(Sei que, diante dos atuais candidatos à presidência, isso pode causar discussão. Por isso, peço que não tentem julgar a partir deste texto que estou induzindo você, leitora, a escolher um ou outro candidato. EU NÃO FAÇO PROPAGANDA POLÍTICA, especialmente num site que não é meu.)

“Nem tudo que é ouro fulgura,
Nem todo vagante é vadio…”

Quem já leu “O Senhor dos Anéis” deve lembrar do poema que apresenta Aragorn, futuro rei dos homens da Terra Média. Era um convite para não subestimar os de aparência rude e, menos explicitamente, para não superestimar os de aparência fina.

Nós temos a péssima tendência de julgar pelas aparências ou pelos rótulos. Nós interessamos mais pelos rapazes mais bonitos, damos mais atenção a pessoas que se vestem mais ou menos como nós, preferimos filmes deste ou daquele gênero e evitamos os de outros… Sem mencionar a imediata camaradagem que surge ao descobrir que se torce para o mesmo time de futebol. NÃO ADIANTA NEGAR. Somos tendenciosos por natureza, e tem muita gente que se aproveita disso.

Veja o caso da propaganda política. O candidato é apresentado como o campeão do povo, o arauto de um futuro brilhante, blá blá blá blá blá. Toda a campanha é projetada para apelar à tendenciosidade natural do homem, para criar identificação com os gostos e os desejos do eleitor.

É igual ser apresentado a alguém interessante num casamento. Quase não vale – está todo mundo arrumado, com roupinha bonitinha, perfumado e se comportando super bem para não ficar mal na fita. A impressão dificilmente seria a mesma se você encontrasse esse alguém interessante num dia de faxina. Lá está ele, com roupa confortável e suja, possivelmente descabelado, cheirando a produto de limpeza e sabe-se o que mais, etc. Ai que vergonha… Mas pelo menos você vai saber que o cara limpa a casa de vez em quando. Quando você quer conhecer alguém de verdade, você não o procura num casamento. Pegue ele em casa de surpresa, preferencialmente no meio de uma tarefa.

Por isso, meu primeiro aviso é, quer você assista à propaganda eleitoral gratuita obrigatória ou não, procure informações sobre os seus candidatos em outras fontes – jornais, internet, estatuto do partido, blogs jornalísticos, etc. “Oras bolas. Não tenho tempo para gastar com isso.” Eu não estou dando um checklist, mas sugestões de fontes alternativas. Na atual conjuntura das coisas, está quase fácil pegar os partidos fazendo faxina, tendo que lidar com denúncias de corrupção, incompetência, etc. Aproveitem o tanto de lama que está sendo jogada no ventilador para ver as atitudes dos candidatos e dos partidos diante de tanta roupa suja – quem se esquiva da tarefa, quem tenta empurrar sua pilha de lama para o tanque do outro, quem esconde ou queima a roupa suja, que lava mal, quem lava bem e quem joga mais lama na roupa dos outros para parecer mais limpo. Fique de olho.

Meu segundo aviso é (ai, céus) tome cuidado para não dar seu voto a um candidato MERAMENTE porque ele professa a mesma fé que você. Não estou dizendo que esse não deva ser um critério de avaliação, mas que esse não deve ser o ÚNICO critério. Não podemos pensar que uma pessoa é capaz de assumir um cargo só porque é cristã. Meu sobrinho é cristão, mas não é, em hipótese alguma, capaz de assumir qualquer cargo. Até porque ele só tem seis anos.

Temos o péssimo hábito de imaginar que SÓ porque uma pessoa é crente, mulher, negra ou qualquer outra distinção, ela será melhor do que os outros. Quando a ex-presidente se candidatou, teve muita gente que votou nela só pelo fato de ela ser mulher. Até parece que ser mulher lhe conferia mais competência… Da mesma forma, tem muito crente por aí querendo votar neste ou naquele candidato só porque é cristão. Acha que o fato de o candidato ser cristão lhe dá vantagem sobre os outro, ou que isso resultará na imediata benção de Deus sobre tudo que o candidato fizer. Por acaso nunca viram irmãos mal sucedidos, não? Já vi alguns, e o motivo do mau sucesso de alguns deles foi incompetência.

Eu até recomendo que tome cuidado especial com os que usam sua fé como bandeira. Eles mesmos possivelmente estão se enganando, pensando que suas fé, ética e coragem compensarão pela inexperiência ou imperícia. O problema é quando esses tais cristãos da arena pública pisam nalguma jaca. E é bem possível que pisem – afinal, são pecadores como qualquer um de nós. Eles também são suscetíveis ao pecado, à incompetência, à má administração dos seus recursos e os dos outros. E daí, como fica o testemunho desses cristãos? Como ficam aqueles que os apoiaram? Vão morder a língua e postar “Não me representa” por onde passar?

Não podemos esquecer que o fato de uma pessoa ser incrédula não a impede de ser sábio e/ou instrumento nas mãos de Deus para fazer o bem (2Cr 36.22, 23). Inversamente, o fato de uma pessoa ser piedosa não a impede de fazer besteira (1Cr 21). Veja mais este exemplo de 2 Crônicas 35.20-27.
Josias era um super rei, piedoso, dedicado e interessado no bem do seu povo. Até eu teria feito campanha para um homem assim. Porém, em seu zelo, ele foi se envolver com uma briga que não era dele. O rei do Egito, que até onde eu saiba não cria no Deus verdadeiro exceto por conveniência, muito sabiamente aconselhou Josias a não se meter. Josias teimou, se meteu e se estrepou – morreu, na verdade.

Na atual conjuntura das coisas, precisamos ser muito mais criteriosos e muito menos superficiais. Leve em consideração mais fatores do que apenas os rótulos que os candidatos reivindicam. Leve em consideração seu histórico de atuação, sua experiência, a ideologia do seu partido, o padrão ético do partido… Talvez esta seja uma situação em que tenhamos que exercitar toda essa criteriosidade para escolher o menor de todos os malas… digo, males.

PS: Caso você, depois de pesquisar e orar a respeito disso, decidir votar num candidato cristão, assuma também o compromisso que dar sequência a sua escolha com atos que favoreçam esse candidato. Ore por ele regularmente e use os canais disponíveis para o encorajar e edificar. São formas simples, porém, valiosíssimas de ajudá-lo a se manter firme em meio à corrupção que assola os vários níveis do governo.

Por Tirzah Fernandes Pinto