VOCÊ TAMBÉM ESCOLHE SUA VOCAÇÃO ESPECIAL

A palavra vocação aparece no Novo Testamento algumas vezes (Ef 4.1; Fp 3.14) relacionada ao chamado para a salvação que os cristãos recebem e como referência a nova vida em obediência a Ele que contempla esse chamado. Muitas acreditam que vocação é um chamado apenas para servir na igreja ou em um campo missionário, mas longe disso, a vocação para servir a Deus não faz distinção entre o que secular e o que é sagrado, ambos são igualmente relevantes para adorar a Deus. Dessa forma, toda mulher cristã tem o “chamado geral” para viver em conformidade com o que Deus almeja, simples assim, todas são evocadas para obedecer a Sua Palavra. Contudo, Ele também designa as suas para realizar atividades específicas conforme os seus dons, habilidades e recursos que concedeu. Esse é o sentido de “vocação especial”, porque se refere à atividade vocacional individual. Esta tem o propósito final de adorar a Deus (Cl 3.23-24) e abençoar a comunidade ao redor (1Pe 4.10), por isso, deve ser escolhida racionalmente, pois não se limita a como passar o tempo e se sentir feliz. 

É necessário escolher qual atividade vocacional exercerá para cumprir essa responsabilidade para com Deus e com o próximo, visto que essa resposta não cai do céu pronta. Muitas escolhem se capacitar em uma faculdade, outras se valem de cursos técnicos, livres ou seminários. A escolha é livre, mas deve contemplar os recursos que Ele te deu (dons, habilidades, bolsas de estudo, orientação dos responsáveis, personalidade, paixões) e estar em conformidade ao padrão de santidade dEle. Conforme as decisões são tomadas, Ele confirma a vocação ao abrir ou fechar portas. É o que diz em Provérbios 16.9, “a mulher” planeja seu caminho, mas o Senhor estabelece seus passos. Embora seja uma decisão racional, também engloba considerar nossas emoções, paixões e gostos. Não se sustenta um trabalho sem “comprar a causa dele” ou ter brilho nos olhos, mas também não se depende unicamente disso para trabalhar, porque dias difíceis sempre vêm e será a decisão que manterá a obediência, não os sentimentos mutáveis. Por outro lado, aquelas que usam seus dons, recursos em obediência a Ele, encontram satisfação no que fazem (Sl 119.35).  

Dessa forma, pode-se dizer, parafraseando um professor que tive, que vocação é tudo aquilo que fazemos, somos, temos e recebemos que externaliza nosso melhor potencial de serviço para glória de Deus em prol da comunidade e nos dá realização pessoal.

 

VOCÊ NÃO SENTIRÁ NECESSARIAMENTE ALGO ESPECIAL QUANDO ESCOLHER SEU CHAMADO

Pode ser que algumas sentem o chamado claro ou que “percebem” sinais divinos sobre o que nasceram para fazer, mas isso não é um requisito bíblico para tomar decisões com relação à vocação especial. Também não se pode dizer que Deus não usa as experiências de determinadas pessoas, mas Ele revelou o suficiente de Sua vontade na Palavra para mostrar o caminho a ser percorrido. Acredito que a maioria das mulheres descobre sua vocação especial quando decidem e ao longo do tempo enquanto persistem nas ações para chegarem em determinado objetivo de trabalho, mais que a minoria que tem um chamado por meio de sonhos ou revelação. A Sofia Müller foi uma missionária que viveu entre tribos indígenas na Amazônia, a quem perguntaram como recebeu o seu chamado. Ela respondeu que leu uma ordem nas Escrituras e obedeceu, simples assim. Por isso, não precisa se desesperar caso tenha uma experiência comum ou esperar por isso para decidir. A vocação especial não cai do céu sobrenaturalmente, é preciso investir nela, esforçar-se muito.

 O que a Bíblia ensina sobre tomar decisões é que não importa a atividade a qual exercerá desde que te leve a viver em santidade, honrar seus responsáveis, usar os recursos que Ele dá e estar vinculado a igreja local para continuar sendo alimentada e frutificar. Ele confirmará ou não a decisão por meio das oportunidades, de conselhos bíblicos e da Sua Palavra. 

