“O que você espera?”. Essa é uma pergunta típica de virada de ano, não é? Toda virada, passamos com o coração esperançoso que o próximo ano traga boas histórias: quilos a menos, um relacionamento, um dinheiro a mais para isso ou aquilo etc. 

Essa pergunta também me lembra de como nós amamos o “amanhã”, a próxima fase. Se hoje estamos na escola, sonhamos com a faculdade; se estamos na faculdade, sonhamos com a formatura e primeiro emprego; se estamos solteiras, sonhamos com o casamento; se casamos, sonhamos com os filhos; e por aí vai…

Pensando em como nosso coração não se cansa em sonhar, ansiar a próxima fase e criar expectativas, enfrentamos duas perguntas:

  1. Por que somos assim?
  2. Como lidamos com isso?

 

Por que somos assim?

Lá no Éden, quando Deus criou a humanidade, ele colocou em seu coração com vontade, intelecto e emoções. O que isso significa?

  • Intelecto: pensamentos, crenças, consciência.
  • Vontade: capacidade de desejar e escolher algo.
  • Emoções: sentimentos.

Resumidamente, fomos criadas para desejar. Lá no Éden, isso estava totalmente voltado para Deus, quem Ele é. Mas a história mudou. Adão e Eva desobedeceram a Deus e todas nós nos tornamos pecadoras. Nosso intelecto, vontade e emoções foram infectados, nos convergindo não mais para Deus, mas para nós mesmas. Para nos satisfazermos, buscamos outras coisas que não o Senhor.

Hoje nós somos como uma fábrica de expectativas fúteis que tem como objetivo nos agradar. É por isso que o “hoje” nunca é suficiente. A próxima fase é sempre desejada. A conquista do próximo sonho sempre é a nossa meta. A segunda-feira é sempre o dia para começarmos a dieta. O próximo ano é o único que pode trazer esperança. O pecado deturpou nossa forma de encarar as coisas.

Nós precisamos de uma transformação em nossas expectativas! E é aqui que entra a segunda pergunta: “Como?”

 

Como lidamos com isso?

Asafe, o salmista do Salmo 73, compartilha com a gente a história dele e como experimentou a transformação em suas expectativas. Vamos ler juntas?

“Certamente Deus é bom para Israel, para os que têm coração puro. Quanto a mim, quase tropecei; meus pés escorregaram e quase caí”. (v. 1 e 2)

Aqui começa o relato de Asafe, que nos prepara para conhecer sua história. Ele nos fala que Deus é bom e, em seguida, diz: “mesmo que isso seja real, senta que lá vem história”.

“Pois tive inveja dos orgulhosos quando os vi prosperar apesar de sua perversidade. Levam uma vida sem sofrimento e têm o corpo saudável e forte. Não enfrentam dificuldades, nem estão cheios de problemas, como os demais. Ostentam o orgulho como um colar de pedras preciosas e vestem-se de crueldade. Seus olhos cobiçam sempre mais, e o coração vive cheio de más intenções. Zombam e falam somente maldades; em seu orgulho, ameaçam usar de violência. Falam como se fossem donos dos céus, e suas palavras arrogantes percorrem a terra. Por isso, o povo se volta para eles e bebe todas as suas palavras. “O que Deus sabe?”, perguntam. “Acaso o Altíssimo tem conhecimento disso?” Vejam como os perversos desfrutam uma vida tranquila, enquanto suas riquezas se multiplicam.Foi à toa que mantive o coração puro? Foi em vão que agi de modo íntegro? O dia todo só enfrento problemas; cada manhã sou castigado”. (v. 3 a 14)

Esse pedaço parece uma viagem pelo Instagram: em que você começa a ver a vida dos outros e a invejá-los.

O que Asafe estava fazendo aqui não era só observar a vida alheia, ele estava tentando criar uma lógica para uma vida de sucesso e sua conclusão foi: “pessoas que estão nem aí para Deus, tem tudo de bom; e eu que sou filho de Deus, sofro”. E qual a consequência da inveja e racionalização de Asafe? Um questionamento da sua vida com Deus! Para quê viver com Deus? Para ser puro? Para quê ser integro? Isso não me leva a lugar nenhum! 

Asafe tinha expectativas em seu coração, mas eram expectativas humanas, por isso invejou, racionalizou e questionamentou a Deus.

