A música é bem antiga e certamente já serviu de tema para uma infinidade de histórias românticas. Porém, a expressão serve como uma luva para retratar outro tipo de história, bem comum em relacionamentos de namoro e noivado: o isolamento.

Um menino extrovertido, cheio de amigos e que tem muito prazer em gastar tempo com eles. Uma menina alegre, bem integrada ao grupo de jovens da igreja e participativa no serviço cristão. Num dado momento se conhecem e se interessam um pelo outro. Trocam mensagens, se aproximam e começam a namorar. Como tudo é novidade e estão cada vez mais apaixonados, sem se darem conta, ambos se distanciam dos seus antigos núcleos de relacionamentos. Querem mais tempo juntos e trocam qualquer outro compromisso por oportunidades de estarem sozinhos. Os amigos se queixam do afastamento e não são ouvidos. As famílias fazem advertências, sem sucesso. O tempo passa, uma das partes começa a se sentir sufocada: quer mais liberdade para os seus antigos interesses, sente falta dos amigos, da família e dos programas divertidos que faziam antes. A outra parte, no entanto, não pensa assim; exige sempre mais atenção e as constantes cobranças e ciúmes desgastam a relação. O namoro termina, mas a paranoia não. Enquanto um se sente “alforriado”, o outro afunda-se no desespero ao perceber seu universo sendo engolido pelo buraco negro da solidão.

O relato é fictício, porém não é novo, nem incomum. Você já ouviu uma história semelhante; ou, quem sabe, já foi personagem desse drama. Por que um casal se isola? Quais os riscos e prejuízos decorrentes desse comportamento? Como podemos nos proteger para não cairmos na armadilha do isolamento? O Bíblia responde essas questões e nos oferece um caminho seguro para construirmos um namoro que cuja órbita é a glória de Deus e não nossas carências e inseguranças.

  • Por que um casal se isola?

O isolamento nem sempre é um comportamento premeditado, mas à medida que é repetido e intensificado, torna-se escravizador. O problema é que, em geral, o casal não admite que age assim ou que tal atitude seja prejudicial ao relacionamento. Pelo menos três motivos para isso: o egoísmo idólatra, a busca por aprovação, o desejo de controle.

Jesus fez um retrato bem desanimador do homem orientado por seus desejos naturais:

Aquilo que vem de dentro é que os contamina. Pois, de dentro, do coração da pessoa, vêm maus pensamentos, imoralidade sexual, roubo, homicídio, adultério, cobiça, perversidade, engano, paixões carnais, inveja, calúnias, orgulho e insensatez. (Mc 7.20-22, NVT).

É bem difícil admitirmos que somos assim, mas Jesus nos conhece melhor do que nós mesmas; nosso egoísmo não Lhe surpreende. Martha Peace escreveu o seguinte sobre relacionamentos que se transformam em ídolos para nós:

Ligações emocionais idólatras são aqueles relacionamentos que envolvem anseios desordenados por outra pessoa e uma crença que você não consegue viver sem ela. Esses relacionamentos geralmente envolvem imoralidade sexual. (…) O parceiro dessa pessoa no pecado realmente torna-se o deus dela, visto ser ela muito mais leal a seu parceiro do que ao Senhor Jesus. O desejo apaixonado dela pelo amante ilícito cresce na proporção em que seu amor pelo Senhor Jesus diminui – se é que alguma vez houve realmente amor por Ele.

“Queremos o que queremos, por isso fazemos o que fazemos”. Quando um casal de namorados desenvolve sua relação isolando-se do mundo ao seu redor, isso é uma evidência forte de que consideram-se, um ao outro, a única possibilidade de propósito e realização na vida. E quando o homem busca valor e sentido em algo ou alguém além do Senhor, a Bíblia chama isso de idolatria.

