A juventude é uma fase maravilhosa da vida. Começa nos anos mais instáveis da nossa vida e nos joga dentro de um buraco cheio de perguntas, dúvidas e possibilidades. Com quem me casar? Devo namorar esta pessoa? Será que é a hora certa? Que curso prestar? Que faculdade estudar? Onde procurar emprego? Devo aceitar este cargo? Devo comprar um carro? Devo fazer aquele intercâmbio?

Tudo isso pode nos deixar ansiosas, indecisas e confusas. O medo de tomar a decisão errada muitas vezes nos impede de prosseguir. Além disso, passamos anos ouvindo na igreja que devemos “buscar a vontade de Deus”. Mas, afinal, qual a vontade de Deus para sua vida?

Recentemente li “Faça Alguma Coisa”, de Kevin deYoung. Pensei que seria apenas mais um livro, e há muitos livros sendo escritos sobre a vontade de Deus, mas a simplicidade com que este assunto foi tratado no livro me surpreendeu. DeYoung diz que, talvez, nosso problema com tentar descobrir o plano de Deus é que Ele não deseja revelá-lo a nós. Pensamos na vontade de Deus como uma coisa mística que devemos passar a vida buscando e que, se nos desviarmos e errarmos, passaremos o resto da vida à parte das bençãos de Deus. Mas não é bem assim.

A vontade de Deus é um assunto muito estudado pelos teólogos e, basicamente, se divide em três: a vontade decretiva, a vontade preceptiva e a vontade diretiva. Talvez este maravilhoso vídeo do Pr. Jeremias Pereira possa lhe ajudar a entendê-las de maneira bem simples.

A vontade decretiva de Deus é aquilo que Ele decretou e que não pode ser mudado, por exemplo, a vinda, a morte e ressurreição e o retorno de Cristo. Deus disse, vai acontecer. Devemos confiar na vontade decretiva de Deus.

A vontade preceptiva de Deus é aquilo que Ele ordenou, seus mandamentos, tais como não mentir, ser grato, honrar aos pais, ir à igreja. Essa vontade de Deus está escrita na Bíblia, e pode ser resistida, mas cabe a nós obedecê-la. No entanto, ela é clara e simples de ser entendida. Quer ver? Deus nos diz para sermos santos (I Ts 4.3). Qualquer decisão que você tomar deve passar pelo filtro da santidade – que o seu trabalho, sua faculdade, seu namoro e seus amigos cooperem para que você seja santa. Deus também nos diz para orarmos, sermos gratos e estarmos alegres (I Ts 5.16-18). Também somos chamados a dar frutos e a conhecê-Lo mais (Col 1.9-12) e a nos enchermos do Espírito Santo (Ef 5.18), dentre outras coisas.

A vontade diretiva é o nosso grande problema. São aquelas perguntas lá de cima, e muitas mais, e que fazem com que todas nós soframos. Mas como descobrimos que direção, dentre as que podemos tomar, é a vontade de Deus para nós? Na verdade, isso tem mais a ver com o que somos do que com o que iremos fazer. O Pr. Darci Sborowski ensina que dizer que “Deus nos criou à sua imagem e semelhança” significa que Deus nos deu três coisas: razão, volição e emoção. Precisamos usar nosso raciocínio e bom senso, sem deixar de levar em consideração que temos vontade e sentimentos. Vejamos um exemplo.

Imagine que você vai comprar um carro. Primeiro você dá uma olhada no tamanho de suas economias e do seu salário, calcula em quanto tempo poderá pagar um carro, sua real necessidade de ter um carro e que modelos estão nessa faixa de preço que se adequam às suas necessidades, para não entrar em dívidas nem ter que deixar o carro na garagem Isto é razão. Visto isso, corre atrás de saber preço, durabilidade, valor de IPVA e seguro, proporção de consumo de gasolina, dentre outras coisas, de dois ou três modelos que te agradam. Talvez você sempre quis ter um Fusca, talvez você queria um sedan qualquer, ou tenha desejos de um carro que dê para carregar os amigos ou um porta-malas grande Isto é volição. Você então reduz sua pesquisa para um modelo só, e com toda a alegria vai à concessionária. Chegando lá, escolhe a cor do seu carro baseada na sua preferência pessoal. Rosa, azul, preto ou branco. Tanto faz. Isto é emoção.

