Se você nasceu em uma família cristã, provavelmente aprendeu a orar antes mesmo de aprender a falar. Abaixava a cabeça e unia as mãos acompanhando as orações dos outros membros da família e até dizia “Amém”, ou emitia algum som parecido. Até mesmo aquelas que não conhecem a Deus de berço cresceram entendendo o conceito de oração.

Entretanto, para muitas pessoas, orar não é tão simples. Para elas, oração é um campo de muitas dúvidas. Afinal, o que é orar? Orar é apenas falar com Deus? É repetir palavras de um livreto ou qualquer coleção de palavras jogadas ao céu? É possível orar sem emitir som? Como posso orar? Que tipo de palavras devo usar? E por aí vão as perguntas.

Não quero me colocar na posição daquela que carrega conhecimento. Tudo o que você verá aqui já foi dito na Bíblia ou em livros cristãos por todo o mundo. De minha própria experiência de caminhada com Deus, a partir do estudo das Escrituras, acredito que orar exija pelo menos três coisas: Conhecimento, Confiança e Condicionamento

A Bíblia diz que oração é parte do relacionamento do homem com Deus. É falar com Deus. Assim, não existe uma exigência para que um grupo de palavras seja considerada oração, apenas a atitude daquele que ora. Qualquer pessoa pode orar, com palavras ou com gestos, em pensamento ou em voz alta, sozinho ou em grupo, em qualquer língua e a qualquer hora do dia.

Jesus orava frequentemente, chegava a dedicar longos tempos em oração quando a situação demandava. Jesus demonstrava profundo CONHECIMENTO daquele a quem orava. Sendo Deus, Ele conhecia a Seu Pai e, por isso mesmo, constantemente se apresentava a Ele, clamando em todos os momentos pela Sua intervenção no mundo.

Quando Jesus ensinou a orar, em Mateus 6, deu orientações claras sobre as possíveis formas de clamar a Deus: reconhecimento de quem Ele é, adoração, súplica, entrega, pedido, arrependimento e confissão de pecados, livramento… Paulo dizia “orai sem cessar” e suas orações por seus amados filhos na fé e pelas igrejas a quem escreveu demonstram profundo conhecimento de Deus, da oração, do poder da oração e da importância da mesma.

Os quatro principais tipos de oração são louvor, súplica, petição e agradecimento, no entanto, é normal misturá-los em uma mesma oração (veja por exemplo, o Pai Nosso).

Numa oração de louvor, declaramos a Deus seus atributos que reconhecemos, Sua grandeza admirável, Seu favor sem par. Relembramos aquilo que foi feito por nós, nos admiramos de Seu caráter e nos deliciamos no conhecimento de quem Ele é: o Deus Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra, que mesmo sendo Deus não considerou isto coisa a que se devia apegar, antes humilhou-se a si mesmo e veio a este mundo, sentiu nossas dores, identificou-se conosco, e hoje não apenas nos ouve, mas entende a nossa dor e responde às nossas orações. Ele é poderoso não apenas para nos dar aquilo que precisamos, mas conhece nosso íntimo e dá mais do que pedimos ou pensamos. Também, por muitas vezes, nos dá apenas o que precisamos, ou nos permite passar por sofrimentos, situações onde não conseguimos ver além da curva. E nesses momentos podemos, novamente, nos achegar a Ele em oração, porque o CONHECEMOS. Jó depois de passar pela provação disse: “Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem.” (Jó 42.5).

Numa oração de súplica, chegamos a Deus com nossas dúvidas, dificuldades, medos, falta de temor, problemas, falhas… Seja para confessar pecados, ou abrir o coração sobre nossas angústias, ou chorar a nossa dor e declarar nossa falta de temor a Ele – ao reconhecermos nossa necessidade e nos achegarmos a Ele, CONHECENDO quem ele É – suplicamos pela sua intervenção: que nos perdoe, cure, responda, proteja, cuide, guarde, console, restaure. Isso significa que reconhecemos nossa incapacidade de resolver nossos problemas e entregamos a Ele o lugar que lhe é devido de Senhor de nossas vidas. A oração de petição é quando fazemos o mesmo, mas voltado para a necessidade de outras pessoas.