“Se eu tivesse falado como eles, teria traído teu povo. Tentei compreender por que prosperam; que tarefa difícil! Então, entrei em teu santuário, ó Deus, e por fim entendi o destino deles. Tu os puseste num caminho escorregadio e os fizeste cair do precipício para a destruição. São destruídos de repente, completamente tomados de pavor. Quando te levantares, ó Senhor, rirás das ideias tolas deles, como quem ri de um sonho pela manhã”. (v. 15 a 20)

Então, a história muda! A transformação nas expectativas de Asafe aconteceu! E onde ela começou? “Então, entrei em teu santuário, ó Deus”. Essa expressão não se refere a um lugar físico, mas uma consciência da presença de Deus em sua vida. Ele era cristão, Deus habitava Nele! Deus estava ali o tempo todo, o problema é que Asafe não alimentava isso em sua mente e coração, pelo contrário, preferiu alimentar sua mente e coração com as coisas desse mundo. Asafe pertencia a Deus e, por causa disso, podia passar por cima dessa crise que vivia. 

E ele reconhece nos próximos versos.

“Percebi, então, que meu coração se amargurou e que eu estava despedaçado por dentro. Fui tolo e ignorante; a teus olhos devo ter parecido um animal irracional. E, no entanto, ainda pertenço a ti; tu seguras minha mão direita. Tu me guias com teu conselho e me conduzes a um destino glorioso. Quem mais eu tenho no céu senão a ti? Eu te desejo mais que a qualquer coisa na terra. Minha saúde pode acabar e meu espírito fraquejar, mas Deus continua sendo a força de meu coração; ele é minha possessão para sempre”. (v. 21 a 26)

O coração de Asafe, por suas expectativas erradas, se encontrou amargo, despedaçado. Mas, ao voltar-se para Deus, lembrou-se que:

  • Ele pertence a Deus.
  • Pode viver na segurança Dele.
  • Tem em Deus condução (Bíblia) e um destino maravilhoso (vida para sempre com Ele).
  • Em Deus tem força que precisa para enfrentar qualquer coisa – ansiedade, doença, desafios.
  • Reconhece que Deus é tudo o que tem.

“Os que te abandonam perecerão, pois destróis os que de ti se afastam. Quanto a mim, como é bom estar perto de Deus! Fiz do S enhor Soberano meu refúgio e anunciarei a todos tuas maravilhas”. (v. 27 e 28)

E assim Asafe termina dizendo duas coisas:

  • Aqueles que não tem em Deus suas expectavas, perecerão…
  • Já aqueles que colocam em Deus suas expectativas, encontram refúgio e isso os leva a falar Dele por onde passam

 

Conclusão

Com a história de Asafe, nós podemos concluir algumas coisas:

  1. Mesmos sendo cristãs, nosso coração tende a expectativas humanas, que por sua vez, nos levaram a insatisfação e frustração.
  2. A insatisfação nos faz ter percepção errada da realidade e nos faz questionar a vida com Deus:
    1. Asafe viu os outros com uma vida perfeita, o que é impossível! Todos nós passamos por problemas, inclusive os ricos, lindos e famosos.
    2. Por ter uma percepção errada da realidade, Asafe questionou quem Deus é.
  3. Não valorizamos o pertencimento a Deus:
    1. Assim como Asafe, nós também pensamos muito pouco em que Deus é e o que isso significa em nossa vida. Passamos mais tempo nos alimentando de outras coisas do que de quem Ele é. Esquecemos que:
      1. Pertencemos a Deus.
      2. Podemos viver na segurança Dele.
      3. Que em Deus temos condução (Bíblia) e um destino maravilhoso (vida para sempre com Ele).
      4. Que em Deus tem força que precisa para enfrentar qualquer coisa – ansiedade, doença, desafios.
  4. Quando nos voltamos para Ele, encontramos refúgio e isso nos leva a falar Dele por onde passamos.

 

Para praticar

  1. Admita que não valoriza o pertencimento a Deus.
  2. Proteja sua mente:
    1. Asafe racionalizava a vida da perspectiva humano e não de Deus
    2. Muitas vezes, estamos procurando ajuda e respostas em outras que não tem Deus como fundamento, isso nos leva a viver o que Asafe viveu: questionar Deus. Como eu tenho vistos jovens da minha igreja se perderem por isso. Passam horas lendo livros seculares e influencers não cristãs ao invés de nutrir uma cosmovisão cristã. E qual a consequência disso? Por não conhecer a Palavra de Deus de fato, passam a achar argumentações falhas como boas, questionam a Deus e se afastam Dele. Todas nós estamos sujeitas a isso, por isso, nutra sua mente com quem Deus é e as promessas que nos deixou em Sua Palavra.
  3. Descanse:
    1. A medida que aprendemos a valorizar o pertencimento a Deus e protegemos a nossa mente, descansamos em quem Ele é. Isso não nos limita a ter sonhos ou planos. Mas isso nos faz colocar Deus acima disso. E quando algo sai do planejado, por mais que doa, conseguiremos dizer o que Asafe disse:

“Quem mais eu tenho no céu senão a ti? Eu te desejo mais que a qualquer coisa na terra. Minha saúde pode acabar e meu espírito fraquejar, mas Deus continua sendo a força de meu coração; ele é minha possessão para sempre”.