Será que Deus se importaria com alguma dessas coisas? Será que Deus tem um carro especial separado para você, esperando você chegar na concessionária? Me pareceria estranho Deus nos dar a capacidade de tomada de decisão se, no final das contas, Ele tivesse que escrever no céu com nuvens aquilo que quisesse que fizéssemos. DeYoung diz:

“O caminho de Deus não é a bola de cristal. Seu caminho é o da sabedoria. Temos de parar de pedir a Deus que nos revele o futuro e tire todos os riscos de nossa vida. Precisamos começar a olhar para Deus, para o seu caráter, para suas promessas, de modo que tenhamos confiança de correr riscos por amor a Ele.” (p.45)

Nosso problema é que não confiamos Nele, em Sua providência e em Suas promessas e, por isso, temos medo de correr riscos tomando decisões. Já dizia o sábio que ansiedade e depressão são problemas de fé – a ansiedade é não confiar que Deus cuida do nosso futuro, a depressão, a desconfiança de que Ele não cuidou do nosso passado. Para Jesus, a preocupação é falta de fé (Mateus 6.30). Tiago diz que “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. (Tg 3.15). Precisamos fazer planos, tomar decisões e confiar que Deus estará no controle de tudo. O que precisamos, então, para compreender a vontade diretiva de Deus é SABEDORIA.  

Você já leu Provérbios? Dê uma olhada no capítulo 2. Ele é um chamado à sabedoria.

Meu filho, se você aceitar as minhas palavras e guardar no coração os meus mandamentos… então você entenderá o que é temer ao Senhor e achará o conhecimento de Deus. Pois o Senhor é quem dá sabedoria; de sua boca procedem o conhecimento e o discernimento… Então você entenderá o que é justo, direito e certo, e aprenderá os caminhos do bem. (v.,5,6,9).

Quando buscamos a sabedoria, entendemos o que é justo, direito e certo, ou seja, a coisa certa que devemos fazer. Davi clama a Deus por sabedoria no Salmo 25. Ele pede a Ele que o faça saber os Seus caminhos (v.4), que o guie na verdade (v.5). No meio do Salmo ele declara: “Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará no caminho que deve escolher.” (v.12). O autor de I Sm 13.14 diz que Davi era um homem segundo o coração de Deus, ou seja, um homem que sabia e andava segundo a vontade de Deus. Se o temor ao Senhor é o princípio da sabedoria, e Deus revela o caminho aos que o temem, me parece que a sabedoria é o modo como o Senhor nos revela o caminho. Como podemos trilhar o caminho da Sabedoria?