E por fim, numa oração de gratidão, Lhe agradecemos pelas bênçãos já derramadas em nossa vida, pela nossa experiência passada com Ele, porque podemos confiar Nele e porque a porta está aberta para nos achegarmos a Ele, porque ele já proveu a solução de todos os nossos problemas mesmo antes deles acontecerem, e que não importa a resposta que Ele nos der – sim, não ou espere – sabemos que quando descansamos nEle, Ele faz infinitamente mais, a Seu tempo e de Seu modo, além do que nossas limitadas mentes podem conceber, e até mesmo Lhe agradecemos antes mesmo de receber a resposta, porque Somos gratos por quem Ele é e pelo simples fato de, sendo quem é, ainda assim estar sempre disposto a nos ouvir!

E nós podemos confiar que SIM, a oração funciona, porque o Deus a quem oramos é poderoso.

A Bíblia está cheia de textos que afirmam que a oração funciona e que se pedirmos, com CONFIANÇA e fé em Deus, e nos conformarmos à sua vontade boa, perfeita e agradável, receberemos! (Sl 50.15, Jo 14.13) Pedi e dar-se-vos-á. Peça sem duvidar.

Acredito que o poder da oração de nos tornar humildes vem justamente da exigência da CONFIANÇA para que ela seja mais do que palavras jogadas ao vento. A oração é um pedido. Você não pediria a um médico para lhe operar se não confiasse em seu diagnóstico e capacidade de realizar a cirurgia. Você não pediria a um arquiteto ou engenheiro para projetar ou edificar a sua casa se desconfiasse de que o diploma dele não tem valor algum. Ou seja, é porque confiamos na pessoa e em sua capacidade que lhe fazemos pedidos, requerimentos. CONHECEMOS a Deus, e em seguida, CONFIAMOS naquilo que aprendemos Dele.

Calvino chamava a oração de “o principal exercício de fé”. Não porque é a última opção, mas porque é SEMPRE a única opção 100% eficaz. Orar é clamar pelo agir de Deus, e mostrar a Ele que CONFIAMOS nesse agir. John Piper explica porque a oração é a língua materna da fé (1):

“João 15.7 mostra que a Palavra de Deus e a fé, e portanto a oração, estão intrinsecamente ligadas. “Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito.” Fé é a resposta à Palavra de Deus “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir da Palavra de Cristo” (Rm 10.17). Como Tim Keller tão precisamente afirma: “Se as palavras de Deus são Sua presença pessoal e ativa (Jo 1.1-3; Is 55.10,11), então colocar sua fé nas palavras de Deus é colocar sua fé em Deus.”(2) Então se sua fé está em Deus (nas promessas de Deus, cf. 2 Pe 1.4), e Deus diz que se você confiar nele, pode “pedir o que quiser” (Jo 15.7), então a expressão natural da nossa fé em Deus é a oração.”

Assim, podemos concluir que, se a oração é a linguagem da fé, a falta de oração é um problema de fé. Ou seja, se queremos ser fluentes em nossa vida de oração, precisamos descobrir onde estamos falhando em confiar Nele, pois a não ser que nossa confiança em Deus esteja novamente estabelecida, não voltaremos a nos dedicar à oração.

A principal raiz de nossa incredulidade, que pode bloquear o fluxo de nossa vida de oração, assim como uma represa bloqueia o curso de água de um rio, é o orgulho.

Oração é sinal de necessidade. É reconhecer que preciso de ajuda, que não posso fazer sozinha. E talvez seja por isso que orar seja tão difícil: porque somos orgulhosos, porque achamos que podemos resolver nossos problemas. Se conhecêssemos a nós mesmos de verdade, deixaríamos de contar com nossa capacidade e nos dobraríamos aos pés de Cristo a todo o tempo. Mas porque confiamos em nossa capacidade de fazer (que achamos ter), assim como na capacidade do médico em fazer nossa cirurgia ou do arquiteto em construir nossa casa, não entregamos estas situações verdadeiramente a Deus. Mas como diz Tiago:

“E agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos; no entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.” (Tg 4.13-15).

