Você se lembra de brincar de esconde-esconde quando era pequena? Eu brinquei demais! Me lembro claramente da sensação de esperar sorrateiramente em um esconderijo, torcendo para que ninguém me encontrasse. Lembro que sempre ficava dividida entre o medo de ser pega e a curiosidade para ver se tinha alguém chegando perto e isso gerava uma ansiedade tão grande em mim, que eu ficava com muita vontade de fazer xixi. Lembro até de uma vez que fiz xixi na calça por não saber lidar com a ansiedade! (pois é, foi bem constrangedor! rsrs)

Quando fiquei um pouco mais velha, era a ansiedade em relação às notas da escola que me deixava louca. Lembro muito bem da minha primeira nota vermelha, foi quase como um soco no estômago. O que vou fazer agora? Como vou recuperar essa nota? Será que vou ficar de recuperação? Só de pensar, parecia que tinha um alien no meu estômago se revirando! O que as pessoas vão pensar? O que meus pais vão dizer? Quanto mais eu pensava, mais o alien se revirava dentro de mim. Fui direto para o banheiro, me tranquei na cabine e fiquei tentando vomitar para ver se aquilo saía de dentro de mim.

Infelizmente, não podemos simplesmente vomitar nossa ansiedade para nos livrar dela! Também não adianta tentar ocupar a mente com outra coisa, cantar uma música ou dormir. Podemos até nos sentir um pouco aliviadas comendo, fazendo academia, ou fazendo qualquer outra coisa que nos traga prazer, mas a verdade é que nada disso cura a ansiedade, apenas ameniza, até que apareça um outro fator de stress, medo ou insegurança, e lá estamos nós de novo!

Conheço muitas pessoas escravizadas pela ansiedade, pessoas que estão sempre com as unhas roídas, que sofrem de insônia, que sentem dor de barriga quando estão ansiosas, pessoas que desenvolveram gastrite, ou até mesmo que chegaram a ter crises de pânico. Você conhece alguém assim? Talvez você mesma seja ansiosa, então fique ligada! Essa série vai falar sobre a ANSIEDADE, explicando o que é, em uma perspectiva bíblica, e como podemos lidar com ela! Estão prontas?

O que é ANSIEDADE?

No Antigo Testamento podemos encontrar seis palavras que foram traduzidas como “ansiedade”:

  • tsarah, que aparece em Gn 42:21 e que também é traduzida como angústia (Dt 31:17), aperto (Jz 10:14), tribulação (Sl 9:9) ou aflição (Jr 15:11);
  • morek, que aparece em Lv 26:36 e tem o significado de fraqueza ou medo; (1)
  • siyach, que aparece em 1 Sm 1:16 e também é traduzida como queixa (Sl 55:2);
  • ‘anachah, que aparece no Sl 38:9 e também é traduzida como gemidos (Sl 6:6);
  • da’agah, que aparece em Pv 12:25 e também é traduzida como preocupação (Js 22:24) ou agitação (Jr 49:23);
  • tsuwqah, que aparece em Is 8:22 e também é traduzida como angústia (Pv 1:27).

Já no Novo Testamento, podemos encontrar uma palavra (e suas variações):

  • merimna, que aparece em 1 Pe 5:7, mas também aparece como merimnao no famoso texto de Mt 6:25-34, significando a ansiedade relacionada às preocupações com o futuro.

Não estou querendo que vocês aprendam grego ou hebraico, mas apenas que observem um aspecto muito interessante: a ansiedade é constantemente relacionada a sofrimento, tanto emocional quanto físico. Porque esse sofrimento aparece? Podemos observar vários motivos:

  1. CULPA: Em Gn 42:22, os irmãos de José estão sendo provados por ele (sem saber ainda que ele era o irmão que tinham vendido como escravo no passado) e, diante da dificuldade, eles encontram a culpa como explicação mais razoável: “Então, disseram uns aos outros: Na verdade, somos culpados, no tocante a nosso irmão, pois lhe vimos a angústia da alma, quando nos rogava, e não lhe acudimos, por isso nos vem essa ansiedade”. Eles pensaram que algo de mal ia acontecer com eles devido sua culpa e esse foi o motivo da ansiedade, quase como aquela ideia do ditado popular que diz que “o mal que você faz volta para você”. Muitas vezes o motivo de nossa ansiedade é algo que fizemos de errado no passado e que não colocamos diante de Deus. A memória se transforma em culpa, uma culpa que consome, corrói e nos persegue como um fantasma.
  2. MEDO: Em Lv 26:36, Deus está avisando o povo de Israel o que aconteceria caso eles deixassem de obedecer a Sua lei perfeita. Além de muitas tragédias descritas nos versículos anteriores, Deus afirma que aqueles que sobrevivessem às desgraças seriam tomados de tal forma pela ansiedade que “o ruído de uma folha movida os perseguirá; fugirão como quem foge da espada; e cairão sem ninguém os perseguir”. Mesmo sem um motivo real, sem ninguém perseguindo, eles fugiriam, pois teriam medo do que poderia acontecer. A distância e rebeldia contra Deus gera mesmo uma insegurança muito grande, pois deixamos o lugar seguro debaixo da obediência. Quando menos percebemos, estamos apavoradas, fugindo da nossa própria sombra.
  3. EXPECTATIVAS FRUSTRADAS: Em 1 Sm 1:16, Ana, uma mulher estéril, está frustrada por não conseguir gerar filhos. Sua angústia é tão grande que, quando ela vai ao templo orar, o sacerdote pensa que ela está embriagada e vai repreendê-la, ao que ela responde: “Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque pelo excesso da minha ansiedade e da minha aflição é que tenho falado até agora”. As coisas não deram certo. O filho não veio. A reprovação no vestibular veio pelo segundo ano consecutivo. Você perdeu alguém querido. Descobriu uma doença. E então a angústia ansiosa toma conta da sua alma.
  4. TENTATIVA DE CONTROLAR O FUTURO: Em Mt 6:25-34 temos registrado o famoso “Sermão do Monte”, no qual Jesus fala sobre as diversas características daqueles que são Filhos de Deus. Uma delas é a confiança no Deus provedor. Jesus afirma: “Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai Celeste sabe que necessitais de todas elas”. Quando nos preocupamos com questões básicas da vida, como o que comer ou vestir, nos esquecemos que esta tarefa não é nossa, mas de Deus. Assim, agimos como se pudéssemos ter controle sobre nosso futuro, garantindo-nos isso ou aquilo, tentamos ser Deus. Que ilusão! Com certeza nos frustraremos e nos tornaremos mais ansiosas ainda.

E aí, se identificou com algum desses motivos que geram ansiedade? Independente de qual deles ou quais deles você tenha percebido que é o seu caso, é importante entender que todos eles estão relacionados a uma motivação e atitude pecaminosa. A ansiedade, portanto, é em última instância, um pecado que, como todos os outros, gera sofrimento e dor.

Nas próximas semanas falaremos mais sobre cada uma dessas motivações e atitudes pecaminosas relacionadas à ansiedade. Também começaremos a entender quais são as armas que Deus nos dá para vencer a ansiedade. Até a semana que vem!

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  1. Portuguese Strong’s Dictionary, Olive Tree Bible.