A busca por aprovação é outra característica comum em namoros que se desenvolvem no isolamento. Isso acontece porque nutrimos pensamentos errados a nosso respeito e a respeito da pessoa pela qual nos declaramos apaixonadas. Que pensamentos são esses? Alguns bem frequentes: “Eu não suporto ficar sozinha”; “Ninguém jamais me amará como ele”; “Se eu não lhe der atenção exclusiva e não fizer tudo o que ele me pede, ele me deixará”; “Me entregar sexualmente é uma prova do meu amor, afinal ele é o homem da minha vida”. É fundamental você discernir que todos esses pensamentos são mentirosos. Na realidade, eles são desculpas esfarrapadas para encobrir o seu desejo de ser aceita e amada a qualquer custo. São uma demonstração do seu ego lutando para ser visto e aplaudido. Timothy Keller escreveu:

…o ego é incrivelmente atarefado – ou seja, faz de tudo para ser notado. (…) Trabalhamos em coisas que não gostamos, fazemos dietas que detestamos. Realizamos todo tipo de coisas, não pelo prazer de realiza-las, mas apenas para construir um currículo que impressione.

Não sem razão, o apóstolo Paulo nos exorta a termos uma visão equilibrada a nosso respeito, firmada na fé que recebemos do Senhor e não em sentimentos, circunstâncias ou avaliação de terceiros: …“não se considerem melhores do que realmente são. Antes, sejam honest[a]s em sua autoavaliação, medindo-se de acordo com a fé que Deus nos deu.” (Rm 12.3). O desejo de agradar meu namorado não deve ser maior do que o desejo de agradar o meu Senhor. Caso contrário, me tornarei refém do desejo e, por consequência, do namorado.

A terceira motivo apontado como possível razão para o isolamento no namoro é a luta para manter o controle exagerado da relação. A manipulação pecaminosa é “usar palavras antibíblicas e/ou o seu semblante para intimidar uma pessoa a deixar você fazer o que quer. O tempo todo você sabe que se não conseguir o que quer, pelo menos pode, no processo, punir a outra pessoa.” Esse “ritual” só se sustenta nos muros do isolamento. Uma terceira pessoa – amigos ou familiares – facilmente perceberiam e repudiariam tal comportamento birrento e imaturo.

Discernir os motivos do isolamento é o primeiro passo para encará-lo como nocivo ao namoro. Contudo, é preciso mantermos a perspectiva de que o Senhor a quem servimos é paciente e misericordioso, ainda quando caminhamos fora dos limites que Ele estabeleceu para nós. Uma vez conscientes e arrependidas, podemos nos humilhar, clamar por socorro e confiar que seremos ouvidas:

Nosso Sumo Sacerdote entende nossas fraquezas, pois enfrentou as mesmas tentações que nós, mas nunca pecou. Assim, aproximemo-nos com toda confiança do trono da graça, onde receberemos misericórdia e encontraremos graça para nos ajudar quando for preciso. (Hb 4.15,16).

  • Quais os riscos e os prejuízos do isolamento?

Provavelmente, as histórias que conhecemos de namorados que se isolaram já nos oferecem vários exemplos claros dos danos potencializados por esse padrão de relacionamentos. Porém, é importante recorda-los para despertar nossa consciência da letargia produzida pelo pecado.

O isolamento compromete a comunicação eficaz entre o casal e favorece o relacionamento físico. Como já foi mencionado anteriormente, o isolamento oferece o ambiente ideal para os pecados sexuais. Namorados que passam a maior parte do tempo sozinhos, pecadores que são, verão a intimidade física se desenvolver rapidamente e será difícil manterem-se puros sexualmente. Conversar e dedicarem-se ao conhecimento de interesses em comum, dos projetos e sonhos um do outro, será a cada dia uma atividade menos interessante. Ler a Bíblia e falar sobre coisas espirituais então, xiiii… E se a comunicação é pobre, restará consolarem-se com a exploração física do parceiro que proporciona recompensa imediata.

