Tu, escondido amor de Deus, tão alto,

Tão fundo e insondável em seu avanço,

Velo longe a Tua luz e em sobressalto,

Ardo no íntimo por Teu descanso.

Meu coração dorido está. Não ouso

Seguir sem ter no Teu amor repouso

Gerhard Tersteegen

            Quem cresceu na igreja, muito provavelmente, já ouviu e leu este versículo de 1 João 4.7:

Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”

Muitos já tentaram definir o que é o amor, mas, à parte da Palavra de Deus, o paradoxo de simplicidade e complexidade do amor não pode ser explicado.  Mas, afinal, como se pode entendê-lo?

“Comumente se considera o amor divino como uma espécie de fraqueza amável, uma certa indulgência boazinha; fica reduzido a um sentimento enfermiço, modelado nas emoções humanas. Pois bem, a verdade é que nisto, como em tudo mais, os nossos pensamentos precisam ser reformulados e regulados por aquilo que é revelado nas Escrituras.”

 De acordo com 1Coríntios 13.1, o amor…

“…é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará”.

O amor, reduzido a uma perspectiva simplista, é uma soma de qualidades. Mas, o mais interessante, é que na língua original em que este versículo foi escrito, o grego koinê, a palavra AMOR é específica, neste versículo, para o relacionamento de Deus com os Seus filhos. Esse amor é…

  • Sobrenatural – algo que somente vem dEle e está relacionado com a vida espiritual de Seus filhos e com o relacionamento que desenvolvem exclusivamente com Ele (1Jo 4.7);

O amor de Deus é uma das grandes realidades do Universo, um pilar que sustenta a esperança do mundo. Mas é também algo íntimo e pessoal. Deus não ama as populações, ama as pessoas. Não ama as massas, ama os homens. Ele nos ama a todos e com um amor profundo que não tem início e não terá fim.”

  • Altruísta – é oposto do egoísmo, visa ao próximo, é serviço, é sacrificial (Rm 5.8);
  • Incondicional – a despeito do que Seus filhos são e fazem, Ele ama. Ama quem não é amável, quem não merece e quem não lhE responde muitas vezes (Dt 7.7-8);

“não há nada na criatura que possa atraí-lo e nos impulsioná-lo.”

  • Volitivo – é da vontade dEle nos amar, sem causar dano, desejando o bem (Jo 13.1; J0 13.34)
  • Ativo – Deus sempre demonstra seu amor, que não é estático, mas está sempre em ação (Rm 5.8; Jo 14.21)

Esse amor é a base para qualquer relacionamento, seja de amizade íntima (que na mesma língua original é conhecido por filos), seja de amizade mais superficial (storge), seja de um relacionamento de afeição romântica (eros), seja de um relacionamento de atração física e desejo sexual (epithumia).

Um dos pontos mais incompreendidos desse amor é o fato dele ser justo. Diante da perspectiva humana, o amor somente pode ser demonstrado em expressões de carinho, de aceitação, de afeição. Contudo, Deus continua sendo amor quanto é justo e corrige os Seus. Em Hebreus 12.6, está escrito que Deus disciplina quem ama. E isso é lindo, de verdade, pois demonstra que quem é disciplinado por Ele é, de fato, Seu filho, e que Ele se importa com ele como um Pai amoroso. Entender que a disciplina e o sofrimento são instrumentos dEle (Hb 12.6; 1 Pe 1.3,4; 1Pe 1.6,7) para levar Seus Filhos à maturidade acalma ansiedades e o coração. O contrário não traz paz e pode distanciar-nos do Pai, além de concordar com a sua santidade, pois Ele nunca tolerará o pecado de Seus filhos, mesmo que pensem que não o estão praticando ou que Ele não é bom.

Outro aspecto é que, apesar de estar escrito que Deus é amor, o contrário não é verdade. O amor não é Deus, porque o amor é a natureza de Deus, mas não é Deus inteiramente.

“O amor expressa algo que Deus é em Seu ser unitário, assim como as palavras santidade, justiça, fidelidade e verdade o expressam. Pelo fato de ser imutável, Deus sempre age conforme é, e como é uma unidade Ele jamais suspende um dos Seus atributos para exercer outro. Aprendemos muito a respeito do amor de Deus através dos demais atributos que nos são conhecidos. Sabemos, por exemplo, que sendo Deus auto-existente, o Seu amor não teve início, sendo eterno, o Seu amor é mais alto grau concebível de pureza imaculada; sendo imenso, o Seu amor é um amor incompreensivelmente vasto, profundo e sem praia, perante o qual nos ajoelhamos em jubiloso silêncio, e do qual a mais sublime eloquência se retrai, confusa e envergonhada.”

Na Palavra de Deus está escrito que ninguém tem maior amor do que o dEle, que deu sua própria vida em favor de seus amigos (Jo 15.13), que eram pecadores (Rm 5.8) e nada fizeram para merecer (Dt 7.7,8) esse amor (Jo 3.16). E ninguém pode separá-los desse amor (Rm 8.35). Esse amor é infinito (Ef 2.4), santo (1Jo 1.5), imutável (Tg 1.17), eterno (Jr 31.3) e lança fora o medo (1Jo 4.18). Além de tudo isso, somente porque Ele ama os Seus é que estes também podem amar (1Jo 4.19). Por isso, Seus Filhos, que foram perdoados (1Jo 2.12) e aproximados dEle (1Jo 3,1), somente por causa dEle, como resposta de gratidão a grandeza dEle, devem cumprir seus mandamentos (1Jo 2.3-6), deixando de amar ao mundo (1Jo 2.15), lutando contra o pecado (1Jo 3.3.4), amando-os uns aos outros (1Jo 3.11) e falando do Seu amor (Mc 16.15).

Assim, como filhas dEle, procuremos viver escolhendo agradá-lO e agradecê-lO por Seu grandioso amor e sejamos amorosas, sendo boas testemunhas do amor dEle.

“O que existia em mim que merecesse estima ou desse algum prazer ao criador? Fosse assim mesmo, ó Pai, eu sempre cantaria por veres algo bom em mim, Senhor.”

 

 


BIBLIOGRAFIA

TOZER, A.W.  Mais perto de Deus.

PINK, A.W. Atributos de Deus.

RYRIE, Charles. Bíblia Anotada.