  1. Leia as Escrituras – A vontade de Deus nunca se contradiz, e a única forma de conhecermos a vontade decretiva e preceptiva de Deus é por meio de sua Palavra. No nosso exemplo do carro, conhecer as Escrituras nos levará a tomar uma decisão correta e honrosa. Por exemplo, quanto ao dinheiro, que não façamos dívidas (Rm 13.8, Pv 22.26), nem usemos de dinheiro ganho desonestamente, e que trabalhemos diligentemente para obter recursos (Pv 10.2,4). Ela também nos ensina a planejar antes de agir (Lc 14.28-33) e a nada fazer para nos mostrar ou por ambição egoísta, mas pensando nos outros e em como servi-los (Fp 2.3, Gl 5.26). A sabedoria necessária para entender o porquê e o como de comprar um carro pode ser aprendida nas Escrituras.
  2. Procure bons conselhos – Muitas vezes não sabemos nem por onde começar, outras vezes, sofremos porque nosso coração é corrupto e enganoso (Jr 17.9) e ficamos inseguras ou com dúvidas. Conselhos de pessoas cristãs maduras são muitas vezes usados por Deus para nos direcionar para aquilo que Lhe trará mais glória. Provérbios 15.22 diz que “os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem sucedidos quando há muitos conselheiros.” Veja também Pv 13.10; 15.23; 19.20; 20.5,18. Muitas vezes, a melhor estratégia para a tomada de decisões é simplesmente perguntar a alguém: “O que você acha?” No caso do carro, ouviremos dicas de outros motoristas quanto a que modelo escolher, onde comprar ou como planejar as finanças.
  3. Ore – Parece um conselho repetido, mas não se engane. Muitos oram pedindo a Deus apenas aquilo que querem, sem submeter-se à Sua vontade. A Oração é um pedido, o que significa que o simples fazê-la indica algum tipo de submissão de um inferior a um superior. Ore pedindo a Deus por iluminação – gosto de orar Salmo 119.18 antes de ler as Escrituras pela manhã: “Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei. Salmos 119:18”.
  4. Peça por Sabedoria, como Tiago 1.5,6 diz. Ore por aquilo que você já sabe ser vontade de Deus – que os pecadores se convertam, que Deus seja glorificado, que Sua igreja seja exemplo, para que você seja humilde, para que o Evangelho alcance todo o mundo.
    “Se você estiver bebendo avidamente da santidade da Palavra, em outras pessoas e em sua vida de oração, é bem provável que suas decisões honrem a Deus.” (p.105)
  5. Tome uma decisão – Aprendi cedo com meus pais os três princípios anteriores para tomar uma decisão. Amei encontrá-los neste livro. O que achei mais interessante, no entanto, é que DeYoung coloca “tomar a decisão” como o quarto ponto. O problema, ele diz, é que

“muitos de nós (sobretudo os jovens) hesitamos na hora de tomar uma decisão, dar um rumo definido à vida e, assim, buscar diligentemente a vontade de Deus. São basicamente dois os motivos para isso. Em primeiro lugar, as novas gerações desfrutam de uma “liberdade incomparável”… A vida está aberta e cheia de possibilidades sem fim, mas essa sensação de oportunidade traz consigo confusão, ansiedade e indecisão… Em segundo lugar, nossa busca pela vontade de Deus tornou-se cúmplice da maturidade que nunca chega, uma saída conveniente para que o cristão jovem (ou velho) passe a vida à deriva, sem direção ou propósito. Muitos de nós disfarçamos de ‘busca da vontade de Deus’ a instabilidade, a incoerência e a insaciedade do que vai em nosso interior, como se o hábito de vagar indeciso pela vida fosse um atributo de quem é sensível às coisas espirituais (…) Quando o assunto é o nosso futuro, deveríamos assumir alguma responsabilidade, tomar uma decisão e simplesmente fazer alguma coisa” (p.17,18).

Ele encerra seu livro com algo que talvez devêssemos colar na porta de nossos armários e no topo de nossas mentes:

A vontade de Deus para sua vida, e para a minha, é NATURAL porque não há segredos a serem descobertos, é DIFÍCIL porque negar a nós mesmos, viver para os outros e obedecer a Deus é mais complicado do que arrumar um emprego novo e mudar de cidade. E é LEVE porque Deus pede de nós o que Ele nos dá… Ele nos dá um coração que tem prazer na sua lei. Portanto, viva para Deus. Obedeça às Escrituras. Pense primeiro nos outros, depois em você. Santifique-se. Ame a Jesus. Depois disso, faça qualquer outra coisa que lhe dê prazer – seja com quem e onde for – e você estará andando na vontade de Deus. (p.129,130)

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Citações extraídas do livro “Faça Alguma Coisa”, de Kevin deYoung, Editora Mundo Cristão