Jesus lhes contou outra parábola, dizendo: “O reino dos céus é como um homem que semeou boa semente em seu campo. Mas enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou joio no meio do trigo e se foi. Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu.” Os servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: ‘O senhor não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio?’ “‘Um inimigo fez isso,’ respondeu ele. “Os servos lhe perguntaram: ‘O senhor quer que o tiremos?’ “Ele respondeu: ‘Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderiam arrancar com ele o trigo. Deixem que cresçam juntos até a colheita.” Mateus 13.24-30a (Que isto fique muito claro: isso é uma reflexão, não um tratado teológico.)

Foi quando eu estava aprendendo sobre a morfologia de monocotiledôneas que a parábola do trigo e o joio começou a fazer mais sentido. Eu pensava que, quando o pai da família impede que o joio fosse arrancado, era por causa de alguma dificuldade em distinguir o joio do trigo antes da frutificação. Então eu aprendi sobre o aspecto geral das raízes das monocotiledôneas, entre as quais estão o joio e o trigo. As raízes dessas plantas não são como a cenoura, com uma raiz principal que lança “raminhos” para absorver mais água e nutrientes do solo. A raiz de plantas como o trigo e o joio é difusa, um feixe de raízes finas que se espalham pelo solo. Isso significa que, quando tais plantas germinam próximas umas das outras, suas raízes ficam todas emaranhadas. Assim, arrancar uma planta seria arriscar arrancar ou seriamente danificar a outra. De fato, foi essa a razão porque o dono do campo não permitiu que o joio fosse arrancado, e eu, na minha familiaridade desatenta com a parábola, nunca tinha me atentado para esse detalhe do verso 29. Eu ainda estava assistindo a essa aula de Botânica II quando a ficha caiu.

Assim como as raízes das plantas em questão, a vida de cristãos está emaranhada com a de incrédulos. Assim como a retirada prematura do joio prejudicaria o trigo, se Deus resolvesse eliminar o mal do nosso meio, o desenvolvimento e a frutificação dos Seus filhos seria prejudicada. (A questão nem é só a conversão dos filhos de Deus, como eu ingenuamente pensava. Ele está esperando todos se converterem, como se nascesse joio e virasse trigo. Deus já sabe quem são os Seus—sabe desde antes da fundação do mundo [Ef 1.4], até porque foi Ele que plantou.) Continuando… E nós com tudo isso? Primeiro: estamos aqui no mundo, e a nossa presença no mundo modifica a nós e ele. Segundo: estamos emaranhados com as pessoas do mundo, e esse emaranhado modifica a nós e elas. De fato, modificar a realidade do mundo e das pessoas do mundo é um dos nossos propósitos no mundo, como diz Mateus 5.16. Semelhantemente, um dos propósitos da história e das pessoas do mundo é nos modificar, como diz Romanos 8.28.

Portanto, não temos argumentos para nos esquivarmos do envolvimento no mundo e na sociedade. Não temos como nos esquivar do envolvimento na cultura, na política, na educação, e assim por diante. Não podemos assumir uma posição “neutra” (leia-se “omissa”) em relação às coisas do mundo, inclusive, como veremos nos próximos artigos, na política. Temos o péssimo hábito de fazermos separação entre o “espiritual” e o “secular”, como se a nossa espiritualidade não permeasse todas as áreas da nossa vida. Então, para você lembrar o quão emaranhado você está com o mundo e as pessoas do mundo, você tem que se perguntar algumas coisas.

1. A minha família me afeta? Minha casa é um lugar onde eu devo colocar em prática a minha salvação? A minha casa é um lugar onde eu deva revelar e promover a graça e a justiça de Deus para a glória de Deus?
2. O meu ambiente de trabalho me afeta? Meu emprego é uma circunstância em que eu devo colocar em prática a minha salvação? Meu emprego é uma circunstância em que eu deva revelar e promover a justiça e a moralidade de Deus para a glória de Deus?
3. A cultura local me afeta? A cultura local é uma circunstância em que eu devo colocar em prática a minha salvação? A cultura local é uma circunstância em que eu deva revelar e promover a justiça e a beleza de Deus para a glória de Deus?
4. A política local (e mundial) me afeta? A política é uma circunstância em que eu devo colocar em prática a minha salvação? A política é uma circunstância em que eu deva revelar e promover a justiça, a ordem, a moralidade e a graça de Deus para a glória de Deus?

Convenhamos. Estamos cercados, envolvidos, inseridos, emaranhados no mundo e nas coisas do mundo, que é o nosso campo de atuação como filhos e servos de Deus. Não fomos salvos para assumir um estilo de vida monástico! Fomos salvos para ser sal e luz, os quais, respectivamente, faz arder as feridas e revela sujeiras e falhas. E acredite – se nós não nos envolvermos com o desenvolvimento da cultura e da política (além da família e do trabalho), elas invariavelmente nos sufocarão, nos excluirão e se tornarão nossas inimigas.

Por Tirzah Fernandes Pinto