 

VOCÊ NÃO SE SENTIRÁ REALIZADA TODA VEZ QUE EXERCER SUA ATIVIDADE VOCACIONAL

É verdade que escrevi que aquelas que andam em obediência à vontade de Deus sentem satisfação, mas o coração de todas as mulheres é corrupto também, podendo desanimar durante o processo por descontentamento, dúvidas e situações difíceis e plausíveis. Que universitário, por exemplo, nunca se perguntou se escolheu a faculdade certa? Ou, que missionário em um campo nunca teve medo de permanecer em sua missão em dado momento? Ou que profissional não quis trocar de área porque o mercado estava muito difícil? Quando houver dúvidas, é certo que virão, é importante conversar com pessoas mais experientes e capazes de instruir de forma bíblica para ajudar a passar por esse pequeno ou grande sofrimento, dependendo de cada caso. Também é necessário trazer à memória aquilo que pode dar esperança, relembrar do propósito da sua vocação e de como Ele dirigiu os passos até ali. A vocação, segundo a Bíblia, também se relaciona a um convite ao sofrimento (1Pe 2.19), embora seja difícil de aceitar. Deus tem propósitos em meio as dificuldades da vida para forjar a Sua imagem em Suas filhas (Rm 8.28). Ele sempre estará por perto e a favor de Suas filhas, mesmo diante da dor. O sofrimento é momento de aprender a confiar, de se lamentar para Ele (contar sua dor, sem reclamar, confiando em Sua bondade) e de buscá-lO em oração e na Sua Palavra. Quando se entende que o sofrimento é uma oportunidade de ser mais íntima dEle, de ter mais convicção sobre a sua vocação e de entender que Ele está no controle, percebe-se que Ele é um privilégio. Aquelas que passam pelo sofrimento com Ele receberão herança por isso também (Cl 3.23-24). 

Diante dessas crises, da falta de realização fica nítido também que toda obra é sustentada por Ele. Por isso, acredito que a vocação não é só sobre a identificação com o trabalho, mas é o quanto Deus leva a realizá-lo. Fica claro, especialmente, naqueles dias em que não aguentamos mais, mas não desistimos porque “algo maior”, bem maior, não nos permite. Acordamos no dia seguinte e temos uma força inexplicável para viver mais um dia. Creio que as vocacionadas são aquelas que se curvam diante de Deus diariamente, pois não há trabalho completo e possível sem Ele. São as guerreiras que travam batalhas solitárias e invisíveis, no entanto, empoderadas por força divina. Que bom que Ele vê e capacita! Ele dignifica esse suor derramado, mesmo que aos olhos humanos não haja reconhecimento e que seja escória. Ainda assim, é possível se realizar no trabalho cotidiano e ordinário, porque Ele coloca o amor e força no coração. As Suas, além do mais, Ele dá riqueza, honra e vida (Pv 22.4).

 

SUA VOCAÇÃO NÃO PRECISA SER A MESMA POR TODA A SUA VIDA

Se vocação é um serviço para glória de Deus em prol da comunidade que engloba talentos, recursos e dons diferentes, isso não significa que ela deve se restringir a uma área por toda a vida. Em dado momento, também por meio de escolhas, orientações, intimidade com Deus e oportunidades, Ele permite que mudanças aconteçam. Dessa maneira, muitos missionários mudaram sua área ministerial, do campo para a igreja ou muitos profissionais decidiram ir para o campo missionário. Claro que estar dentro da mesma área permite melhor o domínio de aprendizado, maior adaptação etc. É ótimo perseverar na mesma área também, até porque, as novas gerações têm menor tolerância a sacrifício e frustrações devido à globalização, acesso a informações dinâmicas e tecnologias fáceis que simplificam processos. Então, o desejo por atividades mais dinâmicas e se sentir entediado ou insatisfeito é mais recorrente, não que seja livre de pecados. Por isso, é preciso ter muita responsabilidade e avaliar bem qual a intenção da mudança de carreira, de trabalho ministerial ou de trabalho. Mas a mudança em si não é pecaminosa.