Na maioria das vezes em que se menciona o plano de salvação seguindo um método já existente, por exemplo o do “Livro Sem Palavras” ou “As Quatro Leis Espirituais”, não se ressalta a ressurreição de Cristo. Ainda que estes não sejam inválidos para alcançar pessoas para Ele, revelam um detalhe no entendimento do evangelho de muitos cristãos: a amnésia da ressurreição de Jesus. Você já parou para pensar em como seria sua fé se Ele não houvesse voltado a vida? Pois bem, poderia ser mitológica ou simbólica, mas não seria real e capaz de transformar a realidade presente.

Se Cristo não houvesse ressuscitado não haveria regeneração

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a Sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.” 1 Pedro 1.3

Regenerar é o termo usado em 1 Pedro 1.3 que significa “nascer de novo”. Os cristãos só possuem vida nova porque Jesus, ao ressuscitar,  lhes tornou possível serem “reformados” interiormente pelo Espírito Santo, de forma que podem desfrutar de comunhão com o Pai. Seus pecados lhes podem incomodar porque foram regenerados, suas orações deixam de ser vãs petições religiosas porque têm vida nova e as Escrituras podem surtir efeito neles porque foram restaurados.

Se Cristo não houvesse ressuscitado não haveria justificação

“[Jesus] foi entregue por nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.” Romanos 4.25

Justificação é o ato instantâneo e legal da parte de Deus por meio do qual Ele considera os nossos pecados perdoados e a justiça de Cristo como pertencente a nós.[1] Como Ele voltou a vida, a aprovação de Deus com relação ao Seu sacrifício foi testificada, sendo então, suficiente para garantir o perdão para todos os que creem nEle. É como se Deus tivesse quitado o déficit de pecados dos cristãos, lhes dando um saldo positivo e não apenas um neutro. De que adiantaria pedir perdão pelos pecados se Cristo não houvesse ressuscitado?

Se Cristo não houvesse ressuscitado não haveria esperança

“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”. 1 Coríntios 15.19

No capítulo 15 de Coríntios, o apóstolo Paulo tratou sobre a ressurreição de Cristo e sua necessidade na vida dos cristãos. O fato de Ele ter sido “as primícias dos que dormem” (v. 20), isto é, o primeiro a ressuscitar de todos os mortos, assegura aos cristãos que eles também ressuscitarão após a morte. Terão seus corpos revestidos de incorruptibilidade e imortalidade, em outras palavras, ressuscitarão para a vida eterna. “No Senhor o trabalho deles não é em vão” (v. 58): podem viver uma vida de santidade e de testemunho porque vencerão a morte, por Ele, e viverão com Ele para sempre! Caso vivessem sem esta esperança poderiam entregar-se a filosofias hedonistas, dando-se aos prazeres da carne porque o que lhes restaria da vida seria morrer. Seriam os mais infelizes de todos os homens.

Logo, pode-se afirmar que o cristianismo é a fé na ressurreição: o cristão só pode ter comunhão com o Pai porque Cristo ressuscitou, a garantia de que o pecado deles foi perdoado só aconteceu porque Cristo ressuscitou e eles só têm esperança porque Cristo ressuscitou! Como escreveu Calvino:

“A fé dos cristãos não é louvável porque eles creem no Cristo que morreu, mas sim, porque creem no Cristo que ressuscitou. Pois também o pagão acredita que ele morreu e te acusa, como de um crime, o teres acreditado num morto. Que tens, portanto, de louvável? Teres acreditado que Cristo ressuscitou e esperar que hás de ressuscitar por Cristo. Nisto consiste uma fé louvável. ‘Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo’ [Rm 10.9]. Esta é a fé dos cristãos.”[2]

A amnésia da ressurreição torna o cristianismo igual a outras filosofias e impossibilita os cristãos de viverem, na prática, em harmonia com o evangelho em que creem. Portanto, fale sobre a ressurreição na sua exposição do evangelho e viva em sintonia com ela, como escreveu Paulo em Colossenses 3.1-2,5,12:

“Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra. […] Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é a idolatria. […] Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade.”

Para terminar, concordo com  que Jeremiah Burroughs escreveu: “há um céu na alma do piedoso”, pois as atitudes dos piedosos concordam com as coisas do alto e valorizam a ressurreição de Cristo.

 

[1] GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. Pág 604

[2] FERREIRA, Franklin. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007. Pág 655