Ao comemorarmos o domingo de Páscoa muitas de nós lembramos do significado que ela traz, a ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, a despeito da sua sublime importância – já que sem ela, a morte de Jesus seria apenas mais uma – eu e duas amigas abordaremos nessa série os três dias mais injustos, dolorosos e ao mesmo tempo alegres para toda humanidade.

A Páscoa não se resume apenas ao domingo, dia da ressurreição, mas envolve todo um cenário. Quero desenvolver um pouco mais nossos conhecimentos acerca da prisão de Jesus. O que vocês sabem sobre isso? Talvez que Judas (um dos doze discípulos) com um beijo O traiu e Ele foi levado por um grupo de soldados? É verdade, isto aconteceu, porém a verdade pascal vai muito além disso. Por isso, quero iniciar com a narração dos últimos dias de Jesus até Sua prisão de fato.

Depois de ter passado a maior parte de Seu ministério terreno na região da Galiléia, nos últimos seis meses que antecederam Sua morte, Jesus esteve boa parte do tempo na região da Judéia e da Peréia. Nesse período, Jesus passou os piores momentos de todo Seu árduo trabalho por aqui, onde a perseguição tornou-se cada vez mais intensa, por meio de uma forte oposição.

No sábado, seis dias antes da Páscoa, Jesus foi para Betânia (na Judéia – Jo12.1), lugar costumeiro de descanso e refrigério para Ele. Provavelmente, ficou na casa de Maria e Marta, irmãs de Lázaro, o qual há pouco tempo havia sido ressuscitado por Ele (Jo 11). Depois de vários milagres, com destaque para essa ressurreição, muitos judeus creram em Jesus e ansiavam vê-lO. Ao mesmo tempo, todavia, os principais sacerdotes estavam indignados e procurando formas de matá-lO (Jo 12.10). Jesus descansou nesse dia, se preparando para os dias mais emocionantes, intensos e derradeiros de todo Seu ministério terreno.

Jesus então caminhou até Jerusalém. Cumpriu a profecia de Zacarias 9.9 ao entrar lá de forma triunfante, em um jumentinho (isso serviu para mostrar que Sua autoridade não estava nos grandes cavalos de guerra usados pelos reis da época como demonstração de poderio bélico), e foi aclamado por muitas pessoas.

Na terça-feira, Jesus enfrentou vários conflitos. Ensinou-os sobre a verdadeira fé ao mostrar a figueira ressequida que Ele havia amaldiçoado um dia antes. Os sacerdotes tentaram engodar Jesus por meio de perguntas sutis no templo, porém Ele mostrou de forma clássica, delicada e sábia Sua autoridade, superioridade e grandeza. Então, logo após isso, fez um discurso severo e contundente sobre os fariseus hipócritas que estavam ali tentando atacá-lO. Adiante, os evangelhos narram o sermão profético feito por Jesus no Monte das Oliveiras para alguns de Seus discípulos, contando o que aconteceria nos últimos dias.

O complô e armações dos sacerdotes junto com o Sinédrio não cessaram, eles planejaram de forma veemente e certeira como matariam o nosso Senhor Jesus Cristo (Mc14.1,2), e Judas aproveitou para tornar-se cúmplice deles (Mc14.10,31). E nesse mesmo dia Jesus anunciou a seus discípulos que seria traído e crucificado (Mt26.1,2).

Quinta-feira, dia que antecede a Páscoa, Cristo ensinou uma bela e eletrizante lição de humildade aos seus discípulos, ao lavar os pés de cada um deles de forma linda e misericordiosa. Logo após esse episódio, Sua angústia começou a ser intensificada quando anunciou aquele que O trairia. Depois disso, eles ceiaram juntos Sua a última ceia. Hoje, como corpo de Cristo,  a celebramos também de forma obediente para recordar tudo que Ele fez por nós e com a esperança, pela promessa, de que um dia faremos isso junto com Ele.

Em seguida, Jesus foi ao Jardim das Oliveiras, onde fez seu último discurso dizendo: “Vocês todos me abandonarão. Pois está escrito: ‘Ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas’ (Zc 13.7)”. Pedro fez uma ousada asseveração de que jamais negaria Jesus, mas Cristo o advertiu, afirmando que antes que o galo cantasse três vezes isso aconteceria (Mc 14.30).

Já no Jardim do Getsêmani (um de Seus locais prediletos), em profunda angústia e tristeza, foi orar com 3 de Seus discípulos e clamou: “Aba, Pai, tudo Te é possível. Afasta de mim este cálice, contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que Tu queres” (Mc14.36). Ao falar a expressão “Aba, Pai” Jesus demonstrou um grande relacionamento de intimidade com Deus Pai. Cálice no AT era uma metáfora comum da ira de Deus contra os pecados (Sl 75.8; Is 51.17-23). Dessa maneira, o cálice que Jesus tinha que beber era o castigo divino que Ele suportou no lugar dos pecadores.  Observação: Castigo pelo meu e pelo seu pecado, Jesus estava no lugar onde deveríamos estar, quer maior amor que esse?

Este é o cenário no qual começou a grande frustração de Jesus com Seus discípulos, vimos aqui o princípio das últimas horas de solidão do Mestre. Ele foi abandonado pelos Seus, pelas pessoas mais próximas e intimas d’Ele. Vimos isso ao longo da narrativa dos últimos momentos de Sua vida, quando nenhum de Seus discípulos continuou com Ele até o fim. Que grande sofrimento! (Mt 26.55-56), e então cumpriu-se o que fora dito no v. 27 referindo-se a Zacarias 13.7.

Já eram quase duas horas da manhã, quando Judas com um beijo (sinal de respeito com o qual os discípulos normalmente saudavam seus mestres) traiu a Jesus. Ele foi traído com um dos gestos mais bonitos que um discípulo poderia fazer ao seu mestre, um beijo. E tudo isso para que se cumprisse Sua missão e as profecias aqui na terra (Mt 26.47-56).

E então, iniciou-se o maior escândalo judicial da história. Como todos aqueles que creem devem saber, Jesus não havia cometido pecado, não havia burlado nenhuma lei, ainda que muitos tentem comprovar isso, o estudo diligente da Bíblia prova que mesmo os casos mais aparentes de contradição, na verdade são interpretados de forma errônea e podem ser explicados. Não havia motivos para Jesus ser preso (Mc 14.55,56), e verificaremos adiante:

Primeiramente, a Misnah 4.1, espécie de súmula do Sinédrio (suprema corte do povo judeu), proíbia qualquer ato judicial formalizado à noite e Jesus foi preso as duas horas da manhã, cometendo a primeira irregularidade.

O julgamento de Jesus ocorreu em duas etapas, a judaica e a romana, e cada uma dessas tinha três partes. O julgamento judaico começou com a audiência diante de Anás (antigo Sumo Sacerdote – Jo 18.12-14), a segunda parte foi diante de Caifás (Sumo Sacerdote, líder do Sinédrio) e a última perante o Sinédrio, nesse ponto houve mais duas ilegalidades no que se refere a julgamentos da época:

  1. Aconteceu no pátio do Sumo Sacerdote, possivelmente o Sinédrio se reuniu na casa de Caifás por motivos de sigilo (Mc 14.54). Lá não era a sede oficial do Sinédrio e aquele julgamento não poderia acontecer ali, mas sim no templo (segunda irregularidade).
  2. A acusação não poderia vir do próprio acusado:

 “O sumo sacerdote, rasgando as próprias vestes, perguntou: ‘Por que precisamos de mais testemunhas? Vocês ouviram a blasfêmia. Que acham?’ Todos O julgaram digno de morte. Então alguns começaram a cuspir n’Ele; vendaram-Lhe os olhos e, dando-Lhe murros, diziam: ‘Profetize!’ E os guardas O levaram, dando-Lhe tapas.” (Mc 14.63-65)

Mesmo assim, por não terem provas concretas, usaram dessa ilegalmente para que Jesus fosse morto ,terceira irregularidade. Junto deste evento, começaram as agressões físicas a Jesus – que não se comparam com o sofrimento espiritual.

A etapa judaica terminou com a decisão final (Mc 15.1), logo após começou a etapa romana. Houve três partes, (1) o julgamento diante de Pilatos, depois de (2) Herodes (Lc 23.6-12) e a (3) continuação e conclusão diante de Pilatos – que embora visse Jesus como inocente, temeu aos homens e O condenou, por meio de seu “lavar de mãos”, que o eximia da culpa e da responsabilidade pela morte de Jesus. E assim se cumpriu o que fora dito em Zacarias, Isaias, Jeremias e outros profetas do AT.

Reflita: Quem prendeu Jesus? Não foi Pilatos, nem Judas, nem foi a guarda romana. Mas sim, a nossa transgressão, o seu e o meu pecado O levaram para cruz (v. 6). Foi Deus Pai quem O levou até ela, “agradou a Deus moê-lo”. Para o Pai não nos condenar, Ele condenou Seu filho unigênito Jesus. (Se puder, pare um instante e leia Isaias 53.1-12).

Outro motivo que levou Jesus para cruz foi a vontade do Pai (vv. 4, 10). Jesus não foi um revolucionário que caiu na mão do sistema. Ele veio para morrer, sabendo que faria isso, não como uma contingência de Sua “vida subversiva”, mas como um ato volitivo de amor.

E ENTÃO, JÁ SABE RESPONDER A RAZÃO DE TUDO ISSO?

Toda a história do Universo aguardava por aquele momento, o Deus Vivo estava prestes a morrer! No nosso próximo artigo, olharemos com atenção para o momento da crucificação, não perca!!!