Quando uma mãe pede ao seu filho que lhe abrace e ele o faz de má vontade, a motivação dele está desprovida de qualquer valor moral, não tem amor nem afeto. E, certamente, sua mãe não se alegra tanto quanto como quando ele a obedece com prazer. Apesar de ela ter-lhe pedido um abraço, ele poderia tê-lo dado afetivamente e ter aproveitado este afeto como ela o faria. Semelhantemente é a nossa ínfima busca por Deus. Habituamo-nos a iniciar nossas orações da mesma forma, lemos a Bíblia mecanicamente e levantamos nossas mãos no louvor instintivamente quando a música pede. Temos a intenção de agradar ao Pai,  mas não nos deleitamos mais com esse ato. Será que O estamos adorando devidamente?!

Na verdade, não. Se alguém me perguntasse “O que é mais importante: a glória de Deus ou o prazer nEle?!” Eu tremeria para responder, mas acertaria ao dizer que não há um mais importante em relação ao outro. O grande problema é que esqueço isso,  nós nos esquecemos disso. Não pensamos que o prazer em glorificar a Deus é parte da adoração e não apenas consequência de uma obediência. Como escreveu Jonathan Edwards…

“Deus é glorificado não somente por Sua glória ser contemplada, mas pelo regozijar-se nela. Quando os que a veem regozijam-se, Deus é mais glorificado do que se ela for somente contemplada. Sua glória é então completamente recebida pela alma, e também pelo entendimento e pelo coração. Deus criou o mundo para que Ele pudesse comunicar a Sua glória à criatura; e para que esta possa [ser] recebida pela mente e pelo coração. Aquele que afirma a sua ideia da glória de Deus [não] glorifica tanto a Deus quanto aquele que, além disto, também declara o seu… prazer nela”. (1)

E quantos versículos bíblicos são claros na Palavra de Deus sobre isso!

“Tenho vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo. ” João 15.11

“Alegrai-vos sempre no Senhor.” Filipenses 4.4

“Alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando”. 1Pedro 4.13

Dessa forma, podemos afirmar que um relacionamento com Deus não é apenas baseado em decisões e nas ações que elas redundam, mas em sentimentos. Mesmo que eles não estejam sob o nosso controle imediato  da mesma forma que a força de vontade está, Deus também nos ordena a senti-los. Tenho uma amiga que sempre me lembra que somos seres completos, criados com razão e emoções, e que devemos desfrutar disso para a glória do Pai.

“Amai-vos ardentemente uns aos outros de coração”. 1Pedro 1.22

Contudo, posso escrever que, por mim, muitas vezes tive meu coração preguiçoso ou insatisfeito a ponto de não me deleitar nEle e sei que muitos passam por isso também. O que fazer quando não sentimos prazer em buscar a Deus?! Desistir seria mais honesto?!

Para essa pergunta, a resposta também é não. Apesar de não existir uma receita com passos certeiros para restaurar esse prazer, sugiro a você que ore. Confesse a Deus a sua falta de alegria e prazer nEle e peça que Ele a ajude a amá-lO com todo o coração, com toda a sua alma e com todo o seu entendimento. Quando confessamos nossa indisposição de sentir prazer, também o glorificamos com a nossa sinceridade.

Mas, também não deixe de agir em busca da glória de Deus. Precisamos exercitar nossa força de vontade para reacender esse deleite nEle! Procure manter seu momento de devocional e, varie, mude para um horário em que você aproveite mais, ouça uma música que te anime, leia um salmo aleatório para te motivar um pouco mais. A grande motivação, que é a busca pelo prazer/glória dEle, você já tem, mas sugiro essas inovações para tornar o momento de devocional mais leve e não um peso de obrigação. Continue indo à igreja, compartilhe com uma amiga querida sobre sua dificuldade espiritual, pois, com certeza, é melhor dividir as crises do que lutar contra elas sozinha.

Não se esqueça também de relembrar as situações em sua vida em que os atributos (as características) de Deus foram claros, pois podem ajudá-la a sentir novamente afeição por Ele. Traga à memória um momento em que Sua bondade, Seu amor, Sua proteção, foram nítidas para você.

Provem e vejam como o Senhor é bom! Como é feliz o homem que nele se refugia. ” Salmo 34.8

“Deem graças ao Senhor porque Ele é bom; o seu amor dura para sempre.” Salmo 107.1

“O Senhor é o seu protetor, como sombra que o protege, ele está a sua direita.” Salmo 121.5

Assim, também notamos que até mesmo para O buscarmos prazerosamente dependemos dEle, pois Ele ouve nosso clamor para glorificá-Lo e nos move a querer fazer isso (Fp 2.12,13).

Diferente daquele filho que não aproveitou a prazerosa afeição no abraço de sua mãe, vamos aproveitar um relacionamento prazeroso com o Pai. Todas somos beneficiados e ainda, o mais importante, continuamos a glorificá-Lo devidamente, com obediência e prazer!

“Quão suave se tornou de repente para mim a privação de falsas delícias! Eu que tanto temia perdê-las, senti prazer agora em abandoná-las. Tu, ó verdadeira e suprema suavidade, as afastava de mim. Afastavas e entravas em lugar delas, mais doce do que qualquer prazer. ” Santo Agostinho (2)

“A finalidade da criação é glorificar a Deus. E o que é glorificar, senão regozijar-se diante da glória que Ele manifestou? ” Jonathan Edwards (3)


Baseado no livro “Plena Satisfação em Deus: Deus glorificado e a alma satisfeita” de John Piper.

1. John Piper. Plena Satisfação em Deus: Deus glorificado e a alma satisfeita. p.24

2. Ibid p.17

3. Ibid p.17