Sim, orar é simples. É o abrir dos lábios para declarar as maravilhas de Deus, para clamar pela sua ação, e para agradecer por suas bênçãos. Mas orar não é tão simples, porque espera de nós uma atitude de humildade e submissão, de reconhecimento da Grandeza e Perfeição divinas, e também de reconhecimento de nossa Pequenez e Imperfeição e de nossa necessidade Dele. Orar é humilhar-se. É dizer: “Deus, reconheço que preciso de Ti. Reconheço quem Tu és, o que fazes, o que podes fazer. Reconheço também minhas limitações e meu pecado, e por isso venho a Ti em oração.”

Minha pergunta é: quanto você confia que Deus pode fazer aquilo que você pede em oração?

Por fim, orar exige CONDICIONAMENTO. Piper diz que “a fé é o combustível da oração, mas a disciplina é o trilho que a mantém no lugar”(3).

Marshall Segal ao falar sobre o passo a passo da oração, nos traz as dicas a seguir (4).

  • Escolha um momento e um lugar – por mais que seja possível orar em qualquer momento e lugar (Jo 4.20-23; Ef 6.18), isto pode nos levar a orar em lugar nenhum. Sim, podemos fazê-lo antes de um teste, na fila do ônibus ou do mercado, etc, mas reservar um horário para isso é garantir que haverá constante combustível para alimentar nosso trem. Se você não deixa de carregar seu bilhete de ônibus ou colocar gasolina no seu carro, não deixe de alimentar sua vida com oração diariamente. A oração individual constante é nosso melhor combustível – é como alimentar o carro com gasolina ao invés de etanol ou GNV.
  • Ouça antes de falar – se orar é conversar com Deus, é necessário que possamos ouvi-lo. Se parte da oração é conhecimento, é ao ler Sua Palavra que podemos conhecê-lo.

“Quando você se assentar para orar, deixe Deus falar primeiro. Coloque suas palavras vivas e ativas em seus ouvidos, e deixe que elas modelem e inspirem o que você dirá a Ele. Se você aprender algo novo sobre Ele e seus caminhos, diga-o para Ele. Se os versículos despertarem questões, pergunte a Ele. Eventualmente, você poderá despejar suas cargas e clamar por suas necessidades, mas comece adorando-o por e com Sua Palavra.”(5)

  • Priorize o espiritual sobre o circunstancial – sim, é importante pedir o pão de cada dia, mas sua maior necessidade é a vida espiritual, pois é isto que conta para a eternidade;
  • Não tenha medo de parar e orar agora – você esbarrou em uma amiga na rua e ela pediu pra você orar pelos pais dela? Porque não parar e orar naquele momento? Experimente isto.
  • Identifique seu circulo de prioridades de oração – de forma simplificada, primeiro você, depois sua família, sua igreja, seus amigos, seu país, e só então, o resto do mundo.
  • Peça QUALQUER coisa – a gente às vezes cria uma caixinha de coisas que dá pra pedir para Deus e cuidamos do resto (nossas preocupações, frustrações e sonhos). Assumimos que Deus não está interessado ou não tem tempo para os pequenos detalhes da nossa vida. Mas não é assim (Gn 18:14, Mt 17.20). Ele pede que levemos TUDO a Ele em oração (Fp 4.6). Lembre-se disso da próxima vez que deixar cair sua lente de contato…
  • Esteja disposta a pedir de novo – Lucas 18.4-8 conta a história da viúva que foi persistente em seu clamor com um juiz. Esta parábola nos lembra de que se um juiz injusto a ouviu, quanto mais um Deus amoroso e fiel nos ouviria.

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhas pedirem? (Mateus 7:7-11)

 

1. Do artigo de John Piper “What to do when we are prayerless”

2.  KELLER, Timothy. Prayer: Experiencing Awe and Intimacy with God. New York, NY: Dutton, 2014. p. 53.

3. Ibid Piper

4. Do artigo de Marshall Segal “Prayer for beginners”

5. Do artigo de John Piper “The morning I heard the voice of God”