O isolamento reforça o comportamento egocêntrico e elimina o interesse de servir às pessoas e à igreja. A razão disso é óbvia: o casal está totalmente comprometido em se satisfazerem – tempo e energia. As justificativas, geralmente, são do tipo: “Durante a semana temos tantas atividades… no domingo, precisamos de um tempo só para nós; é justo!” Ou esta: “Nossas famílias têm que entender que precisamos de privacidade; se não for assim, como poderemos nos conhecer de verdade e saber se combinamos?” O raciocínio é absurdo, mas para os que estão envolvidos pelo engano do pecado, faz todo sentido.

O isolamento favorece relacionamentos abusivos e violentos. Já foi mencionada a manipulação pecaminosa como um motivo para manter as pessoas afastadas. O que pretendo reforçar nesse ponto são os métodos empregados para manter o controle do parceiro. A bajulação é a estratégia mais sutil: “Amor, você é a melhor namorada que existe. Por isso, sei que não vai recusar um pedido meu.” Quando não produz o efeito desejado, avança-se para a próxima etapa: a súplica. “Por favor, meu bem, eu lhe imploro!” Se algumas lágrimas – de crocodilo – rolarem então… bingo! Mas há circunstâncias que esse melodrama não é suficiente – ou não combina muito com a personalidade dos envolvidos. Outros artifícios são sacados: acusações, ira, agressão física, atingindo o ápice nos crimes passionais.

Se a realidade descrita é conhecida para você, talvez arrepios de pavor percorrem o seu corpo agora. Novamente, desejo recorda-la que há provisão e livramento para os que buscam refúgio no Senhor:

Estou aflito e sofro; socorre-me, ó Deus, com tua salvação! (…) Os humildes verão Deus agir e se alegrarão; animem-se todos que buscam socorro em Deus. Pois o Senhor ouve o clamor dos pobres; não despreza seu povo aprisionado.” (Sl 69. 29, 32, 33)

  • Como nos proteger do isolamento no namoro?

A última pergunta a ser respondida é a que nos apontará o caminho de volta – para aquelas que estão prisioneiras em um namoro baseado no isolamento – ou a via mais segura para as que iniciarão um namoro no futuro e desejam fazê-lo para a glória de Deus. Considere cada sugestão e empenhe-se para adota-las, ainda que lhe pareçam – ou de fato alguém lhe critique usando esse argumento – “nadar contra a correnteza”. E não se engane: os princípios bíblicos para a nossa vida – inclusive quando aplicados ao namoro – não são restritivos; eles são seguros: “Andarei em liberdade, pois me dediquei às tuas ordens.” (Sl 119.45).

Proteja-se do isolamento preparando-se para um namoro futuro. Dedique-se à oração e ao estudo da Bíblia para descobrir as qualidades de caráter que você deve desenvolver antes de iniciar um namoro. Uma boa referência para começar pode ser o perfil da esposa excelente apresentado em Provérbios 31.10-31. Compartilhe esse propósito com um familiar ou uma amiga próxima a fim de receber encorajamento e orações pelo seu crescimento espiritual.

Proteja-se do isolamento sendo cautelosa ao iniciar um namoro. Tenha definidos em sua mente padrões claros e bíblicos para o relacionamento antes de envolver-se com alguém. Depois, dedique-se a desenvolver uma amizade sólida, antes de partir para o envolvimento físico. Faça isso na esfera pública – na presença de familiares e outras companhias. Observe os interesses, o comportamento e reações do garoto. Analise-o no ambiente familiar e no trato com outras meninas. Um Shrek não se transformará em príncipe do dia para a noite, só porque iniciou um namoro com você.

Proteja-se do isolamento exercendo os seus dons no corpo de Cristo. Não existe um campo de prova melhor para um futuro relacionamento do que o serviço cristão. Envolvam-se juntos em algum ministério da igreja; planejem e executem tarefas; avaliem-se mutuamente; ouçam críticas; enfrentem oposição; façam escolhas; tomem decisões; sofram e cresçam juntos. As máscaras não se sustentam por muito tempo nesse palco.

Finalmente, peça ao Pai que lhe conceda um companheiro para que irá protegê-la do isolamento, conduzindo-a para mais perto do Senhor Jesus.

Flórence Franco