Quantas vezes não nos pegamos dizendo: “Ai – política não é comigo”, ou “Eu não me meto com política não”. Tendemos a deixar o barco da política andar sem nosso envolvimento porque achamos que não vamos fazer diferença, porque não confiamos nos políticos ou, para os “mais espirituais”, porque sabemos que o mundo vai de mal a pior e estamos simplesmente esperando a volta de Cristo para Ele resolver tudo.

Imagino que nos tempos de Jesus tinha muita gente pensando mais ou menos nas mesmas linhas. Então, quando os discípulos dos fariseus e os herodianos foram perguntar para Jesus sobre o imposto a César, eles estavam basicamente perguntando a Ele sobre participação política. Afinal, quando se vive num regime absolutista, uma das únicas formas de um cidadão comum participar é pagando impostos. Iupiii.

A resposta de Jesus foi muito além da mera participação de que aqueles homens perguntaram, algo que talvez dê para explorar em outro artigo. Porém, ela deixa uma coisa clara: por pior que seja o governo ou o governante, isso não nos exime de nossas obrigações civis (supondo que elas não contradigam os mandamentos de Deus).

E Jesus não estava falando de nada novo, não. Ao escrever para os israelitas que estavam no exílio, Jeremias disse algo assim também.

“‘Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao SENHOR em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela.'” Jeremias 29.7

Mas nós não somos Israel no exílio. Não – somos igreja peregrina. O princípio, porém, é simples e válido. Quem quer viver em paz no lugar de sua “peregrinação” precisa contribuir para a paz desse lugar. Nos tempos de Jesus e, depois, dos apóstolos, contribuir para a paz local envolvia fazer o bem, ser bom trabalhador, pagar impostos, seguir a lei. No caso dos cristãos, havia mais uma coisa que contribuiria para a paz local: oração (1Tm 2.1-4). Esse era o resumo das obrigações civis daqueles tempos. Ainda assim, se prestarmos atenção na história da participação social dos cristãos, veremos mudanças radicais mesmo em tempos em que eleger governantes não era nem sonho. (Orfanatos, hospitais e escolas são apenas uma amostra do tipo de bem que cristãos podem fazer como bons cidadãos.)

Os tempos são outros, as obrigações civis são mais amplas, e as repercussões da nossa participação política são muito mais perceptíveis. Se queremos viver em paz no lugar da nossa peregrinação, isso envolverá fazer o bem, ser bons trabalhadores, pagar impostos, seguir a lei, votar e, idealmente, cobrar dos governantes eleitos as ações que eles prometeram. (Sim, há canais para esse tipo de cobrança e para sugestões.)

Neste Brasil, apesar de todos os pesares, temos a liberdade de usar canais legítimos de comunicação e participação na administração do país! Não só isso, esse é o dever do cidadão. Ou seja, não podemos nos contentar em escolher um candidato, votar nele e esquecer que ele existe. Podemos e devemos fiscalizar a ação dos candidatos eleitos (tem Diário Oficial para isso) e, quando um eleito desonrar o cargo para o qual foi eleito, podemos e devemos retirar nosso apoio para que nunca mais volte a ocupar o cargo que desonrou (ou qualquer outro que ele almeje).

Pense só: se no passado, sem voto ou voz, os cristãos fizeram tanto bem, quanto mais não poderíamos nós fazer se cumpríssemos devidamente nosso papel de cidadão! Vejamos.

  • Seguimos um padrão moral perfeito e podemos recorrer ao Espírito de Deus em busca de discernimento para reconhecer um candidato melhor ou, no mínimo, menos ruim. (Isso não vem por revelação especial ou sonho. Faça sua parte de conhecer a história do candidato, a ideologia e os projetos do partido).
  • Buscar ativamente o bem espiritual, físico e social do próximo é mandamento de Deus, não uma opção de passa-tempo. Deveríamos ser compelidos, por amor a Deus, a contribuir para o bem comum, mesmo com algo tão simples como entregar um folheto ou ajudar uma velhinha a atravessar a rua. (Veremos mais sobre isso em outro artigo).
  • Visto que cremos em um Salvador, deveríamos conseguir nos unir para termos mais influência sobre o governo. Em vez de cada igreja se recolher sob a manta de sua denominação, como um tipo de apartheid eclesiológico, deveríamos nos organizar e somar forças para defender os interesses e direitos dos cristãos como indivíduos e das igrejas como instituições.
  • Seja qual for a situação, na melhor E TAMBÉM na pior das hipóteses, sempre podemos recorrer à oração, clamando a Deus pelos governantes (1Tm 2.1-4) e pela prosperidade da cidade, do estado e do país (Jr 29.7).

Quem quer viver em paz no lugar da sua peregrinação precisa contribuir para a paz desse lugar. Não dá para só ficar quietinho sentado em cima das mãos esperando Jesus voltar. (Sim, isso também é uma deixa para outro artigo).

Por Tirzah Fernandes Pinto