Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?” Respondeu a mulher à serpente: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’ “. Disse a serpente à mulher: “Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal”. Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se. Gênesis 3:1-7

Deus havia criado o mundo e colocado Adão e Eva dentro do Jardim do Éden. Lá eles tinham tudo aquilo que precisavam para viver. Eles tinham alimento e abrigo e, mais importante que tudo, um relacionamento face a face diário com Deus. Deus criou o ser humano para se relacionar com Ele. O ser humano foi feito um ser relacional – “não é bom que o homem esteja só” atesta isso. Ele deu apenas uma ordem ao homem: não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.

Satanás, em forma de serpente astuta, cultivou no coração de Eva, e posteriormente de Adão, uma dúvida sobre o caráter de Deus e a veracidade de Sua Palavra. Ele os fez duvidar da ordem que Deus havia dado e, buscando aquilo que lhe era “agradável aos olhos” e desejosa de “obter discernimento”, Eva e Adão desobedeceram a Deus.

O maior problema dos cristãos sempre foi e tem sido a dúvida. Duvidamos diariamente daquilo que Deus diz em Sua Palavra – “será que foi isso mesmo que Deus disse?”, “Ele não diria isso”, etc. Duvidamos não apenas das orientações dadas por Ele para o nosso viver, duvidamos também daquilo que é dito sobre Seu caráter, de Seu feitos e daquilo que Ele declara sobre nós, porque nos parece agradável fazer ou pensar de outro modo.

No entanto, “o salário do pecado é a morte”, como diria Paulo em Romanos 6.23. A palavra pecado significa “errar o alvo”. Quando fazemos o que é agradável aos nossos olhos, deixamos de fazer o que é agradável a Deus, e assim erramos o alvo. Na verdade, os nossos corações não desejam mesmo fazer o que é agradável a Deus. Paulo afirma que os homens, antes de conhecerem a Cristo, estavammortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência. Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos.” Efésios 2:1-3

Longe de Cristo, o ser humano segue o mundo, o conselho da serpente, o príncipe do poder do ar, e as vontades da própria carne, seus desejos e pensamentos pessoais. Assim como Eva, desejamos fazer aquilo que nos é agradável aos olhos, porém, “há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte.” (Provérbios 14:12). Paulo testemunha de si:

Descobri que o próprio mandamento, destinado a produzir vida, na verdade produziu morte. Pois o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, enganou-me e por meio do mandamento me matou. De fato a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom. E então, o que é bom se tornou em morte para mim? De maneira nenhuma! Mas, para que o pecado se mostrasse como pecado, ele produziu morte em mim por meio do que era bom, de modo que por meio do mandamento ele se mostrasse extremamente pecaminoso. Sabemos que a lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui vendido como escravo ao pecado. Romanos 7:10-14

A lei nos diz o que Deus espera de nós, qual o alvo a seguir. O pecado nos engana e nos leva a errar o alvo. Todo ser humano, apartado de Deus, está, de acordo com as Escrituras, morto. Escravizado ao pecado. Spurgeon uma vez expôs isto da seguinte maneira em um de seus sermões:

“Éramos, de fato, pobres como pequenas corujas e não tínhamos nada com que abençoar a nós mesmos. Éramos, como nosso hino tem dito “devedores falidos”. Tudo o que tínhamos antes foi vendido. Fomos deixados nus, pobres e miseráveis e não podíamos, por meio algum, encontrar um resgate.”

É nesse momento que Cristo entra em cena. Em Gênesis 3.15 Deus assegura à serpente: Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”. Este texto é chamado por muitos de o proto evangelho, a primeira boa nova. É a promessa de Deus de que haverá um resgate, de que tudo não está terminado para nós. Todo o restante das Escrituras, de Gênesis 4 até o nascimento de Jesus, é o relato de como Deus maneja a história, as circunstâncias, o caminho, para que este resgate aconteça.

No entanto, não é qualquer resgate que é necessário. A ira de Deus é manifesta contra os filhos da desobediência – todos nós (Ef 5.6). E não há nenhum justo – nem um sequer (Sl 14.1-3, Rm 3.10-11). Deus, ao instituir a Páscoa, em Êxodo 13, está para ensinar ao povo que é possível, de fato, haver perdão para o seu pecado, de maneira que o homem esteja em amizade com Deus novamente. Ali é instituído o conceito de substituição. É possível que alguém puro, sem pecado, substitua o pecador, assumindo toda a dívida, comprando o escravo para si. Para o povo de Israel, era necessário um cordeiro puro, branco, sem mancha, que tomaria o lugar do primogênito (e mais tarde do pecador) para que seu pecado fosse colocado sobre o animal e este fosse, então, morto. A morte física do Sacrifício é sinônimo de nossa morte espiritual.

Spurgeon diz que Deus não salva um pecador passando por cima da pena. “A pena foi paga. É a colocação de outra pessoa no lugar do rebelde. O rebelde deve morrer. Deus assim disse. Cristo, então, diz: ‘Serei o Substituto do rebelde. Ele tomará o meu lugar e eu tomarei o dele.’ Deus consente com isso.”

Paulo chama Cristo de “Segundo Adão”. Onde o primeiro Adão falhara, Cristo acerta.

“Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados… Assim está escrito: “O primeiro homem, Adão, tornou-se um ser vivente”; o último Adão, espírito vivificante.”  1 Coríntios 15:21,22,45

“Porque, como, pela desobediência de um só homem [o primeiro Adão] muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só [o segundo Adão], muitos se tornarão justos.” Romanos 5.19.

E eis aqui o resultado da morte de Cristo:

Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos. Efésios 2:4,5

Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz, e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz. Colossenses 2:13-15

Por isso, “onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?” O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” 1 Coríntios 15:55-57

Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Romanos 3:21-24

Que notícia maravilhosa. Não que tenhamos sido simplesmente perdoados, fomos justificados – a justificação apenas ocorre àqueles que tenham sido achados sem culpa. Quando alguém é preso por cometer um crime e vai ao tribunal para ser julgado, se lhe é provado não ter cometido o crime, ele sai justificado. No entanto, se cometera o crime, é culpado. Mesmo que lhe seja perdoada a dívida, mesmo que lhe seja retirada a condenação, ele continua sendo um criminoso, mas um cuja dívida foi perdoada. Mas quando Cristo nos substitui na cruz, Ele não apenas nos dá perdão, Ele nos torna inculpáveis! Quando Deus olha para nós, Ele vê Cristo. O homem fica sem pecado à vista de Deus e é aceito por Ele. Isto é a justificação pela fé. Quando cremos no sacrifício de Deus, e por fé, pela graça, somos salvos da ira de Deus, Ele passa a olhar para nós como a Cristo – puro, digno do mesmo amor e afeição, como Seus filhos.

É como se fossemos criados novamente. Como disse Jesus a Nicodemus em João 3, nascemos de novo. “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.” (Ef 2:10) Recebemos nova vida em Jesus. Ele, a Fonte de Água Viva, nos dá a vida eterna (I Jo 5.11, Jo 6.40, Jo 3.16).

Preste atenção nesta verdade, claramente explicitada por Spurgeon, sobre a suficiência definitiva do Sacrifício de Cristo:

“Tão inestimável era o resgate, tão esplêndido e magnífico era o preço exigido por nossas almas, que alguém poderia imaginar que seria maravilhoso se Cristo o tivesse pago em prestações, uma parte agora e outra depois. As dívidas dos reis eram, algumas vezes, pagas desta forma, uma parte imediatamente e outra em prestações, ao longo dos anos. Mas não foi assim com nosso Senhor, Ele se deu como Sacrifício de uma vez por todas. De uma vez Ele pagou o preço e disse: “Está consumado”, não deixando nada para ser concluído depois, por nós ou por Ele mesmo. Ele não barganhou um pagamento parcial e então declarou que viria novamente para morrer, ou sofreria novamente, ou que obedeceria novamente. Mas, sobre os pregos, até o último centavo, o resgate de todos os Seus eleitos foi pago e um recibo de toda a dívida foi dado a eles.”

Não permita que o inimigo coloque dúvidas em sua mente sobre o seu perdão. Seu relacionamento com Deus foi restituído por meio da morte e ressurreição de Cristo. Sua morte é suficiente para nós. “Ninguém pode condenar a quem Deus justifica, e ninguém pode acusar aqueles por quem Cristo morreu, pois eles estão totalmente livres do pecado.” Não há nada que possa nos condenar se estamos em Cristo.

Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte. Porque, aquilo que a lei fora incapaz de fazer por estar enfraquecida pela carne, Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança do homem pecador, como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne, a fim de que as justas exigências da lei fossem plenamente satisfeitas em nós, que não vivemos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Romanos 8:1-4

EM CRISTO, recebemos todos os benefícios de filho, e passamos a nos identificar com Ele. Somos adotados como filhos. Somos herdeiros e co-herdeiros com Ele. Somos redimidos para Ele. Somos predestinados para sermos para o louvor da Sua glória.

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado. Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus, a qual ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e entendimento. E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que ele estabeleceu em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos. Nele fomos também escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade, a fim de que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos PARA O LOUVOR DA SUA GLÓRIA. Efésios 1:3-12

  1. Charles Spurgeon. Justificação pela Graça – Sermão número 126. Trad. William Eustáquio. 1a edição. OEstandarteDeCristo.com, 2016. Texto original disponível em: SpurgeonsGems.org.