que, enquanto 47% das resoluções são voltadas para investimento pessoal, 38% para perda de peso, e 34% para questões financeiras, apenas 31% tem a ver com relacionamentos.[4]

Vivemos em uma sociedade individualista e voltada para a auto-promoção. Aparência e status são aquilo que importa. Este resultado não me decepciona, na verdade, me surpreende que 1/3 das pessoas tenha planos voltados para os outros. Mas fico imaginando onde nos encontramos. Será que somos parte deste 1/3? Será que somos intencionais em planejar a nossa vida como uma demonstração de amor a Deus e aos outros?

Não é fácil, mas se Deus deu a ordem, Ele dará os recursos. Na verdade, já deu. Temos Sua Santa Palavra, a Bíblia, e temos o Espírito Santo, que nos convence, consola e ensina. Não estamos sozinhas. E, como diz Edwards, precisamos “fazê-lo não importando quantas ou quão grandes sejam as dificuldades” que venhamos a enfrentar.

Muitas de nós aprenderam a perguntar O Que Faria Jesus? (e ainda andamos com as pulseirinhas WWJD para provar). Quero lhe sugerir, hoje, que resolva sempre perguntar: “Isso é amoroso?”

Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade.  I João 3.16-19


 [1] Para ler mais sobre este assunto, adquira o livro “Auto Estima” de Jay Adams, Nutra Publicações.

[2] Lou Priolo faz essa afirmação em vários de seus livros, incluindo Maridos Perseguindo a Excelência, Nutra Publicações.

[3] http://www.statisticbrain.com/new-years-resolution-statistics/

[4] A soma totaliza mais de 100% porque pessoas fazem múltiplas resoluções